Especialistas destacam o papel dos pais na rotina dos filhos durante a pandemia
A importância de ajustar os hábitos das crianças e adolescentes enquanto ficar em casa ainda é a única opção.
“Muitos dos meus jovens e adolescentes estavam me contando que eles não assistem os sermões, a classe bíblica, não leem a Bíblia, a hora de dormir e acordar bagunçou completamente e muitos estão vivendo uma vida inútil porque não existe uma rotina.” A fala é do pastor Daniel Meder, da igreja adventista central de Curitiba e resume a situação espiritual de muitos adolescentes. Segundo ele, a falta de rotina afeta a espiritualidade.
E não é só a espiritualidade que pode ser prejudicada. A saúde física e mental, o desenvolvimento intelectual, o aprendizado, tudo está em jogo nesse momento. Com a quarentena, crianças e adolescentes passaram a ficar em casa em tempo integral e os pais tiveram que começar a desempenhar tarefas que antes delegavam para a escola.
Para a psicóloga Keila Bomfim, os pais são responsáveis pela situação em que os filhos se encontram. “Os filhos não são independentes. Devem ter desenvolvido muita autonomia com certeza, mas não são independentes. Logo, é impossível estarem praticando esse tipo de rotina destrutiva mental e emocionalmente sem a permissão dos pais. Seja uma permissão deliberada mesmo, ou seja, uma permissão por omissão. O fato é que há a permissão”, avalia.
A situação, segundo Bomfim, é preocupante e merece atenção. “Muitos pais infelizmente ainda não entenderam que não estamos em férias. Não é um feriado super prolongado, e não sabemos ao certo o quanto essa situação ainda vai durar. Não sei ao certo se estão num processo emocional de negação da realidade, ou se apenas não estão dispostos a assumir o papel que lhes cabe, de orientar seus filhos. Talvez os dois”, alerta Bomfim.
Rotina com acompanhamento
Quando se trata da rotina nos estudos, a psicopedagoga Maiza Rudiniki explica o papel dos pais, tanto na adolescência quanto na infância.
Para ela a adolescência é o momento de continuar perto, mas nos bastidores. “É necessário auxiliar nos desafios propostos, instigando-os a enfrentar as situações, a descobrir suas potencialidades. É um acompanhamento no formato de “monitoria”, para que o jovem possa perceber a preocupação da família, e ter a quem recorrer caso seja necessário", analisa.De acordo com a educadora, a criança depende de uma rotina da qual os pais façam parte diretamente. “É preciso traçar combinados para que as atividades dos pais sejam realizadas e de igual modo, possam acompanhar as tarefas das crianças”, explica.
Foi o caso de Rosenilda Amorim, que teve que se ajustar aos horários de estudos do filho Caio, de 8 anos. “Mudei meu horário de trabalho para poder acompanhar meu filho, porque se não, ele não ia conseguir, ele precisa de ajuda”, conta.
O alerta dos especialistas deixa claro que é necessário estar presente, estar disponível uns para os outros e isso é ainda mais importante para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.