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Há 150 anos a Igreja Adventista dava seus primeiros passos em expansão pelo mundo 

Marco foi o envio de J. N. Andrews, o primeiro missionário oficial da Igreja no exterior


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Monumento situado no campus da Universidade Andrews, em Berrien Springs, Michigan, EUA, mostra J. N. Andrews e seus dois filhos, Charles e Mary. (Foto: Universidade Andrews)

Era 16 de outubro de 1874. John Nevins Andrews chegava a Neuchâtel, na Suíça, com a responsabilidade de iniciar a propagação da mensagem adventista naquele país. Vindo dos Estados Unidos, viúvo, com dois filhos adolescentes, com a saúde debilitada e sem saber falar o idioma local, sua missão parecia um desafio impossível.

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Também não fora uma decisão fácil para a Associação Geral (hoje, sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia) enviar o seu primeiro missionário oficial ao exterior. A Igreja ainda estava em seu início, e qualquer das pessoas capacitadas faria muita falta nas reuniões administrativas e no trabalho de expansão do adventismo no território norte-americano. Depois de tanto procrastinar a decisão, em agosto de 1874 uma comissão votou o envio de Andrews à Europa. Apesar das circunstâncias pessoais adversas, ele era, sem dúvida, a figura mais qualificada para essa missão. 

As finanças também eram um enorme obstáculo. Àquela época, o mundo passava por uma recessão econômica que, inevitavelmente, atingiu a Igreja. As despesas para enviar um representante além-mar não poderiam ter vindo num momento pior. Além disso, a Associação Geral ainda não tinha implementado um protocolo administrativo para a manutenção de missionários no exterior, e Andrews partiu sem salário. Muitas vezes, em campo, ele precisou poupar comida, recorrer às suas poucas economias pessoais e contar com ajudas informais. 

A ida de Andrews à Europa foi, de fato, um passo de fé. Mas ele sabia que sua missão era necessária e urgente, e fez um trabalho primoroso. Relacionou-se com as pessoas, escreveu cartas, anunciou a mensagem adventista em jornais, pregou em ambientes públicos, batizou conversos, plantou igrejas e organizou o trabalho evangelístico na região. Também criou e se empenhou fortemente na propagação da revista missionária Les Signes des Temps (Sinais dos Tempos), que foi crucial na expansão do adventismo pela Europa, e que existe até hoje. 

Desde o continente europeu, a missão da Igreja Adventista tem avançado para o restante do mundo atravessando as portas que Andrews abriu. 

Legado que inspira 

Passaram-se 150 anos desde o envio de Andrews à Suíça. No museu da sede sul-americana adventista, em Brasília, uma coleção com edições originais da Les Signes des Temps, de 1876 a 1879, honram a memória do valioso trabalho desse missionário. Para o presidente da Igreja Adventista neste território, pastor Stanley Arco, a dedicação dos pioneiros à difusão da mensagem do advento é comovente e inspiradora. “Precisamos olhar para esses homens e mulheres de fé com os olhos atentos de um aprendiz e ser motivados pelo seu exemplo”, afirma. 

O senso de missão ainda pulsa fortemente na Igreja Adventista, e ela continua investindo na preparação e no envio de missionários a diferentes partes do mundo, inclusive a regiões onde o cristianismo é minoritário. Mesmo os países majoritariamente cristãos representam um desafio. Neles, a grande tarefa é levar as pessoas a um conhecimento profundo da Bíblia, especialmente em pontos pouco abordados por outras denominações, como as profecias e a volta de Jesus. Nesse contexto, a Igreja tem trabalhado com diferentes estratégias, como as missões urbanas, para alcançar as pessoas em seus respectivos contextos. 

“Hoje, pela graça de Deus, temos muito mais recursos e pessoas para a obra evangelística; esse é um privilégio e uma enorme responsabilidade. Eu louvo a Deus pelos nossos missionários que estão em campo, dando o melhor de si, e por cada membro que, mesmo sem atravessar fronteiras, vive a missão. Como no passado, que o Espírito Santo continue atuando maravilhosamente em nós e por meio de nós”, expressa Arco. 

Tempo de celebração 

Como um movimento que começou pequeno, hoje a Igreja Adventista celebra seu crescimento com muita gratidão a Deus. São cerca de 22 milhões de membros espalhados por 215 países e territórios, e instituições de saúde, educação, assistência social, entre outras áreas, e tudo começou com a disposição de missionários para deixarem a vida que construíram e se espalharem pelo mundo para preparar as nações para o retorno de Jesus. 

No marco dos 150 anos do início dessa expansão, a Associação Geral está enviando uma família de missionários à Suíça para um trabalho semelhante ao de Andrews. É claro que o cenário atual é bastante diferente. Se, por um lado, os recursos e as ferramentas de comunicação hoje são abundantes, por outro, a cultura pós-moderna é um obstáculo que a família Contero precisará enfrentar. “Uma das diferenças entre mim e Andrews é que a Suíça de hoje é muito mais secular do que a Suíça que Andrews encontrou. Tristemente, na Europa, o Cristianismo está em decadência”, afirma o pai da família, Jonathan Contero. 

