Manual da Igreja enfatizará o discipulado
Esta é uma das mudanças mais importantes no Manual da Igreja.
Como documento que rege o funcionamento de cada igreja local, Associação/Missão, União e Associação Geral (exceto detalhes administrativos que estão no livro deregulamentos), o Manual da Igreja ocupou boa parte das sessões da Assembleia da Associação Geral.
Horas e horas foram gastas discutindo mudanças, exclusões e acréscimos que, de acordo com a Comissão do Manual da Igreja e a Comissão Diretiva da Associação Geral, seriam benéficos para o progresso e missão da Igreja no mundo.
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No entanto, apesar de terem sido estudados repetidamente por esses grupos mencionados acima, o Manual da Igreja tem uma função tão sensível que as mudanças só podem ser finalmente aprovadas em uma assembleia da Associação Geral, onde toda a igreja está representada.
Durante toda a Assembleia, foram propostos um total de 37 mudanças aos delegados mundiais por parte da Comissão do Manual da Igreja. Destas, 36 foram aprovadas, e uma delas, detalhando o papel do pastor e dos líderes de campo locais, será reavaliada e apresentada novamente na próxima Assembleia em 2025.
Em uma primeira parte, já destacamos algumas das mudanças, e nesta parte vamos mencionar o que está relacionado à inclusão do novo capítulo sobre o discipulado cristão.
Ênfase no discipulado
Por algum tempo, a Igreja vem debatendo se deve se concentrar no evangelismo e na atividade missionária ou no cuidado e retenção de membros. De acordo com o pastor James Howard, recém-nomeado diretor de Ministério Pessoal e Escola Sabatina para a Associação Geral, a inclusão deste novo capítulo sobre discipulado combina ambos.
“Esse capítulo nos ajuda a entender que temos uma missão que inclui, por um lado, atividade missionária efetiva e evangelismo, mas que não termina depois que as pessoas são batizadas, mas também inclui garantir que tenhamos um processo sistemático para discipular as pessoas depois de seu batismo. Dessa forma, podemos educá-los em hábitos espirituais, podemos treiná-los para ganhar almas e torná-los ativos logo após o batismo”, enfatiza Howard.
Nesse sentido, esse capítulo começa dizendo que “fazer discípulos é um processo contínuo pelo qual a pessoa se torna um discípulo de Jesus Cristo, amadurece como Seu discípulo e faz mais discípulos. O batismo é uma parte essencial do processo de discipulado, mas não é o resultado final desse processo. Assim, de acordo com esse documento, a ênfase principal da grande comissão evangélica de fazer discípulos (Mt 28:18-20) contém três partes:
1. “Portanto, vão” é a ordem de Jesus para cumprir a missão. Fazer discípulos deve ser nosso estilo de vida. Devemos fazer discípulos em nossa casa, no trabalho, em nossa escola e em nossas interações diárias com outros. Devemos fazer discípulos de todas as nações, tribos, línguas e povos. O objetivo de testemunhar e evangelizar é fazer discípulos (Mt 10:25; Mt 28:19, 20).
2. Batizá-los “em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo” não é o objetivo final, mas uma parte importante do processo de discipulado, pois à medida que as pessoas passam a reconhecer Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, elas se tornam parte de sua igreja e se comprometem a fazer mais discípulos. Os discípulos são batizados no corpo de Cristo, a igreja. Seu compromisso de obedecer a Cristo, fazendo outros discípulos, deve ser demonstrado antes do batismo.
3. Ensiná-los “a guardar todas as coisas que tenho ordenado” indica que ensinar é uma experiência vital e contínua de amadurecimento no discipulado. O “ensino” deve ocorrer antes e depois do batismo.
“Ellen White afirma que depois que as pessoas são batizadas, esse é o momento em que devemos colocá-las para trabalhar. Então, isso nos ajuda a incluir tudo isso na grande comissão de ir e fazer discípulos”, disse o pastor Howard.
Membros comprometidos com a missão
O capítulo adicionado menciona ainda que um discípulo é “aquele cujas escolhas, decisões e visão de mundo estão sendo transformadas pelo Espírito Santo por meio da Palavra de Deus”. Nesse sentido, para que um discípulo cresça e se desenvolva, ele precisa ter uma vida devocional pessoal ativa, deve ministrar aos outros, ter uma abordagem de evangelismo em que as necessidades das pessoas sejam atendidas, deve ser fiel e obediente aos ensinamentos da Bíblia, e, finalmente, levar pessoas aos pés de Jesus e ao batismo (um discípulo também discipula outros).
De acordo com o pastor Howard, este capítulo tem como objetivo não apenas reavivar a igreja, mas também reter melhor os membros: “Com essa inclusão, esperamos melhorar a porcentagem de retenção de membros. Nos últimos 50 anos, cerca de 4 em cada 10 batizados saíram da igreja, e gostaríamos de ver esse número reduzido, talvez para 2 ou 3. Nunca eliminaremos todas as perdas, porque você não pode controlar as decisões das pessoas, mas podemos fazer um trabalho muito melhor para reduzir esse número”.
Depois de agradecer a iniciativa de incluir esses conceitos no discipulado, Alida Audrey Mbadinga, delegada da Missão do Gabão (Divisão Africana Centro-Ocidental), mencionou que o objetivo que este capítulo busca atingir será alcançado se a igreja se comprometer a segui-lo, e o progresso é monitorado nesse sentido.
“Não queremos apenas impedir que as pessoas saiam; queremos que as pessoas sejam ativas na igreja, e isso ajudará a multiplicar nossos discípulos, e será realmente a única maneira de terminar a obra. Portanto, essa ênfase em fazer discípulos é exatamente o que a igreja precisa, e agradeço a Deus por isso”, resumiu o pastor Howard.
Marcos Blanco é pastor, doutor em Teologia e gerente editorial da Associação Casa Editora Sul-Americana (ACES), na Argentina.