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O que a Bíblia diz sobre comunicação com mortos?

Tema da comunicação com mortos ganha novamente notoriedade com lançamento de filme sobre a biografia do francês Allan Kardec.


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As perspectivas propagadas por Kardec e seus seguidores sobre mortos e morte está em oposição ao ensinamento bíblico. (Foto: Shutterstock)

Foi lançado o filme que apresenta a biografia do cientista francês Hypolite Leon Denizard Rivail, reconhecido mais tarde como Allan Kardec. Conhecido por sistematizar a doutrina espírita, popularizou conceitos relacionados à comunicação com mortos e reencarnação. Para entender o assunto, segundo a ótica bíblica, a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou com Adolfo Suárez, doutor em Ciências da Religião e reitor do Seminário Adventista de Teologia.

Allan Kardec foi um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais e mediunidade, o que sempre incluiu contato com mortos. O que a Bíblia fala deste assunto, ou seja, a comunicação com mortos?

Desde a perspectiva bíblica, a crença da comunicação com os mortos se originou com a primeira mentira de Satanás a Eva. Foi dita a frase “É certo que não morrereis” (Gênesis 3:4). Suas palavras foram o primeiro sermão sobre imortalidade da alma. Atualmente, por todo o mundo, religiões de todos os tipos repetem involuntariamente o mesmo erro. Para muitos, a sentença divina, “a alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18:20), tem sido invertida. Recebe o significado: “A alma, mesmo que peque, viverá eternamente.”

Consequentemente, a errônea doutrina da imortalidade natural conduziu à crença do estado consciente na morte. Essa posição contradiz diretamente o ensinamento bíblico a respeito do assunto. Ela foi incorporada à fé cristã a partir da filosofia pagã – particularmente a de Platão.

A Bíblia proíbe fortemente qualquer tentativa de comunicação com os mortos ou com o mundo dos espíritos. Ela diz que aqueles que pretendem se comunicar com os mortos, na verdade, estão se comunicando com “espíritos familiares” que são “espíritos de demônios”. O Senhor disse que essas atividades constituem abominação. E aqueles que as praticassem deveriam ser punidos, portanto, com a morte (Levítico 19:31; 20:27; conforme Deuteronômio 18:10 e 11).

Isaías expressou muito bem a perspectiva bíblica sobre este tema: “Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem dessa maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:19 e 20).

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O que a Bíblia efetivamente fala sobre a perspectiva para o ser humano após a morte?

Historicamente, há dois principais – e antagônicos – pontos de vista sobre a natureza humana. Um deles é designado como dualismo clássico. E o outro como holismo bíblico. A visão dualista firma que a natureza humana é composta, então, por um corpo material, mortal + uma alma imortal, espiritual. A alma imortal sobrevive à morte do corpo, ao purgatório e ao inferno. Na ressurreição, a alma se reúne com o corpo. Esta concepção dualista teve um impacto tremendo no pensamento cristão e, assim, afetou a visão da vida humana,. Tanto do mundo presente, da redenção, e do mundo por vir.

Por outro lado, pesquisadores e eruditos bíblicos têm examinado os textos da Bíblia e concluído que a natureza humana não é dualista, e sim claramente holística. Ou seja, não há contraste entre o corpo e a “alma”. Aliás, a alma não é algo imaterial; ao contrário, designa a vitalidade ou princípio da vida humana. Não existe uma “alma que sai do corpo” quando a pessoa morre, e nem mesmo uma “alma penada” fora do corpo. O que acontece é a cessação da vida, quando o pó volta à terra, de onde veio, e o espírito volta a Deus, que o deu (Eclesiastes 12: 7).

O estudo das palavras referentes à morte no Antigo Testamento aponta para uma compreensão simples e única: a completa terminação da vida, suas expressões e funções. Isso pode ser verificado neste conhecido texto bíblico:

“Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para eles não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles. Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nadado que acontece debaixo do sol” (Eclesiastes 9:5-6, NVI).

Além do que na terminologia do Novo Testamento, também, a morte é caracterizada como o fim da vida, e como o inimigo de Deus e da humanidade. Assim, toda a terminologia bíblica para a morte e o morrer combina em retratar uma única compreensão da morte, ou seja, a cessação de toda a existência de todo ser humano.

Mas, então, o que é a morte?


Desde uma perspectiva funcional, a morte é o contrário da vida que Deus criou: o que a vida é, a morte não é. E o que é a vida? “Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gênesis 2:7, NVI). A partir deste texto, a vida humana pode ser esquematizada da seguinte forma: pó da terra + fôlego da vida = ser vivente.

O pó da terra indica que a substância material da qual foi feita a humanidade (em hebraico ’ādām) é, então, a própria terra (em hebraico ’dāmāh). Neste sentido, a humanidade é caracterizada como sendo mortal e terrena, pois, como se originou do pó, não possui nenhuma vida inerente. Nenhuma vida própria, e nenhuma vida imortal. Fica evidente no relato de Gênesis 2:7 que o corpo formado a partir do pó da terra não continha materiais ou componentes divinos, que lhe permitisse uma vida independente.

Uma vez formado o boneco Adão, do pó da terra, Deus lhe acrescentou Sua respiração, que lhe deu vida/ânimo, às vezes chamada de espírito. Esse fôlego de vida não era uma substância separada colocada no boneco sem vida; esse sopro é o poder divino da vida que transformou o pó em um ser vivo. Ou seja, o sopro de vida não representa uma segunda entidade, acrescentada ao boneco de terra como um ingrediente, algo como se fosse uma existência separada; nada disso. Esse sopro foi um poder de energização de Deus que transformou o corpo de barro em um ser vivo.

O ser humano é imortal?

Por trás da crença na reencarnação está a ideia da imortalidade. Porque o ser humano não morre, reencarna numa outra vida. Podem os cristãos, que acreditam na Bíblia, dar crédito ao ensinamento da imortalidade humana?

A Bíblia explica muito bem isso. “Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa” (Tiago 4:14, NVI).

“Lembrou-se [Deus] que eram meros mortais, brisa passageira que não retorna” (Salmo 78:39, NVI).

“[O homem] brota como a flor e murcha. Vai-se como a sombra passageira; não dura muito” (Jó 14:2, NVI).

As Escrituras, em parte alguma, descrevem a imortalidade como uma qualidade ou estado que o homem ou mulher – ou sua ‘alma’ ou ‘espírito’ – possui inerentemente. Os termos usualmente traduzidos como ‘alma’ e ‘espírito’ ocorrem mais de 1.600 vezes na Bíblia, mas nunca em associação com as palavras ‘imortal’ ou ‘imortalidade.

Por outro lado, Deus é apresentado como eterno e imortal:

“Ao Rei eterno, Deus único, imortal e invisível, sejam honra e glória para todo o sempre” (1 Timóteo 1:17, NVI).

“O único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre” (1 Timóteo 6:16). Assim, na perspectiva bíblica, os seres humanos são limitados e mortais, enquanto que Deus é infinito e imortal. Nós, seres humanos, somos transitórios, enquanto que Deus é eterno. Atribuir imortalidade ao ser humano equivale a dizer que ele é divino, e isso é contra os ensinamentos da Escritura.