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Menos da metade dos adventistas na América do Sul leem a Bíblia todos os dias

Pesquisa revelou os hábitos de leitura da Bíblia, estudo da Lição da Escola Sabatina e livros de Ellen White


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Dados demonstram que aqueles que leem a Bíblia com mais frequência tendem a compartilhar mais a sua fé (Foto: Shutterstock)

A vida cristã pressupõe algum nível de envolvimento em leituras, estudos e momentos de comunhão com Deus. Para entender os hábitos dos adventistas do sétimo dia nesses aspectos, um estudo mundial foi realizada para traçar esse perfil. 

Em um comunicado assinado pelo pastor Ted Wilson, presidente mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ele explica que entre cada Assembleia da sede mundial adventista (Associação Geral), evento que reúne líderes e membros de todos os continentes, uma pesquisa é realizada para compreender o que pensam os adventistas ao redor do globo. 

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A edição mais recente da Pesquisa Mundial Adventista de Membros contou com 102.190 pessoas que responderam todas as perguntas, no ano de 2022. Rodrigo Romanelli, diretor de Arquivo, Estatística e Pesquisa para oito países da América do Sul, explica que a amostragem foi feita considerando templos de diversos tamanhos e regiões, para obter um retrato fidedigno da membresia. 

Ao analisar essas respostas, é possível “ajudar os líderes a entender o que os membros acreditam e praticam. As perguntas incluem atitudes e comportamento religioso e espiritual, a vida familiar, participação na comunidade e a mensagem adventista de saúde, entre outros assuntos”, comenta Ted Wilson. 

Durante o quinquênio de 2020 a 2025, a Igreja Adventista tem como ênfase o incentivo ao estudo da Bíblia. Na América do Sul, diversos projetos foram desenvolvidos e estão sendo aplicados para que mais membros adotem essa prática. 

Comunhão diária 

Nas questões relacionadas aos hábitos de estudos, os resultados apontam que menos da metade dos adventistas na América do Sul leem a Bíblia todos os dias. Em números absolutos, 49,3% das mulheres e 48,2% dos homens mantém a prática. 

Segundo o Centro de Engajamento da Bíblia, uma organização norte-americana sem fins lucrativos, dados coletados desde 2003 indicam que aqueles que leem a Bíblia ao menos quatro vezes por semana tem 228% mais chances de compartilhar sua fé com outras pessoas. 

Benefícios práticos 

Ou seja, se ela se alimenta de conhecimento cristão, também vai prover a quem está no seu dia a dia. É isso que Maria Eduarda Moreira Ferreira, de 16 anos, faz. Ela é a única adventista na casa em que mora com a mãe, o irmão e o padrasto, em Goioerê, no interior do Paraná, a cerca de 500km da capital, Curitiba. 

Seus primeiros passos na igreja foram a convite de uma amiga da escola. Depois de algumas idas e vindas, passou a participar do Clube de Desbravadores e foi batizada. Com essa decisão, veio um novo hábito: o de estudar a Bíblia, a Lição da Escola Sabatina e livros de Ellen White. 

Quando se fala da Lição da Escola Sabatina, disponível em versões para todas as idades, a proposta é que seja estudada diariamente. Os dados da pesquisa adventista demonstram que o número dos que seguem essa sugestão é um pouco menor do que os que leem a Bíblia diariamente, sendo 44,3% das mulheres e 43,7% dos homens. Pouco menos de um quarto dos membros estudam mais de uma vez por semana, mas não todos os dias. 

Diariamente antes de ir para a escola, Maria Eduarda escolhe um lugar na casa em que sua família a veja e abre sua Bíblia e a Lição da Escola Sabatina. Quando a mãe passa, a jovem compartilha algum trecho ou impressão. Aos poucos, espera causar tamanha influência que ela se decida pelo batismo. 

Aplicação do conhecimento 

Outra pergunta, no entanto, mostrou a dificuldade em aplicar o que é aprendido na Bíblia. Aproximadamente 25% dos adventistas concordam plenamente com a afirmação de que o que leem no livro sagrado tem efeito prático na vida real. Outros 53,9% dos homens e 55,8% das mulheres apenas concordam. 

Dando respaldo à importância de praticar o que se lê, o livro bíblico de Tiago, no capítulo 1, verso 22, diz: “E lembrem-se: Coloquem em prática a palavra, e não sejam apenas ouvintes. Portanto, não se enganem: pois se uma pessoa apenas ouvir e não a colocar em prática é semelhante a um homem que olha o seu próprio rosto num espelho; e, depois de olhar para si mesmo, logo que se afasta não se lembra de como é a sua aparência. Entretanto, se continuar olhando com firmeza na lei de Deus que traz a liberdade e não a esquecer, mas praticar o que ela diz, Deus abençoará grandemente essa pessoa em tudo quanto fizer” (Nova Bíblia Viva, em português). 

Os adventistas do sétimo dia, além da Bíblia e do auxílio da Lição da Escola Sabatina, creem também que os escritos da norte-americana Ellen White são inspirados por Deus e ajudam a compreender os textos bíblicos. 

Eles, no entanto, não são considerados de igual importância ao Livro Sagrado, mas uma luz menor que aponta para a luz maior. Isso significa que não estão em nível de igualdade, mas são complementares. 

E esse conceito foi testado e provado por Denise França. A designer gráfico de 40 anos leu o primeiro livro da autora ainda na adolescência. Um exemplar de Eventos Finais despertou nela a vontade de entender melhor os sinais da volta de Jesus. Ali naquela versão de bolso, fez anotações em várias páginas e, em uma viagem de ônibus, encontrou um homem que começou a fazer perguntas sobre esse Jesus e Sua vinda. Ela se deu conta de que era a única entre seu grupo de amigos, todos adventistas, que conhecia um pouco mais sobre o tema. 

Em um momento de inspiração, decidiu doar o seu livro para aquela pessoa. Não se sabe o que aconteceu com ele, mas aquela experiência a motivou a seguir estudando. Ela é parte das 11,2% de mulheres que têm o hábito diário da leitura de livros escritos por White. Entre os homens, são 12,4% que reservam um momento todos os dias para ler suas orientações. 

“Eu me sinto acolhida, amparada. Não estou sozinha. Tem coisas que eu estou vivendo que já foram orientadas e explicadas, faz sentido. Isso torna minha vida mais leve”, conta Denise sobre sua experiência com esse conteúdo. 

Agora, ela quer incentivar outras pessoas. Por isso, participa de uma classe bíblica em sua igreja, na Bahia. Lá, criou um clube do livro para a leitura de obras de Ellen White. Assim, as pessoas podem acompanhar, discutir e compreender a mensagem juntas.  

Em suas iniciativas para falar sobre esses livros, se encontrou com uma pessoa que se sentiu motivada a começar a ler por conta de seu testemunho. Apesar de ser membro da Igreja Adventista, essa mulher não cria que Ellen White tinha sido inspirada por Deus. Mas ao iniciar a leitura, pôde ampliar sua compreensão e hoje mudou de opinião. 

A adolescente Maria Eduarda, assim como Denise, começou cedo em suas leituras. Ela ganhou uma coleção de livros de Ellen White em sua igreja, já leu quase todos e garante que os benefícios são inúmeros.  

Por manter uma rotina de estudos da Bíblia, Lição da Escola Sabatina e Ellen White, ela diz: “Eu me sinto em paz, me abre respostas de perguntas que estão na minha cabeça. Quando eu leio a Bíblia, elas são respondidas. Quando eu tenho dúvida ou medo de alguma coisa, eu procuro saber o que Deus quer para mim”, declara. 

Para o pastor Edward Heidinger, secretário-executivo da Igreja Adventista para oito países sul-americanos, “nós, como cristãos, somos chamados para cumprir uma missão aqui na Terra. Jesus nos chamou para isso. Só que é impossível cumprir a missão se primeiro nós não temos comunhão. Comunhão é o início do processo da vida cristã. Então, estudar a Bíblia, a Lição, e compreender as profecias e conselhos deixados por Ellen White é o alimento que nós todos precisamos para iniciar esse processo."