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A última página

Um balanço dos desafios e vitórias da Igreja Adventista na América do Sul no ano de 2019.


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Título do artigo do presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma alusão à meditação escrita por ele em 2019.

Toda a virada de ano é uma ótima oportunidade para refletir no que ficou para trás. Tenho aproveitado últimos dias para isso, pois o ano de 2019 foi intenso e deixou muitas marcas. Se você tiver uns minutinhos, leia estas reflexões com atenção, como se fossem a última página da meditação diária Nossa Esperança.

Este ano começou animado, com o V Campori Sul-americano de Desbravadores batendo um recorde mundial de participantes (100 mil). O mês de setembro também foi igualmente festivo. Comemoramos os 125 anos de organização da primeira Igreja Adventista na América do Sul, em Crespo Campo, na Argentina.

Mas em meio aos momentos de alegria, surgiram violentas crises políticas e sociais na maioria de nossos países. Poucos se livraram de protestos e destruição, em um clima de polarização, enfrentamento e desrespeito.

Dias desafiadores

A Igreja também enfrentou dias difíceis que me fizeram sofrer, assim como inúmeras pessoas. O ministério e a liderança foram machucados com a perda de líderes, pastores e membros de forma dolorosa. Também tivemos de lidar com acusações falsas que mancharam a reputação de pessoas e machucaram a todos nós. Foi um período difícil, de oração, diálogo e jejum em busca de soluções equilibradas e justas para cada situação. Lamento muito por todo o sofrimento e tristeza que a Igreja enfrentou. Esteja certo de que, além de resolver o que passou, estamos trabalhando duro para que estas situações não se repitam. Isso não está em minhas mãos, mas posso fazer mais, junto com nossa equipe de líderes, para diminuir os riscos.

Tenho uma profunda gratidão por todos aqueles que, nos momentos mais difíceis, oraram muito, ofereceram conselhos, trouxeram equilíbrio e ajudaram a sustentar minhas mãos. Pessoas que viram em cada dificuldade um chamado à oração. Que reconheceram em seus líderes seres humanos, com cargas pesadas demais sobre seus ombros, e apareceram para ajudar. Entenderam o desafio de liderar uma Igreja tão grande em um tempo tão complexo, e ofereceram sua sensibilidade e espírito cristão.

Foi triste ver, também, pessoas aproveitando crises para espalhar falsidade, aumentar problemas, fazer vingança pessoal e expor negativamente a Igreja. Infelizmente, alimentaram o ódio quando poderiam ter sido instrumentos do Senhor para restaurar a paz.

Liderar uma Igreja com mais de 2,5 milhões de membros em oito países, culturas, realidades e contextos tão diferentes é uma tarefa complexa. A variedade de expectativas é imensa da parte de membros que desejam uma Igreja adaptada à sua própria visão. E esquecem que não somos uma organização qualquer, e sim uma Igreja a caminho do céu, lutando contra um inimigo que tem “grande ira pois sabe que pouco tempo lhe resta” (Apocalipse 12:12). Se não levarmos em conta essa realidade, gastaremos nosso tempo e energia apenas para resolver problemas e crises. Precisamos avançar com equilíbrio e respeito, manter nossos olhos no Senhor e o foco na missão. E sempre preservar a unidade, pois, como sugere um antigo provérbio africano, "a união do rebanho obriga o leão a deitar-se com fome".

Mais oração em face das dificuldades

Mesmo assim, existem pessoas capazes intelectualmente, mas feridas emocionalmente, que dedicam boa parte de seu tempo buscando problemas na Igreja, líderes e pastores, normalmente por conta de frustrações pessoais com a organização. Outras vezes, tratam situações específicas como se fossem crises generalizadas. Infelizmente, acabam encontrando gente curiosa para ouvir, ingênua para acreditar ou maldosa para distorcer.

Lembre que, geralmente, as pessoas contam sua própria versão da história e fazem acusações mostrando apenas o que lhes interessa. Vale a pena buscar mais informações com os responsáveis, usando respeito e equilíbrio, especialmente nos níveis administrativos onde as coisas acontecem. Cada história tem mais de um lado e cada acusação tem uma explicação. Se orássemos mais, aconselharíamos bastante e ajudaríamos muito.

Se realmente existem pessoas irresponsáveis, questões mal administradas e gente mal intencionada, precisamos jejuar e orar durante muitas madrugadas para que Deus ponha Sua mão, transforme corações, mude posições e faça a justiça que seja necessária. A obra é Dele e precisamos confiar em Sua direção na busca de qualquer solução, no esclarecimento de qualquer acusação e na manutenção de um permanente espírito de gratidão. Nick Vujicic, que hoje é palestrante internacional e que nasceu sem pernas e braços devido à rara síndrome Tetra-amelia, foi preciso quando disse: “Eu nunca encontrei uma pessoa amarga que estivesse grata; ou uma pessoa grata que fosse amarga”.

Embora tenha sido marcado por muitos desafios, 2019 foi um ano de muitas bênçãos. Por isso, o espírito da Igreja é de gratidão. Não podemos lamentar as dificuldades do passado quando nosso chamado é para alimentar uma grande esperança. A Bíblia já antecipou que os últimos dias seriam "tempos difíceis" (2 Timóteo 3:1), com seres humanos da pior espécie. Mas ela também prometeu o derramamento do Espírito Santo, como no Pentecostes, que despertará unidade, reavivamento e crescimento. Cada um poderá escolher de qual dos lados vai estar, para onde vai olhar e como vai se envolver.

