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Iniciativa da ADRA impulsiona inclusão econômica de mulheres na Bahia

Em tempos de fortes efeitos da pandemia, medidas de inclusão econômica a mulheres, como a da agência adventista, funcionam como um importante alívio.


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Dilma dos Santos Santana e o equipamento que transformou a sua vida: uma história de liberdade e inclusão econômica e da força da educação.

Basta fechar os olhos e as cenas aparecem na mente de Dilma dos Santos Santana, de 58 anos. Ela se vê saindo de casa às 5 horas, carregando as duas filhas pelas ruas de Paripe, um bairro praiano no subúrbio de Salvador, para vasculhar lixos e recolher latas de bebidas, papelões, plásticos, ou qualquer coisa que tivesse valor para vender e conseguir algum dinheiro.

Quando o sol já estava alto, Dilma se dirigia a uma ou outra casa que aceitasse pagá-la para lavar e passar roupas. Ou ainda ia pescar, quando a maré ajudava. Nem sempre conseguia, e, em dias assim, a comida sobre a mesa entrava na conta da incerteza, de uma improvável doação de alimentos ocorrida pelo despertar aleatório da sensibilidade alheia.

Do lixo ao diploma

A rotina de catar lixo durou seis anos. A história mudou quando a ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) apareceu na vida de Dilma. Foi em 2008, por meio de um projeto de geração de renda, em parceria com uma organização não-governamental suíça chamada Advent-Stiftung. E quando isso aconteceu, Dilma conheceu algo que até então não havia experimentado: a estabilidade de renda a um ponto que foi possível mudar a vida das filhas através da educação.

O sorriso é espontâneo quando ela começa a contar o que aconteceu. Por meio de um projeto de geração de renda para famílias economicamente vulneráveis, Dilma foi contemplada com um carrinho idealizado para vender hotdogs. O equipamento custou R$ 1.500,00. Foi o suficiente para uma revolução começar. Ela começou a vender lanches logo pela madrugada nas belas praias de Paripe e São Tomé de Paripe. No fim da tarde, seguia para a praça do bairro, onde permanecia trabalhando até a madrugada. Em um único dia, chegava a vender 400 hotdogs.

Fabiana (esquerda), formada em Enfermagem, e Liliane, formada em Arquitetura e Urbanismo: orgulho de Dona Dilma. (Crédito: Heron Santana)

O esforço valeu a pena. Com a responsabilidade econômica de sustentar a família, Dilma viu as contas se equilibrarem. O próximo passo foi investir na educação das filhas. E o momento mais emocionante foi quando viu o diploma de Fabiana dos Santos Santana, 25 anos, formada em Enfermagem; e de Liliane dos Santos Santana, 24, formada em Arquitetura e Urbanismo.

As duas mantêm sonhos de continuar estudando. “Neste momento estou estudando para prestar residência no Estado do Paraná, onde farei uma especialização em obras públicas e rodovia”, contou Liliane. Dilma vibra com a conquista das filhas. “Quero que elas estudem; namoro, só quando trouxerem o diploma do doutorado”, brinca, sem esconder o orgulho.

Renda para mulheres

A história de Dilma é inspiradora, mas não é a única relacionada à inclusão econômica de mulheres impulsionada por projetos da ADRA no Estado da Bahia. Nos últimos 5 anos, cerca de 23 mil pessoas foram beneficiadas pelos núcleos de desenvolvimento da agência humanitária, em parceria com a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Só no ano passado, form mais de 3 mil alcançados pelos cursos - cerca de 90% foram mulheres, segundo dados da ADRA.

Pelo menos 25 templos permaneceram abertos ao longo desse tempo, em horários onde não ocorriam encontros de adoração, para oferecer cursos profissionalizantes diversos, com apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc) da Bahia. Os cursos são diversos: corte e costura, artesanato, panificação, culinária. Aos 23 anos, Natália Silva de Jesus fez curso de decoração de festas, confecção de bonecas e arte com balões. O que aprendeu possibilitou que ela fizesse alguns trabalhos e ganhasse dinheiro. “Fiz uma decoração para uma festa, ganhei R$ 100,00”, disse. Ficou empolgada para participar de outros cursos.

Mulheres em curso de panificação, realizado em núcleo da ADRA em Salvador, em imagem tirada antes da pandemia. (Crédito: Heron Santana)

Pandemia e retomada

Com 25 núcleos em funcionamento, a ADRA precisou fechar os projetos, como medida de contenção da transmissão do coronavírus. Até o momento, cinco núcleos já retomaram as atividades, seguindo protocolos e cuidados sanitários contra a Covid-19. Cada retomada traz alívio nas comunidades. Com a pandemia, a inclusão econômica de mulheres ganhou ainda mais relevância.

Especialmente em um país que viu crescer os domicílios comandados por mulheres. Eram 25% dos domicílios em 1995, passaram a 45% em 2018, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Apesar disso, as mulheres foram as mais atingidas pela crise no mercado de trabalho por conta da pandemia. No segundo trimestre deste ano, segundo dados do IBGE, as mulheres representavam 46,3% da força de trabalho, o menor índice desde 1990, sinalizando que o desemprego afetou especialmente as mulheres.

“Desenvolver projetos para incluir mulheres na economia, trazendo resultados de transformação, como assistimos na vida de Dilma, é uma missão da ADRA que faz a diferença na vida de muitas pessoas”, disse Luiz Fernando, diretor regional da ADRA para Bahia. Luiz falou apresentando o exemplo de sua própria família.

A mãe, Lucia Maria Oliveira Ferreira, hoje com 75 anos, sempre foi responsável por sustentar os 10 filhos. “Minha mãe lavava roupas; saía de São Tomé de Paripe para Engenho Velho de Brotas, um trajeto de 30 km, de ônibus, às 4h da manhã, com uma trouxa de roupas lavadas; e já voltava com outra trouxa, sendo que no caminho passava na feira do bairro de São Joaquim, onde comprava amendoim e frutas de época para revendermos”, lembrou Luiz. Ele e os irmãos saíam para revender e quando voltavam, entregavam o dinheiro para Dona Lúcia. “Foi desse jeito que ela criou todos nós”, orgulha-se Luiz.

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