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“Preparar jornalistas é uma ação estratégica para a missão”, sublinha educador

Com experiência na educação e na comunicação, Ruben Holdorf defende o papel do jornalismo na sociedade e na Igreja


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Registro da apresentação do primeiro corpo docente do curso de Comunicação Social do Centro Universitário Adventista de São Paulo, em 2000. A partir da esquerda: o coordenador do curso, doutor Assad Bechara, doutor Ruben Holdorf e os professores Joubert Perez e Valdecir Lima. (Foto: Arquivo pessoal)

A Agência Adventista Sul-americana de Notícias (ASN) traz mais uma entrevista nesta série sobre a comunicação adventista na América do Sul. Desta vez, o convidado é o jornalista Ruben Dargã Holdorf, doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele atua como docente no curso de Jornalismo do Instituto Ucraniano de Humanidades, em Butcha, Ucrânia. Lá chegou recentemente, convidado pela Divisão Euroasiática, escritório que coordena o trabalho da Igreja Adventista em 13 países da região.

Antes disso, lecionou por 20 anos no curso de bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), no campus Engenheiro Coelho, dentre os quais, em cinco esteve como coordenador do curso. Como tal, colaborou na conquista de dois conceitos 4 no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e um 5 no Índice de Diferença de Desempenhos (IDD). Também desenvolveu a estrutura de estágio profissional no campus.

Leia outras entrevistas desta série:

Antes do UNASP, atuou por mais de cinco anos nos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, nos quais se tornou o primeiro editor digital (Paraná Online) do sul do Brasil, em 1997. É autor de cinco livros, além de ter participado da elaboração do Manual de Comunicação para Igrejas e Grupos, da sede sul-americana adventista, e escrito a história da Igreja neste território para a Enciclopédia Adventista, organizada pela sede mundial da denominação.

Durante esta entrevista, Holdorf defendeu a formação do jornalista para além das competências de pesquisar, apurar e noticiar. “Preparar jornalistas é uma ação estratégica para a missão da Igreja”, afirma. Confira a conversa:

Quem é Ruben Dargã Holdorf como educador e jornalista?

Sou alguém sempre disposto a aprender, a corrigir as falhas, a recomeçar, a projetar, a compartilhar experiências sem receio e sem reservas. Tive o privilégio de ser aluno do escritor Cristovão Tezza; estudar e fazer o TCC com José Carlos Fernandes; trabalhar com Mussa José Assis; ter como patrão Paulo Pimentel; ser professor de Malu Mazza; ser orientador de Márcio Tonetti, Fabiana Bertotti e Paulo Henrique Mondego; trabalhar na docência com Luís Roberto Halama, José Wille, Carlos Henrique Nunes e Laerte Lanza; e ser orientado por Franklin Valverde e José Luís Aidar Prado. O jornalismo e a educação me proporcionaram um network muito rico.

Fale um pouco sobre a sua origem e de sua família.

Nasci em Curitiba, em 2 de maio de 1962. Casei-me com a bibliotecônoma Lia Mara de Souza, e temos três filhos: a publicitária Leilaini Elisse, casada com o engenheiro de áudio Yoseff Egoroff, com quem tem duas filhas, e vive em Engenheiro Coelho; o jornalista Paulo Darlan, que reside e trabalha em Santa Clara, na Califórnia; e a arquiteta e design de interiores Larissa Elaine, que mora em São Paulo.

Ruben Holdorf com sua família, na graduação da filha Leilaini (Foto: Arquivo pessoal)

Você vem de uma família tradicional adventista?

Sim, sou a quinta geração de adventistas. As netas já são a sétima.

Como foi sua formação acadêmica?

Além do doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, cursei o mestrado em Educação, Administração e Comunicação na Unimarco, cuja dissertação “Os conflitos árabe-israelenses em Zero Hora e O Estado do Paraná” defendi em 2008. No UNASP, cursei o mestrado em Educação (2005), onde também concluí a Especialização em Metodologia de Ensino Superior. Também cursei online “English for Journalists” pela Universidade da Califórnia, em 2020.

De onde vem o seu interesse pela educação e comunicação?

A partir do momento em que passei a desconfiar das metodologias das quais discordava, senti a necessidade de também ser professor. Primeiramente, no ensino médio e fundamental, depois no superior. A percepção de que os jornalistas não tinham uma base mínima necessária para o exercício profissional estimulou-me a retornar à universidade como docente.

Como o rádio galena impactou sua formação?

Ganhei de meu pai um rádio galena para escutar jogos de futebol. Na época, era por meio do rádio que sabíamos o que acontecia no mundo. Nem todos tinham televisão, e sua programação se limitava ao horário da noite, com telejornais pouco informativos. Eu escutava os comentaristas no rádio e ficava encantado ao acompanhar os jogos do Boca Juniors e do River Plate da Argentina, e ouvir emissoras do Japão mesmo sem entender nada. Assim emergiu o plano de cursar Jornalismo.

Quem foram seus mentores?

Na igreja que eu frequentava havia três jornalistas: Elon Garcia, detentor de uma das vozes mais marcantes da TV Paranaense; Ivan Schmidt, ex-editor da revista Nosso Amiguinho e secretário de redação do jornal O Estado do Paraná; e Odailson Spada, o primeiro membro da Igreja Adventista diplomado em Jornalismo no Brasil pela Universidade Federal do Paraná, em 1973. Eles motivaram minha formação, principalmente pelo seu legado e expertise.

