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Quebrando o Silêncio destaca altos índices de violência sexual na zona sul de São Paulo

Em apenas seis meses, região tem mais de 150 casos de violência sexual registrados, 72% contra vulneráveis


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Aventureiros participam de caminhada da paz na zona sul (Crédito: Wellington Andrade)

Sāo Paulo, SP... [ASN] De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), no primeiro semestre de 2017, apenas na zona sul de São Paulo, foram registrados 151 casos de violência sexual, 109 deles contra vulneráveis. Para conscientizar a população e orientar as vítimas, no último sábado, 26 de agosto, o projeto Quebrando o Silêncio contou com passeatas da paz, palestras e ações para as comunidades, com distribuição de 60 mil revistas, bexigas e cartilhas de orientação.

Realizado em oito países da América do Sul, este ano o projeto tem como temática o Estupro. No bairro do Pq. Novo Santo Amaro, região sul da capital paulista, cerca de 200 pessoas participaram de caminhada e distribuição materiais educativos aos moradores. “Nós queremos uma mudança, que as famílias consigam ir atrás e quebrar esse silencio. Como igreja, precisamos orientar os moradores dos bairros, instruir qual é a melhor saída para a situação que estão vivendo”, ressalta Jaqueline Santos, diretora do Ministério da Mulher da igreja adventista do Pq. Novo Santo Amaro.

Patrícia Andrade, que sofreu com três tentativas de abuso sexual, uma aos seis anos, com um vizinho, a segunda aos dez anos, com o irmão da sua madrasta e a terceira aos doze anos, com seu padrasto, contou seu testemunho e palestrou sobre a importância do diálogo entre pais e filhos, na igreja adventista do Capão Redondo.

“Hoje eu busco orientar a minha filha para que se um dia eu não estiver perto e alguém se aproximar com segundas intenções, que ela tenha confiança para me contar. Quando eu era criança e durante a minha adolescência passei por toda essa situação calada, pois tinha adultos que desmentiam o que eu falava. Eu tento orientar as mães e os pais para que eles sejam os melhores amigos que os filhos possam ter, para que tenham confiança neles”, orienta Patrícia.

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A psicóloga Juliana Assis conversou com a Agência Adventista Sul-Americana de Noticias (ASN), sobre as consequências dos atos de agressão, além do papel da família e da igreja para auxiliar a vítima.

Quais as consequências para foi vítima do abuso sexual?

Juliana: Todas as pessoas que sofreram com algum tipo de violência passam por um trauma. As consequências são tanto emocionais quanto comportamentais e podem desencadear sintomas depressivos, transtornos de ansiedade e síndrome do pânico.

E quando o abuso acontece durante a infância ou adolescência?

Juliana: O abuso contra crianças ou adolescentes pode desencadear um comportamento sexual promíscuo no futuro, no qual a pessoa não consegue se vincular com parceiros e acaba tendo uma vida sexual completamente desregrada. Também pode despertar um instinto agressivo em quem sofreu com ela. Existem dados que mostram que um abusador, principalmente do sexo masculino, provavelmente foi abusado. Como houve uma violação da sua integridade moral, física e psicológica, e como não foi tratado, essa pessoa pode se tornar um agressor.

Qual é o papel da psicologia ao tratar quem sofreu com algum tipo de trauma?

Juliana: O atendimento psicológico vem para tratar esses sintomas. Após entender o tipo de trauma, o que aconteceu antes, durante e depois daquela situação, é necessário que a pessoa se depare com a própria identidade, pensar em sua essência, para que tenha uma vida normal.

Qual a importância do apoio familiar?

Juliana: O apoio da família é primordial, mas se o que aconteceu foi no âmbito familiar, eles não têm condições de dar apoio para esta vítima, até por conta do ciclo de violência e da agressão. Nestes casos, é imprescindível que exista um apoio da igreja e a consulta de um profissional.

Como igreja, qual é o nosso papel para auxiliar quem sofre ou sofreu com algum tipo de agressão, seja ela física, psicológica ou sexual?

Juliana: A primeira coisa que nós precisamos fazer é acolher essa pessoa, pois quem sofre violência está passando por uma situação emocionalmente destrutiva. Nós precisamos, em um primeiro lugar, ouvir. A partir disso, quando essa pessoa já confiar que podemos oferecer ajuda, orientamos e encaminhamos , de fazer com que essa pessoa tente sair daquela situação que está. Mas no primeiro momento o que essas pessoas precisam é serem ouvidas e serem acolhidas. Esse canal de orientação é muito importante para que as pessoas busquem a ajuda necessária.

Sobre a violência física, existe alguma influência dos castigos na infância para desencadear um comportamento agressivo?

Juliana: Infelizmente sim. O castigo físico é um dos mais procurados para resolver os problemas disciplinares das crianças. Quando a criança é recorrentemente punida, ela aprende que toda vez que não estiver gostando de alguma coisa terá que agir com agressividade. Então é um ciclo, uma forma que você perdura a questão da violência. Existem outras alternativas como o dialogo, a conversa, a negociação e deixar as regras bem claras do que pode e do que não pode ser feito, principalmente dentro de casa. Ações preventivas devem ser utilizadas com as crianças, para que entendam qual é o seu papel na sociedade e o que se espera delas.

Denuncie

Criado em 2005, o Disque-Denúncia 180 (Central de Atendimento à Mulher) recebeu 1.133.345 ocorrências apenas em 2016, em que 6.045 foram contra casos de estupro, 711 por exploração sexual e 338 por assédio sexual. Para denunciar crimes cometidos contra crianças e adolescentes, o número é o disque 100. Os telefones funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana. [Equipe ASN – Stephanie Passos]

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