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Identificação é a chave para o ingresso de mulheres na ciência, diz pesquisadora

Para a doutora Maura Eduarda, a presença feminina no meio científico é cada vez mais forte e inspira novas gerações


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Alguns contextos sociais ainda representam barreiras para que mulheres possam se dedicar à carreira acadêmica, mas nenhuma é intransponível (Foto: Shutterstock)

Em 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a data de 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência. Esta iniciativa tem como propósito celebrar as realizações de mulheres no meio científico e inspirar novas gerações a abraçarem esta carreira.

Neste mesmo sentido, a Agência Adventista Sul-americana de Notícias (ASN) conversou com a bióloga e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), Maura Eduarda, sobre os desafios e relevância da presença feminina no meio científico. Acompanhe a entrevista.

Qual a sua percepção sobre a presença de mulheres no meio científico?

Eu sou daquelas que vibram ao ver uma mulher numa posição de destaque, e sinto que isso vem crescendo nos últimos anos. Talvez ainda não seja uma presença tão forte, mas temos visto muitas instituições importantes para a ciência sendo conduzidas e recebendo a contribuição de mulheres. É encantador ver como elas conseguem se posicionar e como representam tão bem a força e a inteligência do gênero. E isso é importante para a identificação, porque quando uma menina vê uma mulher aparecendo e se destacando, ela pensa: “eu quero ser como ela”. É um incentivo.

Ainda há barreiras a serem quebradas nesse meio?

A minha percepção é que, atualmente, no meio científico, não há tantas barreiras para que as mulheres possam contribuir e chegar a posições de destaque. Talvez a dificuldade esteja um pouco antes, por contextos sociais como ter uma família e filhos, cuidar da casa e, assim, não conseguir se dedicar tanto à carreira acadêmica. E não é fácil, mesmo! Eu tive o privilégio de receber bolsa para o meu doutorado, então, pude me permitir não ter um emprego e me dedicar apenas aos estudos, mas a maior parte da população não pode se dar o luxo de dizer “eu vou apenas estudar”. Mas as mulheres cada vez mais percebem que a academia não é um caminho impossível. Pode ser que para algumas seja mais difícil, como também é difícil para alguns homens, mas há oportunidades. Por isso a identificação é tão importante. Se eu mesma não recebesse a influência de mulheres fortes, talvez não tivesse a inspiração para chegar aonde cheguei.

Para você, o que significam “oportunidades iguais”?

Significa que, quando uma empresa ou instituição está precisando de um profissional, ela não precisa escolher uma mulher pelo simples fato de ser mulher, mas considerar mulheres e homens para a vaga pela sua qualificação e competência para o trabalho. Tanto homens quanto mulheres são muito competentes e capazes.

Você falou em inspiração. Cite uma mulher no meio científico que te inspira.

Existem muitas cientistas incríveis. É muito legal ver no Instagram do Prêmio Nobel a quantidade de mulheres que vêm recebendo essa honra. Mas, voltando a uma época em que nenhuma mulher jamais havia ganhado um Nobel, eu penso na Marie Curie, que simplesmente ganhou dois prêmios Nobel, em duas áreas diferentes. Ninguém nunca conseguiu repetir esse feito. E ela teve dificuldades para chegar aonde chegou, porque não tinha muitas condições financeiras e viveu numa época em que mulheres eram proibidas de frequentar universidades. Ela trabalhou para pagar os estudos da irmã e, quando esta se formou, trabalhou para pagar os estudos dela. Ela trabalhava durante o dia, estudava à noite, dava aulas e, superando tudo isso, se tornou uma mulher incrivelmente relevante para a ciência do século 20 e de um modo geral. É uma história de vida que me inspira e me faz pensar: “eu também posso chegar lá!”

Fale um pouco sobre a sua pesquisa no doutorado.

Eu desenvolvi a minha pesquisa no Departamento de Patologia da faculdade de medicina da USP. O meu objeto de estudo foi a influência da poluição atmosférica na gestação. Foi um trabalho estatístico para encontrar uma associação entre a concentração de poluentes no ar e desfechos gestacionais, como o baixo peso ao nascer, prematuridade e até bebês natimortos.

Que contribuições essa pesquisa pode trazer para a sociedade?

A partir do momento em que a gente entende que a poluição afeta a saúde, a gente dá munição para o governo estabelecer parâmetros de concentração de poluentes no ar e políticas públicas em torno do assunto. Em algumas cidades, por exemplo, há estações que medem a qualidade do ar com base em parâmetros estabelecidos justamente a partir de pesquisas como essa. E, considerando que esses estudos mostram os riscos e consequências de diferentes níveis de poluição, como problemas respiratórios e no sistema cardiovascular, eles trazem soluções inclusive financeiras para o governo, afinal, investimentos em políticas públicas representam economia em tratamentos médicos para a população.

Recentemente, você coordenou um museu nas ilhas Galápagos, no Equador. Fale sobre esse trabalho.

Como coordenadora, eu gerenciava toda a rotina do Origins – Museum of Nature. Outro trabalho importante é a assistência a pesquisadores. Um dos objetivos do museu é ser um ponto de apoio para cientistas com a cosmovisão criacionista que queiram realizar pesquisas em Galápagos, porque há um processo muito burocrático para conseguir isso, e ter alguém por lá que conheça a região, as pessoas, as autoridades e os trâmites para se conseguir uma autorização é essencial. Também há planos de receber voluntários que queiram trabalhar por um tempo no museu e conhecer Galápagos, fazer parcerias com a Fundação Charles Darwin para projetos de extensão, receber a visita de escolas para conhecerem a cosmovisão criacionista, realizar projetos em parceria com o colégio adventista local e um projeto de diagnóstico de saúde no arquipélago em parceria com o mestrado em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Em resumo, a nossa intenção com o museu Origins é dar atenção às pessoas, divulgar o Criacionismo e fomentar a pesquisa científica.