Gênero neutro pode estimular conflitos de identidade, diz especialista
Ideologia do gênero neutro preocupa teólogos e psiquiatra cristão ouvidos pela reportagem da ASN.
Brasília, DF ... [ASN] A reportagem principal desta semana de uma das mais conhecidas publicações brasileiras, a revista Veja, abordou o tema da ideologia do gênero neutro. Conforme a reportagem, o assunto se tornou recorrente em algumas escolas brasileiras. Segundo a matéria, “para alguns colégios de grandes cidades brasileiras discutir a diversidade de gênero virou assunto obrigatório. A aula magna do Pedro II deste ano foi sobre o tema. No Bandeirantes, em São Paulo, um grupo de discussão batizado de Bandiversidade reúne alunos para falar sobre homossexualidade, bissexualidade e pansexualidade (caracterizada pela atração sexual, romântica e/ou emocional independentemente da identidade de gênero do outro). Já esquentaram os debates tópicos como as diferenças entre transgênero, transexual e drag queen”.
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Em alguns países iniciativas foram tomadas para garantir direitos a quem afirma não ser nem do gênero masculino ou feminino. A língua sueca, por exemplo, começou a introduzir um pronome de gênero neutro para a próxima edição do dicionário oficial do país.. No idioma escandinavo, junto aos pronomes de gênero masculino han e feminino hon, foi adicionado o pronome hen. A nova terminologia se refere às pessoas que não revelam seu gênero – seja porque é desconhecido, ou porque a pessoa é transgênero ou o locutor considera o gênero uma informação superficial para compreensão do texto. Países como Alemanha, Malta, Índia, Paquistão, Nova Zelândia e Nepal tomaram decisões para proporcionar que as pessoas se apresentem como de um terceiro gênero.
A Austrália reconheceu, em 2014, que uma pode pessoa pode ser legalmente identificada por um gênero neutro, além do masculino e feminino. No julgamento, foi dito que “a Suprema Corte reconhece que uma pessoa pode não ser nem do sexo masculino, nem do sexo feminino, e permite, assim, o registro do sexo de uma pessoa como ‘não especificado”.
A reportagem da ASN (Agência Adventista Sul-Americana de Notícias) ouviu teólogos e um psiquiatra cristão e todos se mostraram preocupados com essa tendência.
Identidade
O psiquiatra César Vasconcellos de Souza, com larga experiência em consultório e autor de diversos artigos, observa que a literatura médica prevê um transtorno de identidade sexual na infância e adolescência, atualmente chamado de disforia de gênero. Vasconcellos explica que esse tipo de transtorno transitório tem suas raízes em fatores como insegurança ou algum tipo de forte sofrimento emocional, mas que não há qualquer base científica consistente para se afirmar que possui origem biológica ou genética. “O Transtorno de Identidade Sexual, classificado no Código Internacional de Doenças, não está relacionado à ideologia de gênero porque esta última não é uma teoria científica, mas uma ideia de um grupo de pessoas”, reforça o especialista.
Vasconcellos vê com temor esse conceito da ideologia de gênero neutro, na medida em que passa a funcionar como um fator que pode incentivar crianças e adolescentes a pensar que realmente não possuem um gênero definido. Ou seja, funcionaria muito mais um fator ambiental que tem influência sobre mentes muitas vezes fragilizadas justamente por transtornos passageiros típicos de sua idade.
Teologia
Uma das vozes que se insurge contra a ideia de gênero neutro é, também, por exemplo, a da socióloga alemã Gabriele Kuby, autora do livro A revolução sexual global. Destruição da liberdade em nome da liberdade. Em uma entrevista concedida no ano passado, ao blog Senza Pagare, ela afirmou que “a desordem das normas sexuais conduz à destruição da cultura. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, estabelece que a família é o núcleo da sociedade e necessita de uma ordem moral para existir. Com tudo o que assalta as crianças nos meios de comunicação social, na internet e na educação sexual obrigatória, é difícil, para as crianças, converterem-se em adultos maduros, isto é, em grau de assumir a responsabilidade de serem mães e pais”.
O pastor Alacy Barbosa, diretor do Ministério da Família da Igreja Adventista em oito países sul-americanos, afirma que a chamada sexualidade moderna é “caracterizada por ser uma expressão de sexualidade de forma completamente livre de barreiras, que aparentemente as posições filosóficas, sociológicas e teológicas impõem entre pessoas, independente do gênero sexual, faixa etária”. Ele comenta, ainda, que a Bíblia não aprova os desvios de sexualidade. Cita, inclusive, o capítulo 20 de Levítico em que “Deus deixa muito claro que a deturpação da sexualidade humana seria um grave problema resultante da instalação do pecado em nosso mundo”.
O pastor Rafael Rossi, que assina coluna mensal no portal adventistas.org, demonstrou preocupação com o tema do gênero neutro no seu último artigo. Para ele, “a sociedade, em geral, adotou a ideia de relativização da Bíblia quando a verdade não é mais absoluta ou atemporal. E o agravante é que o conceito começa a fazer parte do vocabulário de alguns cristãos. Isso é muito perigoso. A Bíblia deixa bem claro que Deus criou homem e mulher, macho e fêmea para que cada gênero se relacionasse com o oposto”. [Equipe ASN, Felipe Lemos]