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Casas de Acolhimento ajudam a dar novo sentido à vida de crianças e adolescentes

Agência humanitária adventista mantém iniciativas em vários pontos do País para levar esperança a quem sofreu maus-tratos.


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Mais de 80% dos casos de abuso sexual infantil ocorrem dentro de casa, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (Foto: Shutterstock)

Quais são as primeiras memórias que você possui de sua infância? As primeiras imagens que você encontra são de abraços, colo ou talvez de amor fraternal? Para milhares de crianças e adolescentes, as primeiras lembranças recordações que deixarão cicatrizes por toda a vida.

Desde criança, Juliana do Rosário vivenciou na pele a rotina de uma criança que sofre violações de direitos e maus-tratos. Sofreu abusos sexuais pela mãe e pelo padrasto quando morava com eles. No curto tempo que ficou na casa de seu pai biológico, passou pelas mesmas atitudes abusivas. Devido ao descaso familiar que sofrera, aos 16 anos de idade foi encaminhada para o Acolhimento Infantil em Vitória, no Espírito Santo, que é coordenado pela Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) em parceria com a Prefeitura Municipal, desde 2001.

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A chegada da criança ou adolescente em um novo ambiente sempre é um marco em sua vida, que geralmente é evidenciado por um rostinho assustado. Mesmo o início sendo desafiador tanto para a equipe de profissionais quanto para o novo abrigado, o tempo vai desconstruindo as barreiras.

Mas ninguém passa pela vida sem criar vínculos. Por isso, muitas crianças e adolescentes que sofreram abusos e exploração sexual em sua vida se apegam à primeira oportunidade ao encontrar um amor genuíno e cuidado fraternal. Para a jovem Juliana do Rosário não havia esperanças, mas no Acolhimento Infantil um casal de cuidadores fez a diferença em sua vida.

Foi ali que ela encontrou pessoas que a amavam, proporcionando assim uma oportunidade de escrever uma nova história. “Em um momento rebelde, tivemos uma conversa longa, onde me propuseram uma mudança de vida. As pessoas lá dentro me ampararam. Eu ganhei um pai e uma mãe. Minha vida tomou outro sentido”, conta.

A oportunidade de escrever uma nova história

Juliana e o cuidador que a recebeu na casa de acolhimento, Maxwell Pereira de Lima (Foto: Divulgação)

Como resultado do impacto que a equipe de cuidadores teve em sua vida, Juliana, que desde criança sofreu abusos sexuais e descaso de sua família biológica, decidiu ser diferente daquilo que lhe foi ensinado em seu antigo lar. Aos 20 anos de idade, optou pela mesma profissão daqueles que fizeram a diferença em sua vida. Hoje ela é e colaboradora da ADRA e cuidadora do Abrigo de Vitória, o mesmo ao qual foi encaminhada durante sua adolescência. “Apesar das dificuldades há esperança. Eu entrei sem rumo e saí com uma família”, detalha.

Hoje ela dá assistência às crianças que passaram pela mesma dificuldade. Ela faz questão de deixar uma mensagem gravada no coração dos jovens que fazem parte do abrigo, pois entende a importância que esta profissão tem em sua vida. “Hoje eu me sinto bem porque eu consigo ajudar, de certa forma, e fazer diferença na vida delas, até porque dois cuidadores fizeram isso por mim lá atrás. Que elas não percam a esperança. Existem pessoas boas neste mundo que se preocupam com os menos favorecidos”, finaliza.

Importância de cuidar dos menores

Anualmente, em 18 de maio é lembrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Segundo a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, em 2019 o balanço registrou 42.585 denúncias pelo Disque 100. Abuso sexual (80,15%) e exploração sexual (14,85%) estão como as violações mais denunciadas. De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos, grande parte das violações são cometidas dentro de casa.

A Unesco afirmou recentemente que o fechamento de escolas impactou a vida de 1,3 bilhão de alunos em 186 países. No Brasil, essa interrupção obrigou crianças e adolescentes a perder o contato com adultos protetores. Existe o receio de que muitas crianças estão expostas ao aumento de tensões, maus entendidos dentro de casa, situações decorrentes da crise econômica, do estresse e de um maior consumo de bebidas alcoólicas. Com o intuito de ajudar a combater a situação, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi instituído oficialmente no País através da lei nº 9.970, em maio de 2000.

A ADRA tem realizado parcerias com as prefeituras e coordena os serviços que recebem crianças e adolescentes com idades de 0 a 18 anos incompletos, vítimas de abandono, violências e maus tratos, encaminhadas pelo Poder Judiciário e/ou Conselho Tutelar, em caráter provisório, até que seja viabilizado o retorno do acolhido ao seio familiar de origem ou, na sua impossibilidade, encaminhado à família substitutiva.

Além do Espírito Santo, nos Estados do Amazonas, Rio de Janeiro, Rondônia, Bahia e no Distrito Federal a agência opera nesta área de prevenção e auxilio direto a crianças e adolescentes em situação vulnerável. Em parceria com o Unicef, prefeituras desses estados e outros, um total de 634 crianças são atendidas mensalmente nos projetos, com o intuito de ajudar a melhorar a condição de vida destes menores.

No Espírito Santo, a ADRA atua em parceria com os municípios de Cariacica, Viana, Vila Velha e Vitória, na coordenação de Casas de Acolhimento Infantil. Cláudia Brandão é colaboradora da agência e coordenadora gerencial do Serviço de Acolhimento Institucional em Cariacica. Ela relata que muitas crianças e adolescentes chegam às Casas de Acolhimento a partir de negligencia, abandono, abuso sexuais, entre outros. “No geral as crianças chegam muito abaladas e chorosas, e as que já a entendem a situação chegam revoltadas querendo agredir os funcionários e as outras crianças”, relata Cláudia.

Segundo um estudo realizado pela Universidade de Vila Velha, normalmente, crianças e adolescentes abrigados experimentaram muitas formas de exclusão em suas vidas: o abandono, a violência doméstica, a privação econômica, social, cultural e política. Por isso, o trabalho realizado pelo Acolhimento Infantil é importante para oferecer melhores condições de vida e esperança a estas crianças e adolescentes.