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Educação

Como um grão de mostarda: uma breve história da Educação Adventista

Tendo começado pequena, tornou-se uma das maiores redes de ensino confessionais do mundo, e uma poderosa ferramenta na missão da Igreja


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A rede de Educação Adventista mantém mais de 9 mil instituições em mais de 165 países, e soma mais de 2 milhões de alunos (Foto: Educação Adventista)

O ano de 2024 começou com dois fatos marcantes para a Educação Adventista[i]. Um deles arrancou aplausos; o outro, lágrimas. Em fevereiro, a Universidade Adventista de Friedensau, na Alemanha, começou a celebrar seu 125º aniversário. Ela foi estabelecida em 1899, com apenas sete alunos, “em condições muito básicas. A escola foi instalada em um antigo moinho às margens do rio Ihle.” Atualmente, oferece cursos de graduação e pós-graduação, e é reconhecido como um centro de excelência acadêmica, com aval governamental e parcerias ao redor do mundo[ii].

O segundo foi o falecimento de Humberto Mário Rasi, de 88 anos, um líder e mentor da Educação Adventista, que serviu na Associação Geral da denominação como diretor associado de Educação (1986-1990) e diretor de Educação (1990-2002), e cujo trabalho teve grande impacto na estrutura, filosofia e crescimento da Educação Adventista ao redor do mundo. Um número incontável de estudantes e professores cresceu intelectual e espiritualmente ao longo de sua liderança. Rasi foi um defensor por excelência da integração da fé e dos valores bíblicos no aprendizado.[iii]

O legado dessa instituição pioneira e desse líder visionário reflete a história da Educação Adventista. Como um grão de mostarda, que é “a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, é maior do que as hortaliças, e chega a ser uma árvore, de modo que as aves do céu vêm se aninhar nos seus ramos” (Mt 13:31-32), essa rede começou insignificante, mas, com o tempo e a benção de Deus, tornou-se global, impactando milhões de vidas. Pessoas simples e consagradas, que seguiram os conselhos bíblicos e de Ellen White, tornaram a Educação Adventista uma referência em termos de formação integral e transmissão de valores.

Lançando as sementes

Em janeiro de 1872, Ellen White recebeu sua primeira visão detalhada sobre educação, a partir da qual escreveu 30 páginas, nas quais afirmou aos líderes: “Precisamos de uma escola, onde possam ser ensinados àqueles que acabam de entrar no ministério ao menos os ramos comuns da educação e onde eles possam aprender mais perfeitamente as verdades da Palavra de Deus para este tempo.”[iv]   

A primeira unidade educativa adventista era apenas “uma escola de uma sala” e seus 12 alunos assistiram às aulas, no início, em várias sedes temporárias[v]. Nascido em 03 de junho de 1872 e dedicado em 04 de janeiro de 1875, o Battle Creek College foi administrado, a princípio, por Goodloe Harper Bell (1832-1899), considerado “o pai da Educação Adventista”. Essa iniciativa foi comparada por historiadores a “um grão de semente de mostarda”. Vale dizer que a “primeira escola paroquial adventista teve como professora Martha Byington, filha de Jonh Byington, em Buck’s Bridge, Nova Iorque”, cerca de 20 anos antes[vi]. Plantar uma igreja e estabelecer uma escola passou a ser a filosofia missionária básica dos adventistas ao redor do mundo.

Em 1901, o Battle Creek College foi transferido para Berrien Springs, Michigan, recebendo o nome de Faculdade Missionária Emmanuel. Em 1960, tornou-se a Universidade Andrews. Atualmente, é a principal instituição educacional e de formação de líderes da Igreja, com mais de 150 programas, desde a graduação até o doutorado.[vii] Ela se tornou a primeira das 9.589 instituições educacionais existentes hoje, sendo 118 de ensino superior, com mais de dois milhões de alunos espalhadas por mais de 60 países.[viii]

Segundo o historiador Floyd Greenleaf, a proposta de uma rede de educação adventista era, originalmente, quase uma utopia, diante do quadro desafiador e dos altos ideais a que se propunha: “Nada podia ser mais idealista em termos filosóficos do que basear a educação na crença de que os seres humanos precisam de redenção espiritual porque caíram do estado perfeito em que foram criados por Deus, e que as instituições educacionais devem servir à missão da Igreja”[ix]. A inciativa, porém, não estava isenta da influência do contexto norte-americano, que respirava mudanças em muitas áreas, senda a educação uma das principais.

“Apoiando-se na filosofia do francês Jean Jacques Rousseau, do suíço Johann Pestalozzi e do alemão Friedrich Froebel, uma geração de educadores nos Estados Unidos, liderada por John Dewey, debateu a natureza da infância, as necessidades das crianças e o seu papel na sociedade. E tudo isso deu origem a novas práticas educativas”.[x]

O projeto adventista se expandiu internamente nos Estados Unidos. Um dos maiores avanços foi a criação de uma escola de enfermagem, em 1905, com apenas 35 funcionários. Em 1910, se tornou o College of Medical Evangelists. Hoje, o “complexo médico de Loma Linda compreende oito escolas, seis hospitais e aproximadamente 17 mil funcionários, o que faz dessa instituição o principal centro acadêmico de ciências da saúde da Igreja Adventista.”[xi]

Atualmente, a Igreja Adventista mantém sete escolas de medicina: Estados Unidos (Loma Linda, 1909); México (Montemorelos, 1975); Argentina (Entre Rios, 1994); Peru (Lima, 2012); Nigéria (Lagos, 2012); Filipinas (Manila, 2015); Ruanda (Kigali, 2019). Também há planos para abrir uma no Brasil (São Paulo). Isso é uma grande conquista para uma Igreja que surgiu em 1863, num contexto de pobreza e discriminação em virtude de sua doutrina peculiar, especialmente a vinda literal de Cristo e a guarda do sábado (Ap 1:7; At 1:11; Êx 20:8-11; Mc 2:27-28; Ap 12:17).       

Mesmo com as duas grandes guerras no século XX; a grande depressão mundial de 1929 e os regimes totalitários e comunistas, além do secularismo atual, as escolas adventistas continuaram prosperando e alcançando novos lugares.

Brasil

As folhas da educação se estenderam à América do Sul, ainda no século XIX. A primeira escola na região foi estabelecida no Brasil, graças à visão do pastor Huldreich E. Graf e do dinamismo do primeiro adventista brasileiro. Segundo Ruy Vieira, o “Colégio Internacional de Curitiba foi estabelecido com o auxílio de membros leigos em 1º de julho de 1896, sem a vinculação administrativa direta com a organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e foi dirigido inicialmente por Guilherme Stein Jr., embora algumas fontes afiancem ter sido seu primeiro diretor Vicente Schmidt.”[xii]

Stein explica que “Curitiba era já naquele tempo o que podemos chamar quase uma cidade universitária, com grandes colégios, mas seguindo ainda a rotina do sistema de soletração nas escolas primárias. A nossa escola progrediu rapidamente, o que devemos, em parte, ao sistema fonético do professor mineiro Felisberto de Carvalho, que introduzimos e defendemos”. A escola, que começou com meia dúzia de alunos, em seis meses já tinha mais de 120 alunos matriculados. Durante seus oito anos de existência, manteve matrículas anuais superiores a 400 alunos, incluindo os filhos das mais ricas e tradicionais famílias de Curitiba.[xiii] Um dos fatores desse êxito, vale frisar, foi a adesão a um novo método pedagógico, o que pode ser ainda percebido na constante atualização de metodologias de aprendizagem adotadas pela rede adventista em nossos dias.

Algum tempo depois, em “15 de outubro de 1897, funda-se então a primeira escola missionária adventista em Gaspar Alto, perto de Brusque, no Estado de Santa Catarina”, sob a direção de Stein. Naquele ano, chegou ao Brasil o pastor John Lipke, cujo nome esteve ligado à obra educacional até sua morte, em 1943[xiv]. Augustus B. Stauffer, colportor pioneiro no Brasil, também foi um ardoroso defensor da Educação Adventista em seus primórdios[xv]. O primeiro internato adventista do Brasil foi estabelecido em São Paulo, em 1915, e recebeu o nome de Seminário Adventista, passando a Colégio Adventista Brasileiro em 1941. É o atual Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo) e oferece 40 cursos de nível superior em 4 campi (sendo um EAD), sendo o maior internato adventista do mundo.

Douglas Menslin, em seu livro “Educação Adventista, 120 anos”, divide a história da rede no Brasil em três períodos: o pioneirismo (1896-1915), quando surgem as primeiras instituições; a estruturação (1916-1970), com destaque para sua consolidação e desenvolvimento metodológico e filosófico; e a adaptação à Legislação Nacional (1970-2010), quando as escolas paroquiais deixaram de existir e as unidades passaram a constituir um serviço educacional.[xvi] Nessa jornada, a tensão entre a ampliação da rede se chocava com a necessidade de manter a filosofia confessional original. Um dos nomes que muito contribuíram com o equilíbrio nessa área foi o professor Roberto Azevedo, que liderou o departamento de Educação da Divisão Sul-Americana (1990-2004) com um plano claro de expansão.[xvii]    

Argentina

Um episódio comovente no estabelecimento de uma nova escola na Argentina envolveu Luis Ernst, um germano-suíço do Uruguai que vendeu sua fazenda, seu gado e seu negócio de fabricação de queijos a fim de frequentar uma escola que ele pensava existir em Entre Rios, Argentina. Chegou ao lugar com “um chamado inconfundível de Deus para dedicar a própria vida à pregação do evangelho”, para, então, descobrir que a escola mal existia em forma de planta. Os responsáveis pela obra, vendo sua dedicação, decidiriam começar a construir. Em outubro de 1899, N. Z. Town, J. W. Westphal e dois ou três membros foram até o local onde planejavam construir, “ajoelharam-se na grama e oraram, pedindo as bênçãos de Deus para a futura escola”[xviii]. Essa decisão acertada deu rumo à Educação Adventista na Argentina, e a sucessora desse projeto é a Universidad Adventista del Plata, referência no preparo de médicos e missionários em geral. Recentemente, a Divisão Sul-Americana tem enviado pastores para cursar doutorado em seu campus e tudo leva a crer que ela substituirá a Universidade Andrews no preparo de professores de teologia para a América do Sul[xix