Veja nessa reportagem mais detalhes sobre a expansão do adventismo pelo mundo:

Quem foi J. N. Andrews

John Nevins Andrews foi um dos pioneiros e mais proeminentes líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Nascido em 1829 num povoado rural em Poland, Maine, nos Estados Unidos, recebeu uma educação formal limitada, mas era ávido leitor e autodidata. 

De base metodista, aderiu ao movimento milerita em 1843, experimentando o Grande Desapontamento no ano seguinte. Mas ele manteve a fé e, com sua dedicação à obra e suas muitas habilidades, incluindo a de oratória, logo ganhou destaque na incipiente comunidade adventista. Tornou-se um grande evangelista e plantador de igrejas em diversos estados norte-americanos e mentoreou outros pregadores e pastores. 

Andrews serviu como presidente da Associação Geral, da Associação de Nova Iorque e como editor da Review and Herald (a primeira editora da Igreja Adventista). Com suas habilidades em gestão e liderança, mediou tensões na sede da Igreja e a representou junto ao governo norte-americano no pedido por objeção de consciência durante a Guerra Civil. 

Andrews foi um dos pioneiros na compreensão e defesa das crenças fundamentais do adventismo, como a guarda do sábado e o retorno iminente de Cristo. Também foi um grande entusiasta da reforma de saúde. Escreveu obras icônicas, panfletos e artigos sobre temas teológicos e doutrinários. Suas contribuições ajudaram a moldar a teologia e a identidade adventistas, e ele foi um dos responsáveis pela elaboração dos estatutos e pela organização legal da Igreja. 

Andrews aprendeu sozinho a ler em idiomas estrangeiros e era proficiente em línguas bíblicas, como o grego e o hebraico. Como primeiro missionário enviado oficialmente pela Igreja Adventista ao exterior, desempenhou um papel fundamental na expansão desta, especialmente na Europa. 

Faleceu em 1883, aos 54 anos de idade, de tuberculose, enquanto ainda estava ativo em seu ministério na Suíça. 

Antes de Andrews 

Embora John Nevins Andrews tenha sido o primeiro missionário enviado oficialmente pela Igreja Adventista ao exterior, anos antes, em 1864, o imigrante polonês Michel Czechowski havia viajado à Europa como missionário não-oficial. Graças a ele, um grupo de guardadores do sábado se estabeleceu em Tramelan, na Suíça. 

Por alguma razão, Czechowski não mencionou haver uma Igreja organizada nos EUA, e aquele grupo na Suíça achava ser o único no mundo com suas crenças. Foi em 1868, ao ler uma publicação da Review and Herald deixada por Czechowski, que Albert Vuilleumier soube da existência da Associação Geral. Em 1869, o grupo contatou a sede adventista solicitando o envio de um ministro para pastoreá-los e ajudá-los a propagar a mensagem do advento na região. 

Andrews atuava como editor da Review and Herald quando recebeu a correspondência dos irmãos europeus. Em acordo, ficou decidido que o jovem Jacob (James) Erzberger iria de Tramelan à sede para aprender mais sobre a Igreja Adventista. 

Erzberger chegou a Battle Creek em maio de 1869, a tempo para a assembleia da Associação Geral. Ele foi o primeiro delegado estrangeiro a participar de uma sessão como aquela. Foi recebido na casa de Tiago e Ellen White. Enquanto Tiago lhe ensinava sobre a Bíblia, John H. Kellogg lhe ensinava inglês. 

Tempos depois, Erzberger foi morar com Andrews, em Rochester. Por vários meses, ele ficou sob sua mentoria, estudando as crenças e a política adventistas. Em 1870, foi ordenado pastor e comissionado para voltar à Europa para ministrar aos guardadores do sábado na Suíça. 

Anos depois, Erzberger foi um importante colaborador do trabalho de Andrews, logo que este chegou ao seu novo campo missionário. 

Desde 1874, 10 anos se passaram até que outro missionário, Haskell, e outras quatro famílias fossem enviados ao exterior (à Austrália, especificamente). A Igreja estava, de fato, amadurecendo seu senso de missão mundial. Em 1889, foi estabelecido na assembleia da Associação Geral o Comitê de Missões Estrangeiras. A partir daí, a missão da Igreja pelo mundo disparou.


Referências

ADVENTIST REVIEW. Adventistreview.org, 2024. Magazine article: John Nevins Andrews. Disponível em: https://adventistreview.org/magazine-article/john-nevins-andrews/ Acesso em: 13 maio 2024. 

ENCYCLOPEDIA OF SEVENTH-DAY ADVENTISTS. Encyclopedia.adventist.org, 2024. Article: Andrews, John Nevins (1829–1883). Disponível em: https://encyclopedia.adventist.org/article?id=C8VX Acesso em: 13 maio 2024. 

ENCYCLOPEDIA OF SEVENTH-DAY ADVENTISTS. Encyclopedia.adventist.org, 2024. Article: Erzberger, Jakob H. (1843–1920). Disponível em: https://encyclopedia.adventist.org/article?id=7AGI Acesso em: 13 maio 2024. 

M150 EP06 - The Sending of John N. Andrews to Europe. Entrevistado: Dr. Gilbert M. Valentine. Entrevistadores: Sam Neves e David Trim. [S. l.]: Adventist Review TV, 04 maio 2023. Podcast. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=98m-qBvqZQw Acesso em: 13 maio 2024.


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