De 23 a 25 de maio, o ambiente tranquilo do Mardunas, na beira do lago do São José de Mipibu, no Rio Grande do Norte, se transformou em solo missionário. No local, foi realizada a convenção de Pequenos Grupos “Fazer Discípulos: Nossa Identidade”, promovida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, reunindo 600 líderes e membros anfitriões dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí.

Com o objetivo de renovar o propósito dos Pequenos Grupos como comunidades discipuladoras, o evento promoveu uma experiência espiritual intensa, relacional e transformadora. Já no primeiro dia, os participantes vivenciaram um momento de intercessão e escuta em grupo, recebendo tapetes de oração e sendo desafiados a interceder uns pelos outros durante sete dias. Essa dinâmica reforçou o cuidado mútuo e a importância da oração intencional como base de toda ação missionária.

Um dos momentos mais marcantes aconteceu ainda na madrugada: os líderes foram acordados no meio da noite e conduzidos pelos pastores até a beira do lago. Sob o céu segurando nuvens de chuva (que só caiu após o término da cerimônia), e em clima de reverência, participaram de um devocional em redes, realizaram o lava-pés e celebraram a Ceia do Senhor. O simbolismo do ato, unido ao ambiente natural e à presença de Deus, gerou profunda comoção entre os participantes.

Dividida em momentos de assembleia e momentos de workshops específicos, os públicos atingidos foram representativos do que se considera a “rede” de Pequenos Grupos: pastores, coordenadores, líderes, anfitriões e membros. “A convenção foi pensada para ser mais do que um momento informativo. Ela foi uma experiência. Uma vivência transformadora que vai ressignificar conceitos e abrir portas para novas atitudes nos Pequenos Grupos”, explicou Péricles Barbosa, líder de Pequenos Grupos para a Igreja Adventista na região Nordeste.

Uma estrutura viva, relacional e discipuladora

Para os participantes, a convenção foi uma oportunidade de alinhar a prática à missão original dos Pequenos Grupos e a necessidade do “pastoreio” por parte de todos, e não apenas do pastor, propriamente dito. Nas palavras do pastor Charles Fabian, doutor em missiologia e palestrante do evento: “Os Pequenos Grupos são o modelo mais próximo da igreja apostólica. Ali, em comunidade, as pessoas descobrem seus dons, testemunham de Cristo e compartilham o evangelho de forma orgânica”, enfatizou.

O pastor Jean Quenehen, líder da área de PGs na região Centro-Oeste e também palestrante da convenção no Rio Grande do Norte, reforçou a ênfase no discipulado: “O propósito do Pequeno Grupo é o discipulado. Imitar Jesus no dia a dia, viver o cristianismo para além da reunião semanal. E isso só é possível quando temos uma rede ativa, que motiva, apoia e ensina”.

Em oficinas, rodas de conversa e paineis colaborativos, os líderes exploraram temas como pastoreio intencional, liderança relacional, formação de discípulos e vivência do amor prático de Cristo. O pastor Mizael Almeida, que atua na cidade de Paranaíba, no interior do Piauí, destacou uma das ações mais simbólicas do encontro: “Entregamos um tapete a cada líder, simbolizando o compromisso de orar uns pelos outros durante sete dias. É um chamado à consagração, à intercessão e ao fortalecimento espiritual mútuo”.

A anfitriã de Pequeno Grupo, Lauane de Souza, destacou o impacto da proposta: “O que mais me tocou foi ser lembrada de que tudo parte do amor. Só o amor verdadeiro, que vem de Deus, nos sustenta neste ministério”.

Discipulado: nossa identidade e missão

Para o pastor Alijofran Brandão, presidente da Igreja Adventista para o Nordeste, o PG precisa ser mais que um encontro semanal: “Quando histórias se conectam, vidas são transformadas. O Pequeno Grupo é um ambiente onde minha vida influencia a do outro e somos ambos transformados por Cristo. O PG é onde o discipulado acontece. Onde a gente cuida, ensina, acolhe e forma novos discípulos. Isso é missão viva”.

A líder Mila Alcoforado, de Recife, levou consigo a dica prática dos “três Os”: ouvir, orientar e orar - passada em uma das plenárias. Para ela, o chamado à liderança é um convite a viver como Jesus. “Ser líder não é cumprir checklist. É buscar as pessoas, ouvir com empatia e se importar com elas de verdade”, afirmou.

Já Clécio Barros, anfitrião, declarou que voltará para seu PG com o compromisso de fazer mais que receber: “Aprendi que receber é apenas o começo. Preciso pastorear e amar como Jesus me amou”. A coordenadora distrital Jaqueline Oliveira, de Alagoas, resumiu o sentimento comum a todos: “Representar Cristo é ser luz. Onde há luz, não há trevas. É isso que queremos refletir nos nossos PGs: luz, compaixão, cuidado e discipulado!”, enfatizou.

Discipulado que gera frutos

Entre tantas histórias que marcaram a convenção, o testemunho de Samara Meireles tem um destaque especial. Coordenadora de uma rede de Pequenos Grupos na Missão Piauiense, ela tem desenvolvido um trabalho exemplar na cidade de Teresina, promovendo uma estrutura sólida, vibrante e verdadeiramente discipuladora.

Com sensibilidade e visão, Samara organizou uma rede que não apenas reúne pessoas, mas forma líderes, acolhe novos membros e acompanha o crescimento espiritual de cada participante. Seu método envolve pastoreio intencional, multiplicação de dons e fortalecimento da espiritualidade pessoal de cada líder.

“Aprendi aqui que pastorear é mais do que organizar — é cuidar das pessoas com intencionalidade. E isso tem sido o centro do que fazemos em nossa rede”, afirmou Samara, emocionada ao compartilhar os frutos de seu ministério.

O trabalho de liderança de Samara é um exemplo prático de uma rede funcional e missionária, capaz de integrar evangelismo, cuidado e discipulado. “Eu acredito no pastoreio dos pequenos grupos porque eu fui pastoreada pelo meu pastor. Eu me tornei líder de pequenos grupos, e as pessoas que eu discipulei hoje estão pastoreando outras pessoas”, afirma.

Um ponto de partida

A Convenção “Fazer Discípulos: Nossa Identidade” teve a proposta de ser o início de um novo ciclo missionário para a Igreja Adventista no Nordeste do Brasil. Um ciclo que começa com a transformação pessoal e se expande através do discipulado, da liderança relacional e da vivência prática do amor de Cristo. Como afirmou o pastor Péricles Barbosa: “Cada rede que sai daqui volta com a missão de ser comunidade discipuladora. De tornar o Pequeno Grupo um espaço para formar missionários e viver o evangelho no dia a dia. É isso que vai transformar nossas igrejas”.

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