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Mulheres evangelizam comunidade e erguem igreja no norte da Bahia

Grupo feminino caminhava cerca de 10 quilômetros para levar a mensagem de fé ao povoado de Itacurubi.


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Desde os tempos bíblicos, mulheres têm desempenhado papéis fundamentais na propagação da fé e no fortalecimento das comunidades religiosas. Personagens como Débora, profetisa e juíza que liderou Israel à vitória, e Ester, cuja coragem salvou seu povo, são exemplos de como a liderança feminina é essencial para o desenvolvimento espiritual da sociedade.

Inspiradas por essas figuras bíblicas, as mulheres do norte baiano têm seguido seus passos, evangelizando comunidades e erguendo igrejas em regiões muitas vezes esquecidas. Com dedicação, elas pregam, lideram projetos comunitários, oferecem apoio emocional e espiritual, e criam espaços de acolhimento.

Conversão e compromisso

No ano 2000, a Igreja Adventista do Sétimo Dia de Riacho, povoado no município de Saúde, na Bahia, realizou um período de estudos bíblicos no povoado vizinho de Itacurubi. A equipe missionária era composta exclusivamente por mulheres, que todos os dias percorriam cerca de 10 quilômetros entre os povoados para levar a mensagem. Elizabeth, uma das integrantes da equipe, relatou a rotina. "Nós andávamos por matas fechadas, geralmente por volta de meio-dia. Ao chegar em Itacurubi, visitávamos casa por casa. Foi então que conhecemos uma mulher muito especial, a Roseli. Minha estratégia era pedir água na casa dela todos os dias, como uma forma de nos aproximarmos e, gradualmente, oferecer os estudos bíblicos. Ela relutou um pouco no início, mas logo percebemos que era a mais interessada nos temas dos estudos”, contou Elizabeth.

Ao final do período de evangelismo, Roseli foi a primeira a ser batizada, e, desde o dia em que decidiu seguir Jesus, dedicou sua vida à pregação.

Roseli (à direita) foi batizada em uma noite de domingo no ano 2000. No sábado seguinte, ela já estava pregando em sua igreja. (Foto: Tiago Conceição)

Roseli começou sua missão abrindo um pequeno grupo, onde pessoas se reuniam semanalmente sob sua coordenação, visando o crescimento espiritual. O pequeno grupo logo começou a crescer, atraindo cada vez mais membros da comunidade. "Começamos a frequentar os cultos no povoado de Riacho todos os sábados, pois não havia igreja em Itacurubi. Por isso, acordávamos às cinco da manhã e, por volta das cinco e meia, saíamos andando com crianças e jovens. De adultos, éramos apenas eu e a irmã Luisa, que também foi fruto do nosso pequeno grupo. Por um bom tempo, caminhamos cerca de dez quilômetros até Riacho para participar dos cultos," relembrou.

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Desejo divino

"Nasceu dentro de mim o desejo de construir uma igreja onde eu pudesse congregar com todos que estavam aqui em Itacurubi, especialmente porque só conseguíamos ir à igreja de Riacho aos sábados. Pensei: 'Meu Deus, como vou conseguir uma igreja? De onde vou tirar dinheiro para comprar um terreno? De onde vou tirar dinheiro para construir?'. Por isso, comecei a orar. Como eu fazia evangelismo aos finais de semana, as pessoas sempre davam uma pequena oferta, então guardei esse dinheiro com o intuito de construir uma igreja," compartilhou Roseli.

No final de 2009, a evangelista recebeu uma oferta no valor de 150 reais após realizar um projeto missionário na região. Ao voltar para casa, Roseli descobriu que havia um pedaço de terra sendo vendido pelo mesmo valor. "Então, eu perguntei ao meu pai: 'Quanto ele está pedindo?'. Ele disse para mim: 'Ele está pedindo 150 reais'. Eu falei: 'Ah, meu pai, vai comprar para mim'. Então, meu pai comprou o terreno e, no finalzinho de 2009, eu já tinha o terreno. Entretanto, os recursos, de onde viriam? Como eu ia fazer para construir? Enquanto isso permaneci orando a Deus, buscando ao Senhor, sempre confiando", relatou.