Fale da sua trajetória na Educação Adventista.

Sempre gostei da sala de aula. No Colégio Adventista do Boqueirão (em Curitiba), fui professor de História de 1991 a 1999. No UNASP atuei como professor-associado, assessor de comunicação, diretor editorial da Agência Brasileira de Jornalismo (ABJ), diretor de redação da Rádio UNASP FM e revisor da Unaspress, de 2000 a 2021.

Que outras atividades marcaram a sua carreira?

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), atuei como professor substituto e editor do jornal Comunicação, de 1995 a 1996. Também servi à editora O Estado do Paraná S.A. como repórter, revisor, revisor-chefe, colunista, articulista e editor digital, de 1994 a 1999.

Por que decidiu ir para a Ucrânia?

Por convicção do chamado de Jesus para a missão.

E qual é a sua missão aí?

Formar jornalistas. Descobrir talentos e estimular o empreendedorismo será o desafio para fortificar a base jovem da Igreja na Ucrânia. Por isso, a primeira tarefa será aumentar o tempo de acreditação do curso, cuja concessão governamental é de apenas um ano, ou seja, termina neste período letivo, em maio de 2022.

Nesse contexto, há desafios pessoais?

(Sorriso). Sem dúvida! E o maior deles é dominar, o mais rápido possível, a língua ucraniana e a russa, também difundida em boa parte do país.

Por que insistir na formação de jornalistas para a missão da Igreja?

Porque nosso papel é fazer o bem e contribuir para uma vida digna e de qualidade. Isso inclui a preservação da democracia, cujo funcionamento se apoia em três pilares: educação, justiça e imprensa. O jornalismo se ajusta à última como baluarte das nossas liberdades coletivas e individuais, entre elas a de consciência.

Na prática, como isso se mostra relevante?

A formação do jornalista ainda é recente na Ucrânia. No leste europeu, assolado durante décadas pelo comunismo soviético, a democracia é um valor cívico desejado. Nesse cenário, o jornalismo tem ampla e profunda importância, não apenas para a Igreja, mas para toda a sociedade.

No contexto brasileiro, qual o impacto da ABJ para a Igreja Adventista?

A Agência Brasileira de Jornalismo nasceu no UNASP. Ela preparou a atual liderança da comunicação adventista em todos os cenários, seja nas assessorias das sedes regionais da Igreja ou nas suas demais instituições, como Casa Publicadora Brasileira, Rede Novo Tempo (e Nuevo Tiempo), emissoras da Rádio NT, ADRA, etc.

Mencione ex-ABJ que hoje são formadores de opinião na Igreja Adventista.

Na Casa Publicadora Brasileira, os editores Márcio Tonetti, Wendel Lima, Diogo Cavalcanti, Ágatha Lemos e Lucas Rocha; na Novo Tempo são muitos, mas destaco André Leite e Miguelli Simioni; Jefferson Paradello, em Brasília, na sede da Igreja Adventista para a América do Sul; Jenifer Neves, coordenadora de Jornalismo no UNASP; e o doutor Allan Novaes, pró-reitor do UNASP.

Há profissionais trabalhando no exterior?

Lisandro Staut, ex-diretor da TV Novo Tempo, hoje atua em outro projeto na Califórnia; Juliana Muniz, na Adventist Record, da Austrália; Marisa Ferreira, assessora de comunicação na União Libanesa, em Beirute; Ana Paula Ramos, em missão no Cairo, Egito; doutor Tales Tomaz, professor da Universidade de Salzburgo, na Áustria. Estes são apenas alguns nomes, não mencionando aqueles que estudam em diversos países.

Parece que existem mais nomes...

Não dá para deixar de mencionar ex-ABJ como Raquel Derevecki, repórter da Gazeta do Povo, em Curitiba; a youtuber e escritora Fabiana Bertotti, agora residindo em Engenheiro Coelho; e o doutor Matheus Siqueira, também professor do UNASP.

Por que insistir na formação de jornalistas adventistas?

Precisamos de comunicadores, oradores e escritores com excelência. Com esses profissionais, a comunicação da Igreja ajusta-se perfeitamente às demandas de uma sociedade carente de mensagens de conforto e esperança.

Jornalistas nascem prontos?

Se você gosta de uma carreira, precisa agarrar as oportunidades e aprimorar os conhecimentos, desenvolvendo-se profissionalmente. Ninguém nasce médico, advogado, professor, marceneiro, cientista ou jornalista. O interessado precisa se abastecer de informações vitais na respectiva área. Então, para se tornar um jornalista, são necessários muita leitura, prática textual, aperfeiçoamento das técnicas de abordagem e investigação, aquisição de conhecimentos em múltiplas áreas, etc. Perseverança, curiosidade e humildade complementam o quadro básico de características do jornalista.

Veja mais algumas imagens da carreira do doutor Holdorf:


Jael Eneas é pastor, músico e comunicador. Mestre em Teologia, durante 21 anos liderou o Ministério de Música, Comunicação e Educação em Associações e Uniões nas regiões Norte, Noroeste e Sudeste.