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Igreja unida, Igreja forte 

Precisamos de uma Igreja em que a unidade seja um bem inegociável, e que esteja baseada na Palavra, envolvida no diálogo e apoiada no equilíbrio.


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Unidade na Igreja é algo idealizado por Deus e confirmado em Sua Palavra (Foto: Shutterstock)

"Portanto, se existe alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há profundo afeto e sentimento de compaixão, então completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor e sendo unidos de alma e mente" (Filipenses 2:1-2).

A Igreja Adventista do Sétimo Dia é conhecida por muitas características. Sua mensagem é bíblica, sua estrutura é sólida, seus membros são missionários e seu serviço à comunidade é relevante. Mas uma das marcas mais fortes é sua unidade. Estamos em 213 países do mundo, mantendo a mesma mensagem, estrutura e missão, que formam o tripé de nosso funcionamento. É esta unidade que prepara o terreno para a atuação do Espírito Santo, nos torna fortes e dá vida à missão.

Unidade não é o mesmo que uniformidade. É por isso que convivemos com diferentes culturas, ideias e estilos, dentro dos limites definidos pela Palavra de Deus. Como é emocionante ouvir a Igreja, em suas reuniões mundiais, cantar o hino “Oh! Que Esperança!”. Tantos idiomas, muitas diferenças, mas um só povo.

Na América do Sul somos 2,5 milhões de membros e quase 30 mil congregações. São realidades muito diferentes entre os países e também dentro deles. É um imenso desafio manter a unidade sólida, a mensagem pura e a missão forte. No entanto, como Igreja Adventista, estamos tentando fazê-lo da melhor maneira possível, apesar dos desafios. Trabalhamos com oração, diálogo e base bíblica. Buscamos honrar o nome de Deus em tudo.

Maneiras de se enxergar a Igreja

Com a chegada da pandemia do novo coronavírus e a ampliação da influência das redes sociais, nossa unidade foi arranhada. Infelizmente é uma realidade a que muitas organizações e denominações também estão expostas. A mensageira do Senhor já havia alertado sobre isso quando disse que “alguns imaginam que é seu dever ser reparadores da igreja. Seus sentimentos naturais têm prazer em procurar faltas e defeitos nos outros; observam cuidadosamente para ver se descobrem algo para censurar, e se tornam mais e mais estreitos em suas ideias, até estarem prontos a fazer de alguém, por uma palavra, um ofensor” (Ellen White, Ministério Pastoral, p. 268).

Estas pessoas, mencionadas por Ellen White, só enxergam a Igreja a partir de seu próprio ponto de vista. Entendem que sua forma de pensar é a única aceitável e que as ideias que defendem tão apaixonadamente são as únicas que devem ser seguidas e implementadas pelos líderes como solução para a Igreja. Defendem diferentes temas, muitos deles completamente opostos entre si.

A lista de discussões é grande, e envolve defensores de um novo modelo para o planeta terra, gente que questiona a divindade em suas diferentes formas e aqueles que impõem uma saída imediata das cidades. Outros pressionam a Igreja para que passe a lutar por bandeiras político-partidárias de esquerda ou de direita. Levam para o ambiente da Igreja os mesmos posicionamentos polarizados que têm provocado divisão e desgoverno na sociedade. Creem que, sem o uso da força, da mobilização da opinião pública, da revolução ou da desconstrução, a sociedade que desejam não será realidade. Adotam discursos que envolvem diferentes “ismos” ideológicos, que abordam problemas reais e que precisam receber atenção, mas que surgem a partir de caminhos equivocados para um movimento cristão.

Existem, ainda, outros grupos conflitantes. Uns defendem a soberania dos escritos de Ellen White em todos os temas, enquanto outros a rejeitam e ridicularizam agressivamente. Alguns querem uma Igreja mais genérica, sem conceitos proféticos, nem papel remanescente, enquanto outros lutam por suas interpretações proféticas pessoais, teorias conspiratórias e mensagens alarmistas com respeito ao fim do mundo.

Alguns insistem em uma Igreja aberta para aceitar o estilo de vida da sociedade de hoje, enquanto outros querem uma Igreja identificada com os métodos do passado. Há aqueles que só conseguem enxergar erros na Igreja, lutam contra sua estrutura e defendem um congregacionalismo adventista em que cada templo e pastor cuidaria de seus próprios recursos, estrutura e mensagem. Para estes, fica a lembrança: “[...] alguns têm apresentado o pensamento de que ao nos aproximarmos do fim do tempo, todo filho de Deus agirá independentemente de qualquer organização religiosa. Mas fui instruída pelo Senhor de que nesta obra não há coisa que se assemelhe a cada homem ser independente” (Ellen White, Testemunhos para Ministros, p. 489). Mas também há outros que resistem duramente a qualquer tipo de ajuste que busque tornar a Igreja mais ágil e eficiente, preferindo pensar que não temos qualquer  necessidade de melhorar como uma organização viva.

