Dia Nacional da Adoção: ADRA acolhe crianças órfãs em BH
Agência humanitária adventista mantém seis abrigos para crianças e adolescentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Belo Horizonte, MG… [ASN] O Dia Nacional da Adoção, vivenciado nesta segunda-feira, 25 de maio, traz à tona a realidade das cerca de 30 mil crianças e adolescentes que vivem em abrigos no Brasil, segundo o último levantamento realizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), divulgado em 2013. Destes, somente 5.661 estão aptos a serem adotados, de acordo com o Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Os menores só podem ir para adoção quando são órfãos ou quando as todas possibilidades de reintegração à família de origem foram esgotadas.
Camila* está com 14 anos e mora em abrigos desde os dois anos de idade, quando sua mãe morreu. A adolescente não conhece o pai. Hoje, ela vive em uma das seis Casas de Esperança mantidas em Belo Horizonte (MG) pela Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA Brasil – Regional Minas Gerais). Na casa, Camila recebe acompanhamento psicológico, educacional e tem a possibilidade de fazer cursos profissionalizantes para ser inserida no mercado de trabalho quando completar 15 anos. Possibilidades que buscam dar caminhos melhores a quem viveu um passado de rejeição. “Eu já fui adotada com meu irmão, mas a pessoa que adotou a gente gostava mais dele, então pedi para voltar [para o abrigo]. Meu irmão está com essa família até hoje e não mais contato com ele”, relata a adolescente.
“No geral a gente faz um trabalho que elas possam ter uma vida melhor. O que a gente sempre fala é que não é porque elas viveram uma vida sofrida que elas têm que continuar sofrendo”, comenta a assistente social Rayssa Abreu, coordenadora da casa onde Camila mora com outras nove adolescentes.
O projeto de acolhimento a menores Casas de Esperança é realizado pela ADRA desde dezembro de 2013, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. Juntos, os seis abrigos têm capacidade para acolher 90 crianças e adolescentes. As casas contam com assistentes sociais, psicólogos e educadores. Além de moradia, as crianças e adolescentes recebem acompanhamento médico e participam de cursos e artesanato, música, informática e atividades de lazer.
De acordo com o diretor regional da ADRA Minas Gerais, Noedson Dornelis, além de cuidar das crianças e adolescentes, as Casas de Esperança têm o intuito de transformar a trajetória dos familiares dos acolhidos. “Abrigamos crianças e adolescentes órfãos e outros que estavam ameaçados até mesmo pelos próprios pais. A iniciativa protege esses menores e tenta transformar a vida destas famílias, por meio de orientações e de acompanhamento psicológico e social”, explica Dornelis. Para isso, os organizadores do projeto buscam conhecer a realidade das famílias e viabilizar o retorno das crianças e adolescentes ao lar de origem, desde que os parentes comprovem que restabeleceram a capacidade de cuidar dos menores.
Os esforços realizados pela ADRA para reintegrar o menor a família ou para incentivar a adoção são motivados pelo fato de que, mesmo as crianças tendo as necessidades básicas atendidas, passar a infância longe de uma família pode trazer prejuízos para o desenvolvimento dos menores. É o que constata a psicóloga Karina Alves, que trabalha em uma das casas de acolhimento da ADRA. “Por mais que a gente faça o melhor, [os abrigos] não têm as características de uma família. Às vezes acontece da criança passar de uma fase da vida para outra estando acolhida. Nesses casos, observa-se que algumas questões cognitivas ficam defasadas. E, além de tudo isso, fica o questionamento ‘por que eu estou aqui?’, então isso é trabalhado logo que ela chega [ao abrigo]”, enfatiza a psicóloga.
Quantidade de pretendentes que querem adotar também é grande
O número de interessados em adotar é quase seis vezes maior que o número de crianças e adolescentes aptos para adoção no Brasil. Hoje existem 33.629 pretendentes inscritos no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Para a assistente social Silvana Melo, da Vara Cível da Infância e Juventude de Minas Gerais, o processo se torna lento porque ainda existe uma grande diferença entre o perfil de menor que as famílias procuram para adotar e o perfil dos menores aptos para adoção. “Hoje a gente tem uma incidência maior de famílias que desejam meninas. Ainda se mantém um maior interesse por crianças saudáveis de cor branca ou parda e em geral não aceitam grupos de irmãos. Por isso que existe esta incongruência entre o número de elegíveis a adoção e de famílias interessadas, porque essas crianças elegíveis não têm um perfil compatível com o desejo dessas famílias”, afirma Silvana.
Assista ao vídeo da reportagem:
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=77QSzTUtvJs]
*O nome foi trocado para preservar a identidade da entrevistada
[Equipe ASN, Fernanda Beatriz]