Igreja Adventista aponta desafios e oportunidades de sua missão mundial
Queda nas ofertas e proposta de maior integração entre regiões do globo fizeram parte de relatório apresentado pela denominação.
"Nosso cuidado pelas regiões distantes nunca poderá ser deposto enquanto a Terra inteira não for iluminada com a glória do Senhor" (Evangelismo, p. 707).
Erton Köhler, secretário executivo da Associação Geral (AG), a sede mundial da Igreja Adventista, começou o Relatório da Secretaria no Concílio Anual de 2022 com este lembrete do propósito dos membros como cristãos e como povo de Deus no tempo do fim. Ele contou, no encontro que ocorreu de 6 a 12 de outubro no Estados Unidos, uma breve história do progresso da Grande Comissão e sublinhou que “o cristianismo foi criado para alcançar o mundo inteiro”.
Os adventistas do sétimo dia devem proclamar "o evangelho do Reino por todo o mundo" (Mateus 24:14). Embora as raízes da Igreja estejam na América do Norte, ela se tornou um movimento global. Hoje, apenas 6% dos membros estão na América do Norte, enquanto os 94% restantes se encontram espalhados pelo mundo.
Novos membros
David Trim, diretor de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa (ASTR) da AG, compartilhou os números e comparou os últimos 15 anos de dados. Antes da pandemia de covid-19, as adesões de membros excediam regularmente um milhão por ano. Contudo, em 2020, as adesões globais caíram para 800 mil, a menor que a Igreja viu desde 1997.
Contudo, a Igreja se recuperou quando em 2021, mais uma vez, viu as adesões ultrapassarem um milhão. Não apenas isso, mas tanto o evangelismo quanto o plantio de igrejas tiveram aumentos.
Em 2020, foram plantadas 1.736 novas congregações, que Trim chamou de "milagrosas em meio a uma pandemia”. Contudo, ainda foi uma queda de 29% em relação aos números pré-covid. Em 2021, esse número teve uma recuperação em relação aos números de 2019 e incluiu a fundação de 413 novos grupos organizados. No geral, o número de grupos organizados e igrejas experimentou um crescimento constante.
Fidelidade e apoio à missão
No entanto, essa mesma tendência ascendente não se estende a todas as áreas da administração. Embora os dízimos tenham se recuperado e até superado os números pré-covid, mostrando a fidelidade de membros em devolvê-los, o mesmo não aconteceu com as ofertas. Elas diminuíram, indicando o declínio na disposição dos membros em doar para os programas da Igreja, incluindo os de natureza missionária.
Trim destacou que ao comparar o equilíbrio entre dízimos e ofertas ao longo do último século, pode-se ver que em 1922 os membros deram, em ofertas, quase exatamente o que devolveram em dízimo. Gradualmente, ao longo dos últimos 100 anos, isso mudou. Hoje, as ofertas são pouco mais de um terço do que é recebido em dízimo. Sem dúvida, essa tendência de queda nas ofertas indica a importância de a Igreja colocar uma ênfase maior no discipulado, que inclui a mordomia.
Abandono da fé
Outra área que tem visto uma tendência negativa contínua é a perda de membros. Desde 1965, aproximadamente 42%, ou 4 em cada 10 dos membros, deixaram a denominação. Eles geralmente saem por causa de crises na vida, conflitos em sua igreja local e/ou por sentirem que seus pastores ou irmãos não sentem falta deles ou não os acham importantes. Com base em pesquisas conduzidas pela ASTR, a maioria desses membros saiu sem tomar uma decisão consciente de fazê-lo.
E o que se pode fazer para que os membros permaneçam? A resposta, conforme expressa por Gerson Santos, secretário associado da Associação Geral, está no chamado de Jesus para que Sua Igreja cumpra a Grande Comissão e faça "discípulos" (Mateus 28:19).
Com isso em mente, Santos ressaltou que "as igrejas locais devem ter como objetivo criar um ambiente acolhedor e atencioso para o crescimento espiritual no qual jovens, adultos e visitantes se sintam amados e apoiados". A Secretaria tem trabalhado em parceria com outros departamentos para desenvolver estratégias e recursos para ajudar as igrejas a assimilar, capacitar e discipular seus membros.
Uma dessas iniciativas são as cúpulas globais de Nutrição e Retenção, que se concentram em discipular, nutrir e recuperar membros. Santos encorajou os líderes da Igreja a serem intencionais. Ele resumiu, dizendo: "Nosso objetivo principal não é nos gabar da porcentagem de membros presentes, mas alcançar os não salvos em nossa comunidade e cuidar dos inativos em nossa irmandade".