A lista poderia ser maior. Em resumo, cada lado defende sua posição intensamente: alguns com opiniões fortes, mas com respeito; outros com opiniões agressivas e de maneira desrespeitosa. Há, ainda, aqueles que não desejam o diálogo, mas a exposição pública como forma de pressão e promoção pessoal.

Ellen White é muito clara ao descrever pessoas assim: “Sempre houve uma classe [de pessoas] que, mostrando-se embora muito piedosos, ao invés de prosseguir no conhecimento da verdade, fazem consistir sua religião em procurar algum defeito de caráter ou erro de fé naqueles com quem não concordam. Tais pessoas são a mão direita de Satanás” (Ellen White, A Batalha Final, p. 58).

Os extremos são perigosos

As orientações bíblicas e o exemplo de Jesus mostram que o amor verdadeiro, o equilíbrio sincero e a fiel obediência à Bíblia, quando usados por Deus, são os reais agentes de transformação. Grupos ou pessoas que adotam posturas extremas e não são capazes de enxergar a Igreja e sua mensagem como um todo, tornam-se perigosos e causam um grande dano. Reações a uma atitude extrema costumam fortalecer o outro extremo. Assim surge a polarização e o efeito pendular ou de gangorra, que impede a Igreja de encontrar seu ponto de harmonia e equilíbrio.

Os extremos podem ser evitados com espírito de oração, estudo imparcial da Palavra de Deus e pesquisa profunda nos escritos inspirados de Ellen White. As tensões também podem ser evitadas quando o fórum escolhido para falar e o espírito demonstrado ao debater promovem o crescimento em vez da desconstrução.

Diálogo e foco na missão

Alguns que apresentam suas posições radicais já foram procurados por amigos, pastores locais ou líderes da Igreja para dialogar.  Uns conversaram, outros rejeitaram, e alguns ridicularizaram essas iniciativas. Alguns só aceitam conversar se for na condição de protagonistas ou se tiverem sua agenda totalmente aceita.

Você já pensou o que aconteceria se tivéssemos de dar razão a todas as ideias apresentadas, explicar todo o tipo de teorias de conspiração que publicam por aí, responder a cada falsa acusação sobre a Igreja e seus líderes? Ninguém mais faria outra coisa. O foco na missão seria comprometido e a unidade da Igreja seriamente abalada.

Infelizmente, "Satanás há de levantar adversários suficientes para lhes manter a pena constantemente ocupada, enquanto outros ramos da obra terão de sofrer. Devemos possuir mais do espírito daqueles homens que estavam reedificando os muros de Jerusalém. Estamos fazendo uma grande obra, e não podemos descer. Se Satanás for capaz de manter homens ocupados em responder às objeções dos oponentes, impedindo-os assim, de realizar a mais importante obra para o tempo atual, seu objetivo será atingido” (Ellen White, Obreiros Evangélicos, p. 376).

Respeito a todos os envolvidos em cada uma destas discussões e oro por aqueles que conheço por nome, mesmo sabendo que muitos alimentam sentimentos negativos em relação à Igreja e seus líderes por não receberem o apoio às suas ideias  ou o protagonismo que gostariam.

Porém, a Igreja vai continuar sua caminhada profética. Sempre buscando a unidade e respeitando pessoas e opiniões. Mas não pode se distrair com cada assunto, polêmica e discussão que aparece, muito menos substituir sua mensagem bíblica. Vamos colocar nossas forças em ensinar a verdade, pois nosso chamado é para “[...] batalhar diligentemente pela fé que uma vez entregue aos santos” (Judas 1:3).

Além disso, “a melhor maneira de lidar com o erro é apresentar a verdade, e deixar que as ideias estranhas se extingam por falta de atenção. Contrastado com a verdade, torna-se aparente a todo o espírito inteligente a fraqueza do erro. Quanto mais forem repetidas as asserções errôneas dos opositores, e dos que se levantam entre nós para enganar as almas, melhor será servida a causa do erro... Teremos de enfrentar dificuldades dessa ordem mesmo na igreja. Os homens farão um mundo de um átomo e um átomo de um mundo” (Ellen White, Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 147).

A Igreja não vai usar a mesma ética de combate, nem se intimidar diante de cada situação. Todos são bem-vindos para dialogar e podem procurar seus pastores e líderes locais para isso.

Por outro lado, manter o diálogo não significa perder a ordem. Precisamos proteger e respeitar os membros que buscam profundidade e estão abertos ao diálogo, sempre de forma respeitosa, equilibrada e dentro das orientações bíblicas. São eles que mantêm o corpo unido, a Igreja forte e a missão viva. Precisamos lembrar que "o mundo está a olhar com satisfação para a desunião entre os cristãos. Os infiéis com isso se alegram. Deus requer uma mudança entre o Seu povo. A união com Cristo e dos crentes entre si é nossa única segurança nestes últimos dias. Não tornemos possível que Satanás aponte para os nossos membros da igreja, dizendo: "Eis como este povo, que se põe sob o estandarte de Cristo, se odeia entre si! Nada temos que temer deles, enquanto gastam mais esforço combatendo-se mutuamente, do que na luta contra as minhas forças" (Ellen White, Conselhos para a Igreja, p. 42).

