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Inabaláveis 

A força das mulheres é algo impressionante e inspirador, especialmente quando elas estão firmadas em Deus


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A história está cheia de mulheres cujas fé e coragem revolucionaram não apenas as suas vidas, mas a de muitas pessoas ao seu redor. (Arte: Shutterstock)

Eu gosto muito de ouvir histórias de pessoas. E, em meio a tantas histórias incríveis, nós, mulheres, temos uma forma peculiar de contar as nossas. 

Minha mãe tem várias irmãs. Quando eu era criança, gostava de me deitar entre elas enquanto contavam o seu cotidiano. Elas falavam dos romances que estavam vivendo, desabafavam, sempre me olhando de soslaio para se certificarem de que eu não estava escutando “certos detalhes”. Eu fingia estar dormindo para poder ouvi-los. 

Nesses muitos anos de “escuta” eu desenvolvi uma profunda admiração e respeito pela resiliência e a tenacidade femininas. A resistência das mulheres muitas vezes contrasta com sua imagem; algumas são pequenas e fisicamente frágeis, mas têm uma força interior absurda. 

O cristianismo é cheio de histórias de mulheres incrivelmente fortes. Nós precisamos conhecê-las para fazer delas pilares para a nossa própria narrativa. Independentemente da forma como as culturas se organizam, sempre há mulheres fazendo história, e vou contar algumas. 

Lá no Japão 

Por volta de 1889, o evangelista Abram La Rue distribuía pelas ruas do Japão algumas publicações contendo a mensagem do advento. No ano seguinte, nascia uma menina chamada Aiko. Por pouco a chegada de Aiko não coincidiu com a chegada do adventismo no país, mas essas histórias se entrelaçariam mais à frente. 

Inexplicavelmente, Aiko ficou cega na adolescência. Ela buscou formas de restaurar sua visão, inclusive com métodos que envolveram muito dinheiro. Mas, infelizmente, as tentativas não tiveram sucesso e ela pensou em tirar sua própria vida. Naquela época, a massoterapia era uma ocupação tradicional no Japão para pessoas com deficiência visual. Aiko se tornou uma excelente massoterapeuta e as coisas pareciam ter mudado para ela. 

Aiko conheceu Araki. Logo eles se casaram e tiveram um filho. Mas, em seguida, Araki morreu de tuberculose. Aiko, então, era uma jovem mulher, viúva, cega e com uma criança para criar sozinha. Pense em tamanho sofrimento dessa moça! 

Aos 26 anos, Aiko conheceu a Jesus, foi batizada e começou a trabalhar como instrutora bíblica. Ela levava a Bíblia à casa de algum amigo ou vizinho e pedia que alguém lesse para ela. Escolhia textos que intrigassem os leitores, para que ela pudesse explicá-los. O interesse pelas Sagradas Escrituras só aumentava e Aiko era uma imbatível ganhadora de almas. 

Mas uma sequência de conflitos políticos e guerras tornou o Japão hostil ao cristianismo. As igrejas cristãs eram vigiadas pelo governo e os missionários adventistas estrangeiros foram proibidos de entrar no país. Em 1943, parecia que a Igreja Adventista havia sido erradicada do país, mas, silenciosa e incansavelmente, Aiko continuava compartilhando o Evangelho com pessoas próximas. Ela fazia visitas e marcava grupos de estudo da Bíblia com pessoas de confiança.

Aiko Araki lendo sua Bíblia em braile (por volta de 1980) 

Contudo, sua atividade chegou ao conhecimento das autoridades. Aiko teve sua preciosa Bíblia em braile confiscada pela polícia e foi hostilmente interrogada. Os policiais olharam para aquela mulher cega, pequenina e de modos serenos, não viram nenhuma ameaça, então a libertaram. Porém, lhe ordenaram não falar mais sobre Jesus.  

