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Epidemiologista explica isolamento social em pandemias

O isolamento social está no foco das discussões atualmente, em tempos de contaminação por coronavírus em todo o mundo. Especialista tira dúvidas.


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Números atualizados da Organização Mundial de Saúde dão conta de 372 mil casos e 16.231 mortos até agora, tudo atribuído à epidemia do coronavírus. (Foto: Shutterstock)

Nos últimos dias, a discussão sobre isolamento social, por conta da pandemia do novo coronavírus (causadora da doença Covid-19) passou a fazer parte da rotina de muitas pessoas. E termos como achatamento da curva epidêmica também se tornaram corriqueiros nas conversas. Mas o que isso significa exatamente? A Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) esclareceu o assunto numa entrevista com Hugo Dias Hoffmann Santos. Ele possui graduação em Ciências Biológicas, mestrado e doutorado em Ciências da Saúde na área de concentração de doenças infecciosas. Além disso, Hoffmann atua como professor do curso de Medicina em duas instituições de ensino em Mato Grosso e, também, como epidemiologista consultor em análise de dados. O especialista trabalhou durante oito anos em hospitais públicos com controle de infecção hospitalar, e produziu publicações internacionais em periódicos científicos. Atualmente realiza estudos epidemiológicos em diferentes linhas de pesquisa, tais como: fatores de risco para infecção hospitalar e inteligência emocional de estudantes universitários.

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O que é a curva epidêmica e qual a importância de a sociedade trabalhar para achatá-la, especialmente no caso do Brasil?

A curva epidêmica é um gráfico que elaboramos para monitorar a quantidade de casos de uma doença, ou seja, sua frequência, ao longo de um determinado período de tempo. Que pode ser em meses, semanas ou dias, dependendo da doença avaliada. Essa curva geralmente possui distribuição assimétrica. Inicia-se inicia por uma fase ascendente, depois alcança um platô em um ponto máximo e, então, chega a sua fase final descendente. Epidemiologistas, pesquisadores e entidades governamentais estão monitorando, em tempo real, o padrão de curva causado pelo vírus SARS-CoV-2.

Achatar a curva significa reduzir a frequência de casos para aquele momento do tempo e distribuí-los por um tempo maior. Precisamos adotar as medidas de isolamento social e de higiene por dois motivos: primeiro, para garantir que a quantidade leitos, recursos humanos e equipamentos médicos sejam suficientes para atender a todos que adoecerem e, segundo, para que tenhamos número menor de casos.

Questões econômicas

Já há questionamentos, de natureza econômica, quanto à continuidade do isolamento social por muito tempo. O que você, como especialista, diz a respeito disso?

Tudo o que está acontecendo no Brasil, nesse momento, possui caráter inédito na história de nosso país. A população não foi instruída corretamente e nem preparada previamente e o resultado disso foi pânico, ansiedade e medo generalizado. O cidadão foi forçado a ir para casa sem previsão de saída ou retorno à normalidade e isso pode ter gerado muita angústia, especialmente daqueles que exercem atividades econômicas diretamente afetadas pela baixa circulação de pessoas. O isolamento social é uma medida cientificamente eficiente, reduz a transmissibilidade, reduzindo a quantidade de casos e o risco de óbito. Mas este recurso custa alto para a economia do país e, por isso, deve ser utilizado com precisão. É correto estabelecermos 15 dias de isolamento que deve ser rigorosamente seguido. Ao final desse período, a curva epidêmica deve ser avaliada para identificarmos o ponto da epidemia que estamos e, então, se necessário, prorrogar o isolamento por mais 15 dias e realizar uma nova avaliação.

O que determina a diminuição da força de uma pandemia? Quando é que este fenômeno geralmente perde força?

Embora cada país possua suas próprias características, podemos utilizar a China como um modelo para compreender a duração do surto. Este país registrou 81.661 casos de COVID-19 até 24 de março, mas cerca de 90% destes já recuperaram a saúde e sobreviveram. No relatório da Organização Mundial de Saúde de terça-feira, 24 de março, a China apresentou apenas 146 casos novos. Um detalhe importante: como não há tratamento para o SARS-CoV-2, porque não existe antiviral que o elimine, não falamos em cura, mas apenas em recuperação. E a China já alcançou seu platô (segunda fase da curva epidêmica), e neste momento a curva está na fase descendente. O surto se iniciou na China em dezembro de 2019 e está alcançando a fase descendente cerca de quatro meses depois. Já o Brasil está completando hoje o 30º dia de epidemia desde o primeiro caso, logo, se seguirmos uma tendência semelhante, estaremos iniciando a fase descendente não antes da segunda quinzena de maio.