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Entenda quem são os adventistas do sétimo dia

Uma síntese da origem, história e crenças da Igreja Adventista do Sétimo Dia aos que desejam entender o que caracteriza a denominação.


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Culto de sábado durante assembleia mundial dos Adventistas do Sétimo Dia realizada em 2015 em San Antonio, nos Estados Unidos. (Foto: Anthony White/NPUC/NAD).

Na perspectiva de Agostinho de Hipona, o ser humano foi feito para Deus e só encontrará descanso quando se voltar para Seu criador.[1] Como é difícil viver essa experiência na solidão, pois as pessoas buscam uma comunidade religiosa/espiritual, onde possam se expressar e buscar apoio. A religião, para Émile Durkheim (1858-1917), é “um sistema solidário de crenças e de práticas relativas as coisas sagradas... que reúnem numa mesma comunidade moral chamada igreja, todos aqueles que a elas aderem.”[2] Inúmeras igrejas, com diferentes crenças, buscam satisfazer as necessidades espirituais das pessoas.

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De acordo com o Centro para Estudos no Cristianismo Global, existem hoje 49.000 denominações/práticas cristãs no mundo e, em 2050, serão 64.000[3]. Essa diversidade gera dúvidas quando as pessoas entram em contato com uma nova denominação. No caso da Igreja Adventista do Sétimo Dia, as perguntas giram em torno do que ela representa, qual foi sua origem, quem foram seus fundadores e por que adotaram este nome. O propósito desse artigo é responder a estas perguntas.   

O que é a Igreja Adventista do Sétimo Dia

Segundo o teólogo Alberto R. Timm, “a Igreja Adventista do Sétimo Dia é um movimento profético comprometido com a exaltação da pessoa e obra de Jesus Cristo e com o processo de restauração final dos ensinos bíblicos.”[4] Essa definição básica explica sua natureza (origem profética), foco (motivação cristocêntrica) e sua missão (ênfase restauracionista).   

A Igreja Adventista do Sétimo Dia é parte do movimento cristão ao longo da história e se considera uma sucessão da igreja cristã primitiva, fundada por Jesus Cristo no primeiro século (Mateus 16:16-18), passando por diferentes etapas, conforme as setes igrejas do Apocalipse (Apocalipse 2-3). Os adventistas adotam as mesmas crenças básicas do cristianismo inicial, considerando a Bíblia como a palavra inspirada de Deus (2 Timóteo 3:16); crendo na salvação pela graça mediante a fé no sacrifício de Cristo (Efésios 2:8-10). Além disso, a Igreja Adventista entende a Deus como uma trindade coeterna (Mateus 28:18). Os adventistas enxergam a igreja como a comunidade de fé que recebe a todos que aceitam a Cristo como Salvador e Senhor (Mateus 16:16-18; Efésios 2:20) e que o evangelho deve ser pregado a todo o mundo (Mateus 24:14).

Apesar de partilharem muitas crenças em comum com outros cristãos, adotam doutrinas distintivas como a perpetuidade da lei de Deus e do sábado (Êxodo 20:3-17; Mateus 5:17-20; Romanos 8:3-4; Apocalipse 12:17); o ministério de Cristo no santuário celestial (Hebreus 8:1-4; Daniel 7:9-27; 8:13-14); a segunda vinda de Cristo (Mateus 24; João 14:1-3; Atos 1:11; Apocalipse 1:7); a imortalidade condicional da alma (Gênesis 2:7; ) e o dom profético manifestado na pessoa e nos escritos de Ellen G. White (João 2:28-29; Apocalipse 12:17; 19:10)[5].

Embora os adventistas honrem John Wyciffe, Martinho Lutero, William Tyndale, João Calvino, John Knox, John Wesley e “outros grandes líderes do passado, cujo conhecimento trouxe nova luz e levou a igreja” a compreender mais plenamente a vontade de Deus, creem que Deus tem dado luz especial nestes últimos dias, não percebida pelos líderes cristãos de antigamente[6]. Sua obra, portanto, é restaurar essas verdades esquecidas ao longo da história, convidando homens e mulheres a um renovado compromisso com a palavra de Deus, em preparação para o retorno de Jesus.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma denominação cristã, presente em 213 países, com cerca de 22 milhões de membros batizados e quase 90 mil congregações, liderados por 21 mil pastores, além de instituições nas áreas de saúde, educação e publicações, cujo propósito é salvar e servir. Os adventistas, para o influente periódico Cristianity Today, constituem a quinta maior comunhão cristã do mundo, depois da Igreja Católica Romana, da Igreja Católica Ortodoxa, das Assembleias de Deus e da Igreja Anglicana.[7] 

O fato de os adventistas conduzirem seus projetos evangelísticos por meio de publicações ou transmissões em 1151 línguas e dialetos, levaram alguns a classificarem o adventismo como “um dos programas missionários mais ambiciosos da história do cristianismo”[8].      

Qual foi a origem da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Os séculos XVII e XVIII constituem um período de grande despertamento religioso e interesse no estudo das profecias, com muitas pesquisas a respeito: Joseph Mede (1586-1638) publicou Chave do Apocalipse; Campegius Vitringa (1659-1722) Uma exposição do Apocalipse do apóstolo João; Johann Wilhelm Petersen (1649-1727) escreveu A verdade do glorioso reino de Jesus Cristo; Johann Albrecht Bengel (1687-1752) Sessenta discursos práticos sobre o Apocalipse; Isaac Newton (1643-1727) publicou As profecias de Daniel e Apocalipse e Manuel de Lacunza (1731-1801) La venida del Mesías en gloria y majestad, para citar alguns.[9]

Tal interesse sobre a segunda vinda de Jesus chegou ao seu auge no final do século 18, e no início do século 19. “Muitos intérpretes protestantes ficaram convencidos, mediante o estudo das profecias bíblicas, de que Cristo voltaria provavelmente ao redor da década de 1840”[10]. O batista Guilherme Miller, de Low Hampton, Nova Iorque, começou a pregar suas ideias em 1831 e teve a adesão de vários líderes evangélicos, transformando “o milerismo em um dos movimentos religiosos mais influentes na América do Norte daquela época.”[11] 

A base do adventismo partiu do texto de Daniel 8:14: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs e o santuário será purificado”. Como um dia profético equivale a um ano literal (Números 14:34; Ezequiel 4:5,6) e o período dessa visão começa no ano do decreto da reconstrução de Jerusalém (Daniel 9:25/457 a.C.) os pioneiros do movimento milerita compreenderam que o período profético se estenderia a 1844, quando o santuário, que se acreditava ser a Terra, seria purificado pelo fogo da segunda vinda de Cristo.[12][1]

Como Jesus não voltou, “o grande desapontamento” dividiu o movimento em várias direções. Muitos perderam o interesse na mensagem que haviam abraçado, voltando as suas antigas igrejas ou abandonando a fé. Entre 1844 e 1866, porém, surgiram seis movimentos que se tornaram denominações: Os adventistas de Albany (a Associação Adventista Evangélica Americana, os Cristãos do Advento, a Igreja de Deus, e a União da Vida e do Advento) e o movimento sabatista (os Adventistas do Sétimo Dia) e a Igreja de Deus (do Sétimo Dia).[13]

Após estudo profundo das Escrituras, o menor desses grupos, os adventistas sabatistas, concluiu “que o término das 2.300 tardes e manhãs apontava não para a segunda vinda de Cristo, mas para o início de uma nova fase no sacerdócio de Cristo no santuário celestial [Daniel 7:9-14; Apocalipse 11:19] bem como para o começo da proclamação das três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12.”[14]

Na manhã de 23 outubro, Hiram Edson, ao cruzar um milharal, compreendeu que naquele ano Cristo não retornou à terra, mas passou do lugar santo para o santíssimo do santuário celestial, fazendo surgir um movimento para profetizar “a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis.” (Apocalipse 10:11).

