Ex-traficante fala do poder da oração intercessora
História de Tonico é evidência da força da oração intercessora. Condenado a mais de 300 anos de prisão, hoje ele testemunha do amor de Deus.
Brasília, DF ... [ASN] Ao ser apresentado na Igreja Adventista do Guará, no Distrito Federal, a história do motorista Antônio de Souza Filho, 40 anos, surpreende a congregação. Afinal de contas, não é todo dia que se testemunha uma prova viva de oração intercessora como a desse homem, casado, pai de três filhos, e que mora em São Paulo. Por 18 anos, sua mãe orou por sua conversão e, segundo ele mesmo diz, aos olhos humanos era improvável que ele, Tonico, como é mais conhecido, sobrevivesse em meio a uma vida absorvido por drogas, criminalidade e distanciamento de Deus. O ex-traficante e assaltante falou de sua conversão durante o primeiro dia de uma semana especial apresentada pelo consultor Fernando Lux nessa congregação no sábado, 19, à tarde. O programa de mensagens bíblicas e testemunhos vai até o dia 26, mas a reportagem da ASN (Agência Adventista Sul-Americana de Notícias) conseguiu conversar com Tonico rapidamente enquanto ele era levado de volta ao aeroporto para retornar à capital paulista logo após ter dado seu testemunho.
ASN – Sabemos que sua história é bastante longa, mas como foi sua infância, adolescência e juventude?
Tonico – Eu nasci em 1974 em Minas Gerais, mas fui criado em São Paulo capital no Jardim Ângela, o berço da criminalidade. Minha infância foi um tanto sofrida. Fui criado em um berço espírita e meu pai, por ser macumbeiro, achava que o que ele fazia era o certo de nos levar para os centros. Às vezes, eu me embebedava e fui criado ali naquele berço de destruição. Minha mãe era católica e meu pai espírita, então a gente ia nos dois lados. E de repente, um dia, alguém falou para o meu pai sobre Jesus, alguém chamou meu pai e disse que ele tinha de mudar os comportamentos se quisesse ser feliz e próspero. E o meu pai aceitou um estudo bíblico e ele se converteu e, ele se convertendo, levou minha mãe que levou meus irmãos. Mas eu não quis nada com a igreja. Eu muito rebelde, muitas vezes achando despachos de macumba em encruzilhadas, eu me prostrava diante aquilo e comia o frango e bebia as pingas (bebida alcoólica colocada geralmente nessas oferendas) que eu encontrava. Tudo aquilo eu achava que era o certo, que era uma força maior que dominava. Fui crescendo em meio a tudo aquilo e de repente um dia comecei a experimentar drogas. De drogas leves fui indo às pesadas a ponto de que, aos 14 anos, ter sobrevivido a duas overdoses de cocaína. E a vida era assim.. não via perspectiva de um homem próspero e de futuro. Na vida eu só via derrota.
ASN – E você acabou levando você à criminalidade precocemente. Fale um pouco disso e como você se libertou?
Tonico – Fazia parte de uma quadrilha de 80 homens, moleque, ainda novo, participei de vários assaltos, muitas vezes envolvido em muitas mortes mesmo. Muitas famílias sofrendo devido a tudo aquilo. De repente de usuário de drogas eu virei traficante, tinha algumas “bocas” (controlava alguns pontos de vendas de drogas), andava todo arrogante, prepotente, cheio de ouro no pescoço e nos braços, achava que era o dono da razão. E ali, muitas vezes, a Polícia querendo matar. Minha cara passou na televisão, muitas vezes, como procurado. Mas só que nesse meio tempo minha família tinha conhecido a Igreja Adventista e minha mãe e meu pai se empenhavam muito, junto com meus irmãos, em orar por mim. Eu faço parte de uma família de sete irmãos, cinco homens e duas mulheres. Então eles orando muito por mim, pedindo para Deus ter misericórdia. E Deus começou a fazer alguns livramentos a ponto de eu ter tomado tiro e não ter morrido. Alguns acidentes, muita perseguição a ponto de eu ter ido parado em um presídio.
ASN - E depois?
Tonico - Parei em um presídio pequeno, do presídio pequeno fui parar no Carandiru no Pavilhão 9 (foi uma das maiores penitenciárias da América Latina onde ocorreu um massacre de 111 presidiários, em 1999, e Tonico estava ali e foi um dos sobreviventes) e do Pavilhão 9 fui para o Presídio de Segurança Máxima Presidente Venceslau no interior de São Paulo. Ali não tem perspectiva de fugir. Passei coisas piores lá dentro a ponto de guerrear com outros inimigos, mas Deus já estava com o plano Dele traçado para minha vida. Já não era plano de Deus eu morrer sem salvação. E a minha mãe com meus irmãos perseverando na oração. E de repente ali minha mãe me ofereceu uma Bíblia, eu aceitei e eu li essa Bíblia toda em meses, mas não entendia nada porque lia de qualquer jeito. Mas, na segunda vez, minha mãe me instruiu a orar a Deus, a pedir a Deus para me dar uma oportunidade. E eu passei a ler a Bíblia toda de novo; eu li a Bíblia em 1 ano e 7 meses e ali eu comecei a ver que Deus estava mudando meus comportamentos. Porque eu já não usava mais drogas, já tinha parado de usar drogas, já não gostava mais de confusão e era mais reservado. E em um determinado dia, quando eu terminei de ler a Bíblia, eram 6 horas da manhã, quando o guarda abriu a cela ele me falou que minha liberdade tinha chegado. A minha pena estava chegando a 360 anos, então eu não tinha perspectiva de sair antes dos 30 anos (tempo máximo para cumprimento de pena no Brasil). Eu fiquei somente oito anos preso.
Todo mundo pergunta para mim: “como você veio embora?”. Eu digo: “vai perguntar para Deus”, pois eu não tenho explicação para isso não sei explicar como eu saí daquele lugar. Se quiser saber a resposta é se converter a Deus e ver o que Ele faz. Hoje eu estou oito anos dentro da Igreja, a vida transformada, a família transformada, feliz, hoje eu não vivo com luxo, sou um assalariado, mas Deus cada dia me dá minha porção, vivo à base de lutas, mas eu sei o Deus que eu sirvo hoje, que é o Deus da vitória. Pois o deus da derrota ficou para trás. Ele é derrotado desde o início, vai ser até o fim, mas não desiste.
Sou fruto da oração intercessora, durante 18 anos minha mãe orou por mim e intercedeu junto a Deus por mim. Eles prenderam meu corpo, mas não sepultaram minha alma. Cercaram meus passos, mas não corromperam meus sonhos; eles foram apressados em apontar meus erros, mas nunca imaginaram que um dia eu teria êxito; eu sofri, mas a dor me fez crescer. [Equipe ASN, Felipe Lemos]