Simpósio teológico amplia compreensão sobre livro de Daniel
Iniciativa realça essência da obra, considerada fundamental para a própria existência do adventismo, estabelecido a partir das profecias do livro.
O livro bíblico de Daniel é considerado, por teólogos de todo o mundo, como uma obra singular e fascinante. A narrativa empregada - trata-se de um livro escrito em dois idiomas, hebraico e aramaico - tem suas peculiaridades. Usa de diferentes formas de paralelismo e joga luz sobre os desdobramentos proféticos ampliados por João ao redigir o livro do Apocalipse. Sem falar na história de vida do autor, o profeta levado cativo para a Babilônia ainda em sua adolescência, e que se torna dirigente de confiança em dois impérios mundiais.
O livro de Daniel, sua relevância para a sociedade hoje e os desafios de interpretação compõem o tema da 14ª edição do Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano. O evento, organizado pelo Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), começa propriamente nesta quinta-feira, 28. Na quarta-feira, 27, ocorreu encontro do BRC (Biblical Research Committe), cuja finalidade é a apresentação fe pesquisas de professores de teologia, com temas amplos. Ambas as programações se dão no Paraná, na sede da Faculdade Adventista do Paraná (FAP).
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Mais de 400 pessoas se inscreveram para assistir ao Simpósio e ao encontro do BRC. No caso do Simpósio, as abordagens incluem questões mais técnicas, por exemplo, sobre interpretação de textos bíblicos escatológicos. E passam por discussões a respeito da relação do livro de Daniel com outros trechos da Bíblia, contribuição literária da obra e debates acerca do comportamento do profeta e seus amigos.
Uma das pessoas empolgadas com as exposições e momentos de perguntas e respostas é a servidora pública Gabriela Saldanha da Cruz, de Maringá. Ela não tem formação teológica, mas se diz apaixonada pelo estudo dos livros de Daniel e Apocalipse. Está apreciando especialmente os horários destinados aos comentários após as palestras. “Esse evento promete ser fantástico e as falas dos participantes também deverão colaborar para o programa ser mais enriquecedor”, destaca.
Relevância
O teólogo peruano Merling Alomía, doutor em Antigo Testamento e Arqueologia Bíblica, está próximo de concluir sua carreira como professor universitário, que já vem desde 1975. Ele lançou quatro livros e uma revista, todos em espanhol, especificamente sobre Daniel. Com a autoridade de quem investiga profundamente o conteúdo da obra bíblica, Alomía garante que Daniel é o único profeta que fala do tempo do fim e faz revelações assombrosas sobre esse período.
Para o docente, o livro é muito relevante, pois destaca o que se passa com o povo remanescente de Deus e por que esse grupo se torna vitorioso. “Sem o conteúdo de Daniel, o livro do Apocalipse não faria sentido. O profeta não escreve apenas para o seu tempo, mas para nós hoje”, enfatiza.
Modelos de fidelidade
O diretor do Instituto de Pesquisas Bíblicas da sede mundial adventista, pastor Elias Brasil, fez uma palestra sobre a preocupação adventista com elementos da cultura que tentam reduzir a importância do texto bíblico. Na sua avaliação, “há tanto o risco de uma rejeição completa da cultura ao nosso redor, criando uma espécie de isolamento religioso, quanto uma assimilação indiscriminada da agenda cultural que conflita com princípios estabelecidos”.
O entendimento dele é que o estudo profundo de Daniel ajuda na compreensão de dois conceitos importantes, que podem funcionar como uma vacina contra a incorporação de elementos culturais que descaracterizam as crenças bíblicas. Um deles é o de que o profeta e seus amigos representam um modelo de experiência que antecipa o que ocorrerá com o povo fiel a Deus por viverem de forma coerente com os ensinamentos divinos. O outro ponto é a ideia de ser sábio sobre Deus, algo muito presente no livro, que faz alusão à total dependência de dEle, e que descarta uma confiança no próprio ser humano como protagonista.
Intertextualidade
No primeiro dia de programação, o tema da intertextualidade, inclusive por parte do livro de Daniel, mereceu o estudo de vários palestrantes. Em suma, é importante na habilidade de interpretar o texto bíblico entender que os autores de um determinado livro costumavam fazer referências a outros que escreveram anteriormente. Jesus, a título de exemplo, cita Daniel que, por sua vez, inclui citações ou faz eco ao que Jeremias escreveu antes.
O professor de Antigo Testamento e Hebraico no SALT da Faculdade Adventista do Paraná, PhD em Antigo Testamento, Felipe Masotti, chamou a atenção para isso. Ele explica que “a profecia apocalíptica se expressa por meio da intensa referência a textos anteriores”. E complementa afirmando que “é fundamental saber das diferentes abordagens modernas ao fenômeno de paralelismo textual na Bíblia Hebraica por meio de um estudo detido de como autores antigos liam e usavam de novo os textos que os antecederam”.
O Simpósio vai até sábado, dia 30, com a realização de várias palestras. Nessa data, inclusive, o presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito países sul-americanos, pastor Stanley Arco, apresentará uma mensagem sobre quão essencial é o estudo do livro de Daniel para os dias atuais.
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