Segundo o escritor George Knight, os adventistas sabatistas, que constituíram a Igreja Adventista do Sétimo Dia, são a continuação do movimento milerita, constituindo seu “único herdeiro genuíno.” Clyde Hewitt afirmou que “os Adventistas do Sétimo Dia estão convictos de serem divinamente ordenados a cumprir a obra profética começada por Guilherme Miller. Eles se entregam totalmente à tarefa.”[15]   

Quem fundou a Igreja Adventista do Sétimo Dia

Sob o ponto de vista mais amplo, Deus pode ser considerado o fundador da Igreja Adventista do Sétimo Dia, cujas origens remontam as palavras de Jesus aos apóstolos: “edificarei a minha igreja” (Mateus 16:16). Olhando a profecia bíblica, os adventistas se veem no chamado do povo de Deus do Antigo Testamento (Gênesis 12:1-3; Êxodo 19:3-7), na vida da Igreja Cristã do Novo Testamento (Mateus 16:13-20; 28:19-20; Atos 2:38-42), na experiência dos fiéis perseguidos na Idade Média (Apocalipse 12:1-6) e no Povo Remanescente dos últimos dias, que guarda “os mandamentos de Deus e tem o testemunho de Jesus” (Apocalipse 12:17; 19:10).  

Embora várias pessoas tenham participado dos inícios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, os líderes de maior destaque foram o capitão Joseph Bates (1792-1872); o pastor Tiago Springer White (1821-1881) e sua esposa Ellen G. White (1827-1915). Esse trio constitui o núcleo fundador Igreja, sendo Bates o sistematizador da teologia, Tiago o organizador da igreja e Ellen sua voz profética.

Bates nasceu em Rochester, Massachusetts (EUA), e ajudou a formular as doutrinas iniciais do movimento, além de influenciar seu estilo de vida. Sua principal contribuição foi a sistematização das doutrinas adventistas. Tiago nasceu em Palmyra, Maine, e se tornou líder geral dos adventistas por três ocasiões. Sua visão administrativa ampliou a causa adventista a novos patamares. Uma de suas principais contribuições foi no setor de publicações. Ellen White nasceu em Gorham, Maine, e foi umas pessoas mais influentes na história do Adventismo. Seu ministério e escritos são considerados inspirados por Deus e ela foi aceita pelo movimento como profetisa, logo nos primeiros anos.[16]  

O que significa o nome Adventista do Sétimo Dia

No dia 1º de outubro de 1860, os adventistas do sétimo dia adotaram este nome, que apresenta aspectos relacionados a duas ênfases que a igreja deveria fortalecer: a observância do sétimo dia e a volta de Jesus[17]. O nome une dois componentes escatológicos significativos. O primeiro é a palavra adventista. Em Tito 2:13, a Vulgata Latina traduz o termo vinda como adventum. De forma implícita, a palavra adventista, que se origina de adventus, recorda e aponta para o cumprimento escatológico da segunda vinda de Cristo (João 14:3; Apocalipse 1:7).

A segunda palavra é sétimo dia. A origem está no livro de Gênesis, 2:1-3, onde é dito que Deus abençoou o sétimo dia. No antigo judaísmo, entendia-se que o sábado “era uma mostra antecipada da eternidade” no mundo.[18] O descanso de Hebreus 3:11 e 4:3 tem sua ênfase na experiência espiritual em Cristo, que é o início da vida eterna que continuará no céu e na nova terra (Isaías 66:22-23; Apocalipse 22:1-5).

Estes dois componentes constituem o cerne da identidade dos adventistas, que se consideram uma comunidade focada em restaurar o sábado nos últimos tempos e proclamar a segunda vinda de Cristo. Um adventista do sétimo dia, em síntese, “é um cristão que observa o sábado e que está se preparando para a segunda vinda do Salvador.”[19]  

É importante ressaltar, no entanto, que os adventistas do sétimo dia acreditam e ensinam sobre salvação em Jesus Cristo e na graça que transforma a vida, bem como em outras crenças alicerçadas na Bíblia.

Onde encontrar respostas sobre o Adventismo?