"Vamos vender a vaca!"

Quando criança, Roseli ganhou uma bezerra de seu avô. Ele desejava que, quando ela estivesse noiva, a vaca fosse vendida para custear sua festa de casamento. "Então, eu disse ao meu pai: 'Como vou me casar se não temos uma igreja? Eu não posso me casar sem ter uma igreja! Então, vamos vender a vaca e construir a igreja. Quando a igreja estiver pronta, aí, sim, me casarei'. E assim foi feito."

Dessa forma, a construção começou. Enquanto isso, os frequentadores dos cultos da nova igreja se reuniam embaixo de uma lona furada. Muitas vezes, quando chovia, assistiam a toda a programação com um guarda-chuva. Apesar das adversidades, a fé e dos membros não foi abalada. Eles se uniram em oração, acreditando que a construção de um lugar de adoração se concretizaria.

A obra avança

Paredes erguidas, igreja construída. Finalmente, o povoado de Itacurubi deixou de se reunir sob a lona. Mas um novo problema surgiu: os membros perceberam que a estrutura construída estava cedendo, então buscaram pedaços de madeira para montar colunas e sustentar a igreja, erguida com tanto esforço. "Pedindo ao Senhor que nos enviasse ajuda, ouvi uma voz que disse: 'Tudo o que você precisa para a reforma desta casa já lhe foi dado. Levante-se e vá buscar.' Essa voz era um comando, uma ordem. Então, me levantei, convoquei toda a igreja para uma reunião, li a Palavra e contei o que tinha ouvido para motivar a igreja a buscar ajuda."

A igreja no povoado de Riacho antes da construção e como está atualmente. (Foto: Reprodução)

"Parte da congregação presente não acreditou, mas minha irmã, que ouviu meu relato, foi para casa e, na madrugada, começou a orar ao Senhor. Então eram três mulheres: eu, minha irmã e minha mãe, que era a nossa coluna de oração", continuou.

Um sonho real

O desafio agora era mudar a parte externa da igreja, mais uma etapa para as três mulheres que compartilhavam o mesmo sonho. "Muitos começaram a rir de nós, porque não temos nada de dinheiro. Ao conversar com alguns pedreiros, recebi orçamentos de 70 mil, 50 mil e outros 37 mil. Então, mesmo triste, voltei para casa. E a voz veio novamente, forte e intensa: 'Tudo o que você precisa para a reforma desta casa já foi dado.'", relatou.

E assim ela fez. Roseli decidiu buscar mais ajuda, e dessa forma, encontrou corações interessados ​​em colaborar. O prefeito da cidade, ao conhecer a situação, ofereceu o apoio necessário para dar início à obra. Além disso, a sede administrativa da Igreja Adventista para o Norte da Bahia se uniu a causa e trouxe recursos fundamentais para realizar a reforma. A união de todos, impulsionada pela fé e determinação, tornou o que antes parecia impossível, em realidade

“Mas se nos entregarmos completamente a Deus, e seguirmos Sua direção em nosso trabalho, Ele mesmo Se responsabilizará pelo cumprimento." Ellen G. White (Foto: Tiago Conceição)

Após receber a resposta de suas orações por meio de auxílios inesperados, a igreja de Itacurubi estava pronta para ser inaugurada. Hoje, ao relembrar o longo processo de construção, e a dedicação de cada pessoa envolvida, Roseli espalha o testemunho de fé e resiliência por onde passa. "Vivenciamos muitos milagres, incontáveis mesmo! Cada etapa desta construção me faz refletir sobre como Deus age constantemente. Ele sempre tem um plano e atende nossas necessidades da melhor maneira possível. Eu costumava dizer: 'Deus proverá para Si o cordeiro', e muitos não compreendiam, mas eu sempre acreditei que tudo estava nas Suas mãos. Quando nos dispomos a realizar a obra de Cristo, Ele nos responde e nos atende", contou com alegria.