Entretanto, o conselho da escritora Ellen White é direto: "Olhai para cima, vós que sois provados, tentados e estais desanimados; olhai para cima. É sempre seguro olhar para cima; é fatal olhar para baixo" (The Review and Herald, 17/02/1885). Ela ainda continua: “Falem de coragem, falem de fé, falem de esperança. Meu irmão e minha irmã no Senhor, tenham bom ânimo. […] Tão somente olhem sem cessar a Jesus, e tenham bom ânimo” (Filhos e Filhas de Deus – Meditações Matinais 1956, p. 191).

Dez bênçãos e vitórias de 2019

Vamos encerrar o ano olhando para cima e falando de fé, esperança e coragem. E a melhor maneira para isso é falar das bênçãos que Deus nos deu e que muitas vezes ficam esquecidas no meio das lágrimas. Por isso, escolhi compartilhar com você apenas dez das grandes bênçãos e vitórias que a Igreja recebeu do Senhor em 2019.

  1. Estabelecemos mais de 800 novos templos, número que vem se repetindo nos últimos anos e representa um terço de todas as novas igrejas adventistas plantadas no mundo inteiro. Graças a Deus pelo que Ele tem feito por aqui.
  2. Nossos batismos, até o mês de novembro, cresceram 9,48% em relação a 2018, alcançando 226.674 pessoas. Na Primavera (mês de setembro), tivemos o maior batismo de nossa história, quando 47.705 pessoas se decidiram por Jesus. Elas não são apenas números, são gente que foi alcançada, ensinada, transformada e batizada. Também representam uma multidão de membros envolvidos com a missão.
  3. Nosso crescimento real aumentou de 1,06% para 3,16% (fechamento do terceiro trimestre), o que significa uma forte diminuição na perda de membros em relação a 2018. Esta é uma informação muito positiva, apesar de ainda termos grandes desafios nesta área.
  4. Distribuímos mais de 22 milhões de livros missionários e já passamos de 200 milhões entregues na última década. Estas “sementes” estão espalhadas, levando muitas pessoas a Jesus, e no futuro levarão ainda mais pessoas à decisão.
  5. Estamos terminando o ano com mais de 1.100 jovens voluntários participando do projeto Um Ano em Missão (@OYiMdsa). Dá para imaginar o impacto na comunidade, nas igrejas e na vida pessoal destes jovens?
  6. Foram quase 200 mil envolvidos no projeto Missão Calebe, com jovens dedicando suas férias para fazer evangelismo, desenvolver projetos de missão, plantar novos templos e servir à comunidade.
  7. O evangelismo de Semana Santa envolveu 94.309 pontos de pregação e alcançou 472.160 amigos presentes às reuniões, com 49.418 pessoas batizadas. Foi um crescimento de 56% em relação a 2018.
  8. A Novo Tempo inaugurou a Escola Bíblica Digital e criou possibilidades para estudar a Bíblia de forma dinâmica e na velocidade da internet. Os números são impressionantes, com 8.500 lições de estudos bíblicos enviados por dia e um total de 13 mil cursos completos por mês. A Escola Bíblica tem crescido mais que nos anos anteriores graças à nova grade de programação da TV, o fortalecimento missionário da rádio e uma presença mais marcante na web. Hoje são enviados cerca de 1.100 estudos bíblicos por dia e aproximadamente 24 mil por mês.
  9. Os dízimos no Brasil, país com maior participação financeira na Divisão Sul-Americana, cresceram 1,5%, apesar de todos os desafios econômicos enfrentados durante o ano.
  10. Já temos três países com um clube de Desbravadores para cada igreja organizada: Brasil, Equador e Paraguai. Nove Uniões (sedes administrativas responsáveis por um ou mais Estados) já chegaram lá e duas já estão quase chegando. Alcançamos 333.650 desbravadores e 12.173 clubes, bem como 168.468 aventureiros e 7.662 clubes em nosso território. Os dados atualizados estão em www.encontreumclube.org.

Futuro com esperança

Sei que estas informações podem soar como números frios e irrelevantes. Contudo, eles são a maneira mais direta que temos para medir nossa realidade. Elas ajudam a revelar a situação espiritual, a unidade e a maneira como o Espírito Santo tem trabalhado na vida da Igreja. Afinal, com todas as nossas limitações, apenas se Deus estiver no comando da Igreja ela poderá avançar tão intensamente em tempos de forte secularismo, polarização ideológica, descrédito religioso e ataques violentos.

Sei que o texto foi longo, mas não poderia terminar o ano sem compartilhar estes sentimentos e informações com você. Temos uma infinidade de problemas menores e maiores, pelos quais oro intensamente e trabalho sem pausa, e no meio de tanta complexidade é preciso compartilhar a verdadeira realidade.

Concluo com meu coração cheio de gratidão a Deus, renovo minha dependência Dele e a vontade de fortalecer o discipulado e renovar o foco na missão. Minha gratidão especial, também, a todos os “anjos” humanos que estiveram ao lado da verdade, do equilíbrio, do respeito, e ajudaram a Igreja a avançar de maneira tão marcante. Não poderia encerrar sem dizer muito obrigado a todos os que abriram sua casa para que eu pudesse visitá-los cada dia de 2019, por meio das meditações diárias Nossa Esperança. Esta "última página" também é uma expressão de carinho e gratidão.

Convido você a iniciarmos 2020 unidos e oferecendo o melhor pela causa do Senhor, não permitindo que nada nos distraia, divida e distancie do papel profético que está em nossas mãos. O novo ano não será mais fácil do que 2019, pois estamos na reta final da história. Mas espero que ele seja muito abençoado, repleto de milagres e sustentado pelas mãos do Senhor. Vamos seguir em frente com os pés na terra e os olhos no céu, guardando "firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel" (Hebreus 10:23).


ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul