“Fazer o bem me fez ver o lado humano das pessoas”, afirma voluntário que atua durante pandemia
Semanalmente o grupo percorre toda cidade de Canoas em busca de moradores de rua e pessoas em situação de pobreza extrema
O comércio fechado e a ausência do agitado trânsito no fim de tarde de domingo mostram um aparente cenário de vazio no centro de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O silêncio do centro urbano em quarentena é quebrado com a chegada de quatro carros com bagageiros lotados de comidas, roupas, sapatos e voluntários cheios de vontade de ajudar o próximo. O desligar dos motores faz surgir um grande número de pessoas que, numa primeira impressão, pareciam que não estavam ali. São moradores das marquises e calçadas que não possuem um teto para se abrigar e se proteger do frio, da fome e da falta de amor.
“Tchê, quem aí gostaria de um lanchinho ou cobertor?”, pergunta uma das voluntárias que divide os assistidos em filas e os ajuda a manter o distanciamento social. Usando camisetas e máscaras azuis, que são verdadeiros uniformes do projeto, eles oferecem de tudo, desde máscaras de tecido a sapatos e roupas. Quando os beneficiados são questionados, afirmam que apenas a atenção e o carinho oferecidos já são um presente. “Cara, é muito bom saber que tem esse grupo da igreja que ama a gente e está aqui todo o domingo nos ajudando, principalmente agora nesse frio do inverno”, afirma Roni de Sousa e Sousa, que dorme diariamente no calçadão de Canoas.
Os voluntários fazem o trabalho rapidamente. Em menos de 20 minutos entregam os donativos, se despendem e partem para outros locais da cidade. “Além do centro, nós entregamos no bairro Mathias Velho, no estacionamento do Hospital de Pronto-Socorro e próximo a BR 116. A gente busca fazer um trabalho completo com eles”, afirma Rafael Fischer, um dos assíduos voluntários.
Formado por jovens da igreja adventista de Niterói, um dos maiores bairros canoenses, o grupo já fazia esse trabalho há anos. No entanto, a pandemia do novo coronavírus ajudou a efetivar a atividade. “O projeto era mais voltado ao período do inverno. Logo no início da pandemia a gente entendeu que deveria fazer esse trabalho de maneira fixa”, explica Rafael Fogassi, um dos líderes do projeto.
O grupo que sai às ruas é reduzido para evitar aglomeração durante o manejo dos donativos. Mas a quantidade de pessoas que patrocinam o projeto, que ajudam na montagem de kits e que ajudam na divulgação amplia o número final de voluntários. O trabalho começa por volta de 18h na sede da igreja. No local, os alimentos e roupas são divididos e higienizados para tornar a entrega mais rápida. Além dos moradores de rua, pessoas que possuem residência fixa, mas que vivem abaixo da linha da pobreza também recebem ajuda.
O trabalho dos voluntários de Niterói também beneficia pessoas que foram parar nas ruas através de vício em álcool ou drogas. De acordo com Priscila Pereira, uma das organizadoras, esse é o principal motivo que leva essas pessoas a tal situação. "Com o tempo nós criamos um vínculo com eles. Alguns, inclusive, pedem ajuda para mudar de vida. Eles têm o conhecimento de que o vício é prejudicial e manifestam o desejo de mudar de vida", conta.
“Minha esposa e eu sempre tínhamos vontade de participar de projetos desse tipo. Nossa missão aqui nessa Terra de amar o próximo e estar presente ativamente nesse voluntariado fizeram toda a diferença na nossa vida”, afirma Fogassi.
Tal testemunho também é compartilhado pelo advogado Rodrigo José Frantz. Ele, que atua na preparação dos lanches e arrecadação de roupas, começou a participar logo na primeira semana de implantação fixa do projeto. “Eu entendo que isso ajuda a matar a minha fome em fazer o bem. A partir do momento que você passa a ajudar o próximo, você mesmo está se ajudando. Hoje me vejo como uma alguém que passou a entender melhor o lado humano das pessoas. Entendi que não é possível uma vida espiritual ativa sem colocar em prática os ensinamentos de Cristo”, afirma confiantemente.