A pergunta mais frequente
Como ajudar outras pessoas a conhecer profundamente a Bíblia
A história se repete a cada período de férias. Não importa a cidade, Estado ou região: a pergunta é basicamente a mesma. O que me chamou a atenção desta vez foi que o questionamento agora veio do outro lado do mundo. Um amigo, também pastor, que vive em um país na Oceania, pediu para nos encontrarmos ‘online’ para conversar.
O desafio diante dele era que assunto bíblico estudar com um amigo de origem árabe. Isso inclui não apenas questões culturais, mas principalmente religiosas. O tal amigo árabe se aproximou do pastor e pediu ajuda, demonstrando interesse em assuntos espirituais. Queria conhecer mais sobre a Bíblia e do Deus que ali se apresenta. Sem titubear, o pastor se colocou à disposição e agendaram então, para a semana seguinte, um encontro formal para o início do bate-papo.
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Foi nesse ponto que entrei na história. Logo em seguida ao seu encontro com o árabe, o pastor, muito animado, virtualmente me contou como seu amigo havia se aproximado das Escrituras e como estava agora interessado. Contudo, o pastor não tinha tanta certeza por onde começar.
“Paulo,” disse ele, “você já está no Oriente Médio há mais de seis anos. O que devo fazer, que livros, materiais, estudos bíblicos você me recomenda. Não me sinto seguro sobre a direção certa a seguir e não quero perder essa oportunidade.” Embutida na sua honesta dúvida está implícita a pergunta que mais recebemos ao voltarmos ao Brasil para as nossas férias: “Como é fazer missão com os muçulmanos? O que vocês falam, como funciona? Contem para nós, por favor.”
Essa é a maior curiosidade e pergunta recorrente pelas igrejas por onde passamos, e pelo jeito não se restringe ao Brasil. Com a curiosidade, percebo implícito nesse questionamento um forte desejo missionário de aprendizado, como se os seus interlocutores buscassem um aprimoramento na sua forma de cumprir a grande comissão onde se encontram.
Vidas diferentes, histórias diferentes
Contudo, para ser bem honesto, minha resposta nem sempre é o que o desejam ouvir. Isso porque quando o assunto é missão, as coisas não são tão exatas quanto na matemática. Isso me traz à mente a confusão de Nicodemos quando Jesus disse: “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai…” (João 3:8).
As coisas espirituais precisam ser discernidas espiritualmente. E do ponto de vista humano, muitas vezes, aparentemente não fazem sentido. Ou pelo menos não obedecem o limitado padrão metodológico desenvolvido por mortais. Deus vai além, muito além da nossa capacidade de engessarmos Seus caminhos que levam à restauração e salvação dos Seus filhos.
O que quero dizer é que nesse período de vivência no campo missionário e em viagens para outros países de minoria cristã já testemunhei histórias de conversão das mais diversas. Verdadeiros milagres. E praticamente nenhuma história se assemelha à outra como metodologia missionária.
Conheci pessoas que sonharam com Jesus ou tiveram visões sendo convertidas, enquanto outras foram alcançadas através da leitura e estudo do próprio Corão. Uma parte foi convertida através de debates apologéticos e questionamentos. Já outras através de estudos bíblicos convencionais. Enfim, de tudo um pouco. O que me levou a entender, de fato, que os caminhos de Deus são mais altos que os nossos (Isaías 55:8-10). Em Sua onipotência e onisciência, Ele está disposto a ir a extremos para buscar as moedas, ovelhas e filhos perdidos.
Confiança na direção divina
O que disse para meu amigo pastor foi exatamente isso: não existe uma fórmula mágica quando o assunto é missão e evangelismo, apenas alguns princípios essenciais. Vou além: a metodologia escolhida é sempre secundária e depende muito da pessoa que está interessada. Se eu estivesse no lugar dele, primeiramente procuraria focar no meu amigo. Orar muito por ele e então construir um relacionamento sólido para, então, através de uma conversa franca e honesta, descobrir onde ele se encontra em sua jornada espiritual e o que deseja saber.
Identificar suas expectativas, dúvidas e medos é fundamental antes de começar qualquer missão com outra pessoa ou família. A partir desse ponto, e com muita dependência do Espírito Santo para lhe dar sabedoria e sensibilidade, você pode começar a conduzi-lo para conhecer mais das Escrituras e, consequentemente, o plano de Deus para a sua vida.
De maneira lenta e gradual, partindo do conhecido para o desconhecido, atento e sensível à comunicação, sempre cuidadoso em usar uma linguagem que ele entenda, ajudá-lo a desenvolver uma visão bíblica do mundo e do grande conflito. Assim, passo a passo ele estará apto a escolher de que lado deseja estar quando ressoar a trombeta e Jesus aparecer nas nuvens do céu.
Paulo Rabello é pastor e hoje atua no Oriente Médio.