Desafios mundiais
O Relatório da Secretaria do Concílio Anual de 2022 mudou o foco daqueles dentro da Igreja para aqueles ainda não alcançados. Mais uma vez, os delegados enfrentaram as estatísticas de que a maior parte do mundo, aqueles que vivem na janela 10/40, permanecem sem conhecer a Cristo.
Gary Krause, secretário associado da Associação Geral, destacou as estatísticas e megatendências que o mundo está enfrentando e que desafiam a missão da Igreja Adventista. São elas:
- Uma população global crescente. Até 2050, a maior parte do crescimento populacional acontecerá em apenas oito países. Cinco deles estão na janela 10/40.
- Uma população envelhecendo. Até 2050, a população de pessoas com mais de 65 anos será quase o dobro da de crianças com menos de cinco anos de idade.
- Migração internacional. Em 2020, havia 281 milhões de migrantes internacionais. Aproximadamente 21 milhões deles eram refugiados.
- Urbanização. Até 2050, prevê-se que dois terços da população mundial viverão em cidades.
David Trim aproveitou o momento para destacar a tendência histórica das missões. Ele explicou que os "anos dourados" do programa missionário estrangeiro da Igreja Adventista foi no quarto de século após a Segunda Guerra Mundial (de 1946 a 1970), quando 7.385 missionários foram enviados a outros países para alcançar pessoas. De 1969 a 1970, 970 novos missionários foram enviados ao serviço – o maior número em qualquer período bianual na história da Igreja.
Trim encorajou os líderes da Igreja dizendo que este aumento na missão adventista durante aquele período resultou de um esforço conjunto de administradores da Igreja, educadores, líderes médicos e membros da Igreja na América do Norte, Europa, África Austral e Australásia (território que engloba a Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e ilhas da parte oriental da Indonésia).
Ajustando o foco da missão
Diante desses tempos e desafios, Köhler perguntou aos participantes: “Como 22 milhões de adventistas do sétimo dia alcançarão quase 8 bilhões de habitantes neste mundo?”
Köhler compartilhou uma proposta elaborada pelo doutor Gorden Doss, professor emérito do Departamento de Missiologia do Seminário Adventista do Sétimo Dia na Universidade Andrews, para ajudar os líderes e membros da Igreja a "visualizar, focar e reorientar nossa missão internacional no século 21".
Este modelo considera os desenvolvimentos que ocorreram nos últimos 30-40 anos no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul. É um modelo que encoraja as Divisões (sedes administrativas da Igreja Adventista para um grupo de países) no Sul, que têm feito avanços consistentes na missão evangelística, a trabalhar cooperativamente com as Divisões do Norte, que experimentaram o efeito oposto.
Köhler incentivou os líderes a se concentrarem nas mais altas prioridades missionárias da Igreja – os grupos de pessoas e territórios menos evangelizados – e mover recursos e projetos missionários para localidades com menos capacidade missionária, incluindo membros, congregações, recursos financeiros e estruturas físicas.
Em vários departamentos da AG, foram criados recursos para ajudar a capacitar, treinar e enviar missionários, incluindo jovens, para missões estrangeiras. O Instituto de Missões existe para fornecer apoio transcultural à medida que os missionários enfrentam novas realidades e desafios. Podcasts, bem como oportunidades de treinamento online e presencial, ajudam esses novos missionários ao mesmo tempo em que apoiam outras entidades adventistas do sétimo dia em todo o mundo.
VividFaith e o Serviço Voluntário Adventista continuam a anunciar e recrutar para oportunidades missionárias. Notou-se que, neste momento, há mais voluntários do que oportunidades para os interessados em servir.
Os líderes da sede mundial adventista foram incentivados a fazer parcerias para disponibilizar oportunidades missionárias. Eles foram instados a se comprometer com a missão evangelística global e a reorientar as áreas de necessidade, não apenas em suas Divisões, mas em todo o mundo.
Chamado
Conforme expresso no Concílio Anual de 1964 por Walter Beach, que serviu como secretário da Associação Geral de 1954 a 1970, "somos uma Igreja missionária mundial – não apenas uma Igreja com missões em todo o mundo".
Köhler lembrou aos participantes que, à medida que a denominação avança, é preciso ter em mente que “a Igreja Adventista do Sétimo Dia não foi chamada para ser um estacionamento, mas uma plataforma de lançamento para missionários. Precisamos avançar com fé".
A versão original desta notícia foi publicada pela Adventist News Network.