Ellen White alerta que Satanás é quem sugere que “a ordem e a disciplina são inimigas da espiritualidade; que a única segurança para eles consiste em seguir cada qual seu próprio rumo e de maneira especial permanecer separado das corporações de cristãos que andam unidos, e trabalham para estabelecer a disciplina e harmonia de ação. Todos os esforços feitos para se estabelecer a ordem são considerados perigosos, tidos como uma restrição da legítima liberdade” (Ellen White, Testemunhos Para Ministros, p. 29).

Aprendendo com as crises

As crises incomodam, mas também ensinam. Por trás de muitas delas existem questões não resolvidas, expectativas não alcançadas, problemas reais com a Igreja e que não terminaram bem, ou mesmo inimigos imaginários criados para poder alimentar um espírito de militância. Alguns se compararam a profetas do Antigo Testamento ou reformadores da Idade Média, mas facilmente se nota que já romperam com seus próprios valores espirituais.

Sem dúvida, Deus usará mensageiros especiais para fortalecer e melhorar Sua causa, mas eles serão conhecidos e reconhecidos, não pela força de seus argumentos, mas pela intensidade de sua consagração.

Sempre podemos crescer com as crises, por mais dolorosas que elas sejam. A Igreja, que normalmente está no centro das discussões, também cresce, aprende, amadurece e sai mais forte. Já enfrentamos grandes desafios no passado, bem maiores do que os atuais, mas em cada um deles Deus permaneceu no comando e colocou as coisas no seu devido lugar. “Devemos lembrar que a igreja, enfraquecida e defeituosa como seja, é o único objeto na Terra a que Cristo concede Sua suprema consideração. Ele vela constantemente com solicitude por ela, e fortalece-a por Seu Espírito Santo” (Ellen White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 396).

Há muitos temas em discussão hoje que, se tratados com equilíbrio e dentro de bases bíblicas, podem nos ajudar a fazer da Igreja um lugar melhor, mais receptivo, acolhedor e com oportunidades iguais para todos. Isso ajudará a aumentar nossa profundidade bíblica, intensificar o alcance de nossa missão e preparar um povo para a volta de Jesus.

Sem dúvida, temos muito a melhorar. Somos humanos e falhos. Não acertamos sempre, mas buscamos o melhor para a Igreja. O mundo, as pessoas e os problemas estão mais complexos e liderar, também, está cada vez mais complicado - muito mais do que parece para quem vê as coisas de fora ou de longe.

Mas o crescimento e a melhora acontecerão sempre em um ambiente de respeito, diálogo, oração e estudo da Bíblia. Não com uma postura de militância, exposição pública, agressão, promoção pessoal ou defesa de filosofias e ideologias que estão em choque com o “assim diz o Senhor”. Precisamos estar sempre “Prontos para ouvir, tardios para falar” (Tiago 1:19).

Apelo à unidade

Termino apelando a cada membro da Igreja para que leia esta mensagem com o coração aberto e sem preconceitos. Que ore mais do que tem feito até aqui, pedindo sabedoria para si mesmo e para a Igreja. Vamos continuar “fazendo tudo para preservar a unidade” (Efésios 4:3) e construir uma Igreja baseada na Palavra e no equilíbrio, na missão e no amor. Sempre certos de que "a união faz a força; a desunião enfraquece. Unidos uns aos outros, trabalhando juntos, em harmonia, pela salvação dos homens, seremos, na verdade, 'cooperadores de Deus' 1 Coríntios 3:9" (Ellen White, Conselhos para a Igreja, p. 42).

Sejamos cristãos profundamente bíblicos, fazendo com que nossa melhor contribuição para este mundo seja o cumprimento da missão de salvar pecadores. E, acima de tudo, ensinemos o evangelho com amor, misericórdia e alegria. Deus tem uma mensagem maravilhosa de esperança que não pode ser apagada por discussões em que o eu e a vontade própria acabam sendo o centro.

É hora de fortalecer nossa unidade para então oferecer às pessoas uma vida mais digna, uma fé mais profunda e uma esperança real de que, em breve, viveremos para sempre ao lado de Jesus. "Logo a batalha estará terminada e a vitória ganha. Breve veremos Aquele em quem se têm centralizado nossas esperanças de vida eterna. Em Sua presença as provas e sofrimentos desta vida parecerão como se nada fossem” (Ellen White, Profetas e Reis, p. 376).


Erton Köhler é presidente da Igreja Adventista para oito países da América do Sul.