Naquela manhã de setembro, Aiko saiu solitária do prédio da polícia e não tinha para onde ir, pois sua casa havia sido destruída por ataques aéreos. Ela não tinha o que comer e muitos de seus companheiros crentes estavam presos. Sofrendo com a lembrança de sua pequena e amada igreja, Aiko seguiu orando. Ela sempre falara aos outros da importância da oração e, naquele momento, era a única coisa que tinha. “Minha vida está repleta de oração. Na verdade, minha vida é a oração”, ela afirmou. 

Com sua perseverança e força vindas do céu, Aiko conseguiu reunir mais de 40 adventistas numa cidade portuária e os liderou. Seus irmãos de fé diziam que a simples presença de Aiko os enchia de coragem. Eles se encontravam em montanhas, cemitérios e locais que não levantassem suspeitas. Em cada reunião, sob chuva ou sol, lá estava Aiko, enrolada em um cobertor ou debaixo de um guarda-chuva. 

Pequena, cega e frágil, Aiko sustentou a Igreja Adventista no Japão e foi um instrumento implacável na expansão do cristianismo naquela região. Se Deus pôde usar uma mulher como ela, também poderia usar uma grande, alta e de maneiras rudes, certo?

Nos EUA 

Você já ouviu falar de Carrie Nation? Ela fazia parte de um grupo de mulheres ativistas do século XIX. Sua luta era contra a intemperança, sempre tentando proteger as mulheres de maridos abusivos que ficavam ainda mais agressivos após o consumo de álcool. Apesar de ter sido uma mulher importante nesse movimento, sua biografia ficou reduzida a uma meia dúzia de piadas. Isso porque ela tinha um método de agir pouco convencional: invadia os bares com a Bíblia e uma machadinha nas mãos, expulsava os bêbados, quebrava barris de bebidas alcóolicas e derrubava as garrafas das prateleiras. Em dez anos de “ministério”, foi presa mais de 30 vezes. 

Ela se descrevia como o “bulldog de Jesus, correndo ao seu lado e latindo para tudo de que ele não gosta”. Ao contrário de Aiko, Carrie era uma mulher alta e forte: 1,80m e 76kg de pura ousadia. A história conta que ela entrava nos bares e cumprimentava os presentes assim: “Bom dia, destruidores de almas!” Puxava seu machado e cantava: “Quebra! Quebra! Pelo sangue de Jesus! Quebra!” O simples anúncio de sua chegada a uma cidade era suficiente para os bares fecharem as portas até ela ir embora. Carrie Nation foi um nome importante na causa da temperança (que levou à Lei Seca) e pelos direitos das mulheres nos EUA.

Carrie Nation segurando sua Bíblia e sua machadinha com as quais militava em favor da segurança das mulheres (por volta de 1900)

 Na França

A grande verdade é que Deus pode usar qualquer mulher que se disponha a ser um instrumento, seja ela a única cristã na família ou parte de uma longa tradição ministerial, assim como Marie Durand. Ela foi uma protestante francesa do século XVIII, presa aos 19 anos de idade por professar sua fé. Seu pai ficou na cadeia por 14 anos pelo mesmo motivo. Seu irmão era um notável pregador e foi enforcado no mesmo ano em que o pai foi solto. 

Marie ficou confinada na Torre de Constance com outras mulheres. Se ela renunciasse sua fé, seria solta imediatamente. Essa oferta lhe era feita todos os dias. Bastava dizer "eu renuncio". No entanto, ela sempre dizia “eu resisto”. Ela até entalhou numa pedra a palavra "résister", como sinal de sua posição inflexível. Essa inscrição está até hoje na torre.

Prisonnières huguenotes à la Tour de Constance, de Jeanne Lombard (1907)

 Marie Durand permaneceu presa por mais de 38 anos. Ela foi liberta em 1768 e morreu oito anos depois, com sua fé inabalável. 

Histórias como essas fortalecem a nossa fé e a nossa consciência de feminilidade. Que o seu coração esteja em Deus, firme como uma rocha, e que nele esteja entalhado “eu resisto”, como sinal de que você, mulher, sempre irá perseverar em Cristo.


Vanessa Meira é educadora e doutora em Teologia.

Este artigo foi originalmente publicado no Espaço Afam.