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Jovens missionários ajudam mãe a reencontrar filho desaparecido há dez anos

Jovem saiu de casa aos 12 anos, após se envolver com drogas e passou a morar nas ruas da capital mineira


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Pedro (esquerda) e sua mãe estudam a bíblia com participante da Missão Calebe.

Belo Horizonte, MG… [ASN] Pedro (o verdadeiro nome foi trocado a fim de preservar a identidade do entrevistado) saiu de casa pouco antes do horário do almoço e disse ao pai que iria jogar bola com os amigos. Nesta mesma manhã, a mãe dele, a faxineira Izabel Cristina, limpava a casa de uma vizinha e procurou terminar o serviço a tempo de servir a refeição aos filhos. Ao chegar em casa, soube que Pedro não almoçaria com a família naquele dia. O que ela não sabia é que Pedro só voltaria para sua casa, situada em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, dez anos depois.

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“Fui informada que ele saiu só com a roupa do corpo. Espalhei fotos dele em vários lugares e mandei até para São Paulo, mas não o encontramos. Um vizinho meu que é motorista de ônibus o via sempre em Belo Horizonte, o aconselhava a voltar para casa, mas ele não queria”, recorda Izabel. Porém, ela conhecia os motivos pelos quais o filho havia saído de casa. Izabel sabia que, na verdade, a atenção de Pedro já não era mais voltada apenas ao futebol e brincadeiras com os amigos. Ele estava experimentando e vendendo drogas e praticando roubos, o que trouxe problemas para a família dele na região.

Os dias se passaram, os anos também, e a mãe e o garoto não tiveram mais nenhum tipo de contato. Até que em agosto de 2016 o filho mais velho de Izabel foi assassinado. Com mais esta grande perda, ela encontrou refúgio na Palavra de Deus. Por estar com o coração aberto para o evangelho, aceitou a oração oferecida por uma jovem que bateu à sua porta num dia de janeiro, pouco antes da hora do almoço.

Jovem foi encontrado com ajuda dos participantes da Missão Calebe realizada em Betim (MG)

“Perguntei se ela [Izabel] tinha algum pedido de oração e ela comentou sobre o assassinato de seu filho mais velho e do fato do Pedro estar morando na rua. Percebi a angústia dela e pensei: ‘o que mais posso fazer por ela além de orar?’. Então, liguei para meu esposo, contei a história e no dia seguinte fomos buscar o filho dela”, explica a dona de casa Elenita Fernandes, de 24 anos, que estava no bairro com outros 35 jovens participando da Missão Calebe, um projeto da Igreja Adventista que incentiva os jovens a empregar o período das férias escolares para realizar ações sociais e de evangelismo.

Na quinta-feira, 26 de janeiro, Izabel acordou cedo, pegou a foto mais recente que ela tinha do filho: uma 3x4 que mostrava o garoto no início da adolescência, ainda quando morava com ela, e saiu com o casal para procurá-lo. A busca começou nos arredores da rodoviária do centro de Belo Horizonte. Depois foram a albergues e praças, até que chegaram a uma moradora de rua que reconheceu o garoto da foto e disse que ele estaria no aglomerado Pedreira Prado Lopes, uma comunidade carente situada na Região Noroeste de Belo Horizonte.

Missão Calebe incentiva jovens a empregar o período das férias escolares para realizar ações sociais e de evangelismo

“Fiquei com medo [de ir ao local] porque no dia anterior havia acontecido um confronto entre a polícia e traficantes. Mas continuamos orando e fomos”, conta Elenita. Na Pedreira, eles foram mostrando a foto do rapaz aos moradores, perguntando se alguém o tinha visto. “A gente explicava que era a mãe dele que estava procurando e assim algumas pessoas informavam onde ele poderia estar”, afirma Elenita. Um casal de moradores de rua reconheceu que o jovem da foto era o que estava dormindo na construção abandonada em que eles costumam passar a noite, e levaram o casal e Izabel ao local.

“Pedro, sua mãe tá aí”, disse o morador de rua. “Eu respondi: ‘que mãe o quê?!’, pois eu jamais imaginava que fosse encontrá-la, depois de tanto tempo. Foi quando eu abri os olhos e minha mãe estava na minha frente”, relata Pedro, que hoje está com 22 anos. “Foi uma emoção grande, eu e ele chorando", diz Izabel. "Chamei ele para voltar para casa. Ele lavou os pés, o rosto, bebeu água, pegou a camisa dele e fomos embora”, relata.

A vida nas ruas

Até então, Pedro havia passados os últimos anos no centro de Belo Horizonte, usando drogas e praticando assaltos. “Eu tinha vontade de voltar para casa, mas os caras estavam querendo me pegar [no bairro]. Também esqueci o número do telefone da minha mãe, sempre que eu tentava ligar vinha uma gravação dizendo que aquele número não existia”, conta Pedro.

Dos dias difíceis que viveu na rua, um se destaca: “Era dia de jogo entre Atlético Mineiro e Cruzeiro, e eu estava deitado em uma marquise, na Rua dos Caetés, no Centro, quando chegou um torcedor e atirou uma pedra e uma garrafa de vidro em mim. Só lembro que acordei no dia seguinte, no hospital, com a cabeça enfaixada. Tive alta no mesmo dia e voltei para a rua, para as drogas”, lembra.

Agora, já em casa, Pedro aguarda uma vaga numa clínica de recuperação para dependentes químicos a fim de iniciar o tratamento contra as drogas. “Daqui para frente meu foco é Deus, é seguir em frente. Quero constituir uma família e resgatar vidas, como eu fui resgatado. Eu pensava que já tinha sido esquecido, que ninguém lembrava mais de mim”, comenta o jovem. [Equipe ASN, Fernanda Beatriz]