Para quem deseja continuar pesquisando sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia, sugiro a leitura do livro Nisto Cremos: crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia (https://cpb.com.br/produto/5227/nisto-cremos - usar esse link); o acesso ao site oficial da denominação (www.adventistas.org) ou o envio de uma mensagem com as perguntas para a assistente virtual para estudos bíblicos chamada de Esperança (12 98283-0016). Para quem deseja visitar uma igreja para participar dos cultos, acesse o site www.encotreumaigreja.com.br.

Quem quiser fazer perguntas sobre o que creem os adventistas, pode usar o agente de Inteligência Artificial.

Deus o abençoe!  Seja bem-vindo à família da esperança! 


Ribamar Diniz é doutorando em Teologia Sistemática (UAP), mestre em História (UNIFAP) e especialista em Missão Urbana (SALT/FADBA), atuando como pastor na Associação Norte do Pará e Professor visitante na Faculdade Adventista da Amazônia (Faama).  

Referências:

[1] AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Principis, 2019, p. 15

[2] DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 32.   
[3] LAUSANNE MOVEMENT, “Denominações Cristãs”. Disponível em: https://lausanne.org/pt-br/report/o-que-e-cristianismo-policentrico/denominacoes-cristas#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20Centro,%3B%20e%20em%202050%2C%2064.000. (Acesso: 04 de abril de 2025).

[4] BORGES, Michelson. A Chegada do Adventismo ao Brasil. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira [CPB], 2000. Depoimento de Alberto R. Timm.

[5] TIMM, Alberto R. O santuário e as três mensagens angélicas: fatores integrativos no desenvolvimento das doutrinas adventistas, 6ª ed. (Engenheiro Coelho: Unaspress, 2016).

[6] KNIGHT, George R. (editor). Perguntas sobre doutrina: o clássico mais polemico da história do Adventismo. Tatuí, São Paulo: CPB, 2008, p. 34. 

[7] ZYLSTRA, Sarah Eekhof. “The Season of Adventists: Can Ben Carson’s Church Stay Separatist amid Booming Growth?”. Disponível em: https://www.christianitytoday.com/2015/01/season-of-adventists-can-ben-carson-church-stay-separatist/. (Acesso: 04 de abril de 2025).

[8] SANTOS, Silvano Barbosa dos. Em missão: fundamentos, história e oportunidades, 2ª ed.  Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, e Universidad Adventista de Chile, 2003, p 177.

[9] AGUIAR, Adenilton Tavares de. “O diálogo Inter-Religioso e o lugar da IASD”. Kerygma 8 (1). Engenheiro Coelho (SP), 2012, p. 30. Disponível em: https://www.revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/117. (Acesso: 04 de abril de 2025).

[10] Revista Adventista, junho de 2002, p. 8.

[11] Revista Adventista, junho de 2002, p. 8.

[12] WHITE. O grande conflito, 43a ed.Tatuí, São Paulo: CPB, 2008, capítulo 23

[13] KNIGHT, George R. Adventismo: origem e impacto do movimento milerita. Tatuí, São Paulo: CPB, 2015, p. 304.

[14] Revista Adventista, junho de 2002, p. 8, 9.

[15] KNIGHT. Adventismo, p. 313.

[16] KNIGHT, George R. Joseph Bates: The Real Founder of Seventh-day Adventism. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 2004. DICK, Everett, Fundadores da mensagem, 3ed. Tatuí, São Paulo: CPB, 1993.

[17] WHITE, Ellen G. Testimonios para la Iglesia, tomo 1 (Bogotá, Colombia: APIA, 2003), p. 204. Mais detalhes em DINIZ, Ribamar; TÉCIO, Alves. 150 años de Conducción Divina: Una breve historia de los 150 años de la Iglesia Adventista del Séptimo Día (1863-2013). Cochabamba, Centro de Estudios Elena G. de White, 2013

[18] DINIZ, Ribamar. “El nombre ‘Adventistas del Séptimo Día’ y identidade escatológica.” Revista Doxa, Ano 1, n. 1, 2011, p. 63-64.

[19] HOLBROOK, Frank B. “What Prophecy Means to This Church”. Ministry, julho de 1983, p. 21.