No Dia Nacional do Luto, Fadba leva esperança a quem perdeu queridos
Ação em conjunto dos cursos de teologia e psicologia enfatiza a fé e a esperança na superação do luto através de vídeos em redes sociais
Daniel Vieira tem 62 anos. Perdeu seu pai e irmão para a Covid-19 em menos de 1 mês, durante a primeira onda da pandemia. Os dias pareciam não ter fim para ele, após a morte repentina de duas pessoas tão significativas em sua vida. Apesar de crer em Deus, o desânimo ao enfrentar todos os dias a ausência dos seus era muito maior do que sua força para reagir, naquele momento. Ele estava vivendo dias de luto! Mas, será que o luto precisa ser vivido mesmo? Se sim, qual o tempo de normalidade para ser vivenciado? Quem tem fé, ainda assim passa pelo processo do luto?
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Projeto virtual
Para responder diversos questionamentos em torno da morte e trazer alívio aos quem enfrentam perdas dolorosas de familiares e amigos, os cursos de Teologia e Psicologia da Faculdade Adventista da Bahia (Fadba), realizam, no Dia Nacional do Luto, um projeto virtual com mensagens de esperança compartilhadas por teólogos e reflexões preciosas por psicólogos, sobre como reagir diante da morte de entes queridos.
A ação, contou com a participação de alunos de teologia da Fadba, que gravaram vídeos com mensagens de apoio e esperança. “Quando eu percebo que um simples ato de gravar uma mensagem pode ajudar alguém, me sinto motivado a continuar falando sobre como o amor de Jesus é capaz de curar nossas dores emocionais, especialmente neste tempo tão delicado de pandemia em que estamos vivendo, com muitas perdas de pessoas amadas e problemas emocionais”, coloca Rafael Santos, que está no segundo ano do Seminário.
Para a estudante do último ano do curso de Psicologia, Vitória Cordeiro, que gravou um dos vídeos do projeto, enfatiza a importância do luto ser vivido. “Não existe uma fórmula e nem um passo a passo que amenize o sofrimento. A dor deve ser vivenciada. Cada pessoa experimenta o luto de maneira singular. Alguns choram, deixe que chorem. Outros se calam, respeite o silêncio. Outros querem ficar sozinhos, respeite o espaço. O que não se pode é esperar que todos reajam ao luto da mesma forma. Não existe um jeito certo, existe a dor! E o jeito de saber como lidar com ela é conhecendo e sentindo. Sendo assim, troque frases como: “Eu sei o que você está sentindo” por “Eu não conheço a sua dor, mas estou aqui à disposição para lhe apoiar neste momento de luto”, explica.
Segundo o professor dos cursos de Teologia e Psicologia da Fadba, Pr. Willian Oliveira, a fé é considerada um dos mais importantes elementos de resiliência frente à dor. Em certos momentos da vida, as únicas coisas que restam ao ser humano são a sua crença e comunidade de fé para encontrar suporte. “Paulo lembra que ele podia suportar todas as coisas em Deus, mas como foi bom para ele, encontrar o apoio de sua igreja (Fil 4:13 e 14). A Palavra de Deus oferece um quadro que explica a causa do sofrimento e ainda mais, uma esperança de que lá no fim Ele próprio nos restaurará”, finaliza.
Entrevista
A Agência Adventista Sul-Americana de Notícias entrevistou a coordenadora técnica do Serviço de Psicologia da Fadba, Paula Ferreira, sobre como enfrentar o luto e lidar com pessoas que estão passando por este processo de dor e perda. Confira!
O que é o luto?
O luto é um período da experiência humana de adaptação às perdas. Perdas em geral. Muitas vezes as pessoas entendem que o luto está relacionado à morte, mas não necessariamente. Você pode experimentar o luto simplesmente pela interrupção de uma vivência abrupta. Como a perda de relacionamentos com pessoas próximas, e inclusive, a perda de convivência com bichos de estimação.
O luto é vivenciado e superado por etapas?
As etapas do luto envolvem no geral, primeiro uma fase de negação. Essa fase passa pela raiva, barganha, um quadro meio depressivo até que chegue à aceitação. Claro que não é linear essa lógica e nem todos passam por estes sentimentos, ou não percebem que passam. Tudo vai depender de como foi a perda e as características da própria pessoa.
Luto e depressão
Há um tempo limite para o processo do luto ser considerado normal?
A gente entende que se uma pessoa vivenciou a perda adequadamente, na medida possível, que é: não medicar nas primeiras 72h da perda, permitir que a pessoa vivencie o ritual do velório. No geral, se são respeitadas estas necessidades humanas de enfrentamento da morte, entendemos que quando a perda é traumática e fora da normalidade, o luto pode se estender mais. Geralmente isso ocorre também quando havia pendências emocionais com o ente querido. E nestes casos, é necessário a ajuda de um profissional para sair do estado de luto. Quando o luto atravessa muito tempo, 6 meses, 1 ano, a pessoa pode estar em uma depressão.
Como identificar que o luto evoluiu para uma depressão?
PF: Tem como identificar que o luto não foi superado, percebendo a perda da capacidade produtiva do indivíduo. Perda do trabalho laboral, perda de interesse em atividades que fazia antes, mudança no apetite, insônia. A pessoa sinaliza a perda da capacidade de realização.
O momento de pandemia tem feito com que a sociedade encare a vida e o luto de outra forma?
Estamos vivendo um momento traumático e de muitas perdas. A pessoas, muitas vezes, não tem tempo de se reestabelecer psiquicamente de uma perda e já tem outros processos de luto, por perdas diferentes. Então, acredito que não podemos mensurar as consequências a longo prazo. As pessoas vivem em alerta constante devido a transmissão do vírus e tantas outras perdas que tivemos neste processo. É possível que teremos que administrar muitas questões do luto mais para a frente, quando as pessoas estiverem vacinadas, o coronavírus mais controlado e já podendo retomar suas atividades. Neste tempo, será necessário um suporte psicológico muito intenso de pessoas que não tiveram como simbolizar o seu luto.
Quem tem fé em Deus, enfrenta o luto de uma forma diferente?
A fé é um componente essencial para o enfrentamento de um luto, porque se você acredita em um ser superior, a superação e o consolo virão mais rápido. Mas, isso não quer dizer que quem tem fé não necessite, em um momento de perda, de uma ajuda profissional, de repente por uma pendência emocional com o ente que se foi. Tivemos experiências de pessoas que tinham uma fé bem elaborada e atravessaram um luto doloroso e mais intenso por estas questões.