Um legado de fé, comprometimento e serviço
Líderes da Igreja Adventista na Europa relembram a fé da Rainha Elizabeth II em Deus.
Em junho de 1953, a jovem princesa Elizabeth foi ungida para o serviço como monarca do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte. Durante a cerimônia de coroação, ela prometeu ‘preservar as Leis de Deus e a verdadeira pregação do Evangelho.’
Como monarca constitucional, Elizabeth II era solicitada a ser politicamente neutra. Mas ao se tratar de sua fé, ela não foi neutra e manteve-se fiel ao juramento que fez em 1953. Quase meio século depois, ela reconheceu publicamente à nação: “Para mim, os ensinamentos de Cristo e minha responsabilidade pessoal diante de Deus criam um quadro no qual eu tento guiar a minha vida.”
Uma fé pessoal, mas viva
Embora ela tivesse uma fé profundamente pessoal e privada, não estava na sua natureza ser ‘evangelista’ sobre suas crenças. Embora ela tenha recebido calorosamente Billy Graham em Londres em 1956, foi dito que ela estava ‘intrigada’ por ele ter pregado suas firmes convicções fundamentalistas. Embora ela não pudesse participar das reuniões dele, foi relatado que eles se encontraram em diversas ocasiões para que, de forma particular, pudessem conversar, estudar e orar. Seria um erro considerar que sua falta de atividade ‘evangelística’ fosse uma vida sem fé, porque como é frequentemente o caso para os ingleses, particularmente de sua geração, a preferência é demonstrar Cristo mais na ação do que na palavra.
Uma vez ao ano, no Natal, ela falava à nação e às cinquenta e seis nações independentes da Comunidade Britânica (Commonwealth), com palavras calorosas e inspiradoras sobre a mensagem e o significado do advento. Os observadores dessas transmissões notam que, mais tarde, à medida que o Reino Unido se tornou cada vez mais secular, sua mensagem de Natal tornou-se mais abertamente cristã. Quanto mais difícil era o ano, mais profunda sua mensagem de esperança estava enraizada em Cristo.
Constância
Na introdução de um livro recém-publicado pela Sociedade Bíblica, ela escreveu: “Eu fui – e continuo sendo – muito grata pelas suas orações e a Deus pelo Seu inabalável amor.” A palavra ‘inabalável’ durante seus 96 anos de vida foi mais do que significativa, pois embora ela possa ter tido um patrimônio líquido de £370 milhões (de acordo com a lista dos mais ricos do Sunday Times 2022), sua vida estava longe de estar livre de problemas.
Se nós fossemos listar seus problemas e contendas, seria perceptível que muitos são comuns para todos. E ainda assim, sua fé e confiança em Deus permaneceram constantes. Ela também disse “Eu, como muitos de vocês, encontrei grande conforto, em tempos difíceis, nas palavras e no exemplo de Cristo.”
Um desses tempos difíceis foi durante uma época conhecida como “O Conflito na Irlanda do Norte”. Em 1970, seu primo de segundo grau, o lorde Louis Mountbatten foi assassinado pelo Exército Republicano Irlandês (IRA). Na época, foi visto como um profundo ataque contra o sistema britânico. Mountbatten era muito amado e um membro muito próximo de Elizabeth e Philip e, em particular, um mentor ao então jovem príncipe Charles. Foi uma perda que a família lamentou e sentiu profundamente.
Paz e reconciliação
Trinta e dois anos depois, no Jantar de Estado Irlandês de 2011, ela iniciou seu discurso em nome das pessoas da Britânia e da Irlanda do Norte com as palavras em gaélico “A Uachtaráin agus a chaired” (presidente e amigos) para a surpresa dos muitos convidados presentes. Era um momento-chave na reconstrução do relacionamento entre os dois países e um momento vital no processo de paz da Irlanda do Norte. Ela prosseguiu dizendo, “Com o benefício da retrospectiva histórica, todos nós vemos coisas que gostaríamos que tivessem sido feitas de forma diferente ou que não tivessem sido feitas de forma nenhuma.” Essas foram palavras que ela pôde dizer com convicção, cuja base se volta à sua fé.
Em uma mensagem recente de Natal, ela disse, “Para mim, a vida de Jesus Cristo, o Príncipe da Paz [...] é uma inspiração e uma âncora na minha vida. Um modelo de reconciliação e perdão, Ele estendeu Suas mãos de amor, aceitação e cura. O exemplo de Cristo me ensinou a respeitar e valorizar as pessoas de qualquer ou nenhuma fé.”
Reconhecimento
O doutor Daniel Duda, presidente da Divisão Transeuropeia (DTE) da Igreja Adventista, expressou suas condolências “aos membros da família real que perderam uma mãe, avó e bisavó. Nós também choramos com uma nação, com os cidadãos do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte. Ao orarmos por todos os membros da família real, lembremo-nos em particular do Rei Charles III.”
Karen Holford, diretora do Ministério da Família da DTE, reconheceu a forte fé da Rainha em Deus e seu desejo de servir seu país como “uma inspiração, em particular através de sua bondade, humildade e espírito generoso diante dos muitos desafios pessoais.” E como uma líder, ela demonstrou ter “excepcional coragem e dedicação, até o fim de sua vida.”
Para o pastor Patrick Johnson, secretário ministerial da DTE, a Rainha foi “a personificação de estabilidade e calma, especialmente durante os tempos de incerteza e turbulência.” Para Geraldine Hankin, recepcionista da DTE, “a Rainha foi uma mulher maravilhosa e temente a Deus, a que eu admiro como sendo forte, inteligente e experiente. Sua morte é como perder um membro da minha própria família, estou muito triste.”
A teóloga Audrey Andersson, vice-presidente geral da Associação Geral da Igreja Adventista e ex-secretária executiva da DTE, refletiu que a Rainha Elizabeth II foi uma mulher “cuja vida de serviço estava fundamentada em sua profunda fé pessoal. Seu senso de dever a Deus, ao país e à Comunidade Britânica era uma fonte de estabilidade e esperança em tempos difíceis e uma inspiração para muitos. Ao lamentarmos sua morte, reconhecemos que seu legado de humilde serviço continuará na vida das muitas pessoas que ela tocou.”
A versão original desta notícia foi publicada pela Adventist News Network.