Físico vê indícios de planejamento inteligente no universo
Em entrevista, o doutor em Física Rafael Lopes falou sobe Big Bang, o universo e seus desdobramentos.
O Big Bang, a expansão do universo, e temas que se propõem a explicar em detalhes o cosmo, costumam ser muito abstratos para muitos. É difícil para a maioria das pessoas entender como toda esta imensidão de estrutura passou a existir e como se desenvolveu. Cientistas se debruçam sobre estes temas há séculos e procuram entender, com ajuda de tecnologia de ponta, o que nos cerca em uma realidade com milhares de astros e infinitas complexidades.
Um dos que se ocupa disso é o físico adventista Rafael Lopes. Ele é formado em Física pela Universidade Federal do Maranhão (2005), com mestrado em Física (2008), e ênfase em Teoria Quântica de Campos, pela mesma universidade. Em 2009, passou a atuar como professor efetivo de Física do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão. No ano de 2018, concluiu o doutorado em Física com ênfase em cosmologia na Universidade de São Paulo (USP). Ele conversou sobre o universo e seus desdobramentos com a equipe da Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN).
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Fale um pouco sobre o que se sabe, de maneira geral na ciência, a respeito da origem e expansão do Universo. O que temos hoje?
Segundo os dados e teoria que possuímos, o melhor modelo para descrever a origem do universo é a teoria conhecida como do Big Bang. De acordo com este modelo, o universo se iniciou a partir de um estado de altíssima densidade e começou a se expandir. Primeiramente, esse modelo é resultante de uma solução das equações de Einstein da teoria da relatividade Geral, com diversas confirmações experimentais. Além dessa fundamentação teórica, a teoria do Big Bang é fortalecida por largas confirmações como a observação da radiação cósmica de fundo, um eco energético dos momentos iniciais do Big Bang e a abundância de gás hélio.
Quanto à expansão, o modelo que melhor descreve a dinâmica do universo é o modelo LambdaCDM. E que caracteriza a expansão do universo como resultante da influência de seu conteúdo energético, o qual é formado de 5% de matéria comum, 25% de matéria escura e 70% de energia escura. A matéria escura foi descoberta como resultado da observação de efeitos gravitacionais que são bem mais intensos do que a matéria luminosa observada poderia causar. E a energia escura é a melhor resposta para explicar a surpreendente expansão acelerada do universo, observada desde 1998.
Como explicar a visualização de galáxias antiquíssimas, há bilhões de anos-luz de distância já plenamente formadas, se a teoria vigente até aqui era a da evolução gradual das galáxias? Ou elas foram criadas prontas, ou a teoria do Big Bang precisa de sérias revisões. Como você avalia isso?
Um ponto importante a definir é que a teoria do Big Bang não é o mesmo que teoria de formação de estruturas. Uma não necessariamente implica na outra. A teoria de formação de estruturas realmente implicaria que estruturas vistas a longas distâncias deveriam aparentar ser mais irregulares, no entanto, essas divergências podem implicar que o processo de formação de estruturas ainda não é bem compreendido. Além disso, se outras observações não apresentarem os mesmos resultados, pode significar apenas que essas galáxias estavam em uma condição especial tal que permitiu acelerar seu processo de formação. Portanto, as soluções para essas observações são mais complexas do que imaginamos.
Quais são as explicações que os criacionistas oferecem a respeito da origem e expansão do Universo?
Dentro da visão criacionista, que interpreta os primeiros capítulos do livro de Gênesis como literais, é possível identificar algumas variantes de interpretação. Por exemplo, existem os criacionistas de Terra jovem e universo jovem. Para eles, o livro de Gênesis descreve a criação tanto da Terra como do universo em sete dias literais. Nesse caso, haveria diversas discordâncias entre a visão apresentada pela ciência e pela Bíblia. Além dessa, há uma visão de que o relato de Gênesis está focado na descrição da preparação da Terra para habitação de vida e não na formação do universo. Este ponto de vista não apresentaria uma discordância direta com o modelo atual de origem e expansão do universo.
É importante destacar que há experientes teólogos que advogam em favor de ambas as visões. Isso demonstra, no mínimo, que a Bíblia não é específica ao descrever o processo de origem do universo. Mas ela deixa claro que o originador foi Deus, que o criou a partir do nada. E isso está em consonância com a teoria do Big Bang. Tais semelhanças, inclusive, foram as principais razões para resistência à aceitação dessa descrição do universo por parte de diversos cientistas, até hoje. Como descreve Robert Jastrow, astrônomo agnóstico e fundador do Instituto Goddard da Nasa, ex-chefe do Observatório Mount Wilson: “A Lei de Hubble é uma das grandes descobertas da ciência: ela é um dos principais suportes da história científica do Gênesis”.
Você tem estudado mais profundamente a Cosmologia e, provavelmente, percebe um planejamento inteligente sobrenatural na organização das galáxias e planetas, certo? Fale sobre isso.
Desde a teoria do Big Bang, até a teoria de formação de estruturas, podemos ver indícios de um planejamento. Em especial, quando pensamos nos ajustes necessários para que o universo tivesse a aparência que tem. Por exemplo, se as “sementes” de densidade no universo não fossem da ordem que certa, o que ocorreria? O universo poderia ter se tornado logo um imenso buraco negro ou tão disperso que não haveria qualquer estrutura observável como galáxias e aglomerados. Nas palavras do ganhador do prêmio Nobel de Física, George Smoot, obtido pela descoberta do espectro de corpo negro e da anisotropia da radiação cósmica de fundo:
“E quando vemos que uma inclinação considerável no espectro da flutuação quântica das ondulações primordiais poderia ter produzido, no lugar, um vasto formigueiro de buracos negros ou um cosmos de gigantes pesados, então novamente percebemos o quão facilmente as coisas poderiam ter sido muito diferentes” (citado no livro "Mostre-me Deus!", de Fred Heeren)
Outra concordância que indica um designer é a harmonia quanto aos valores das constantes físicas necessárias na descrição da física do universo, questão conhecida como ajuste fino do universo. Isso é tão patente que, para explicarem, muitos cientistas utilizam o conceito de multiversos. É uma teoria que defende que o nosso universo faz parte de uma coleção de universos, cada qual com sua configuração de valores das constantes fundamentais. Dessa forma, o nosso universo foi aquele que teve a “sorte” de ter as constantes ajustadas de tal forma a permitir a formação de vida inteligente. Não há, contudo, qualquer confirmação experimental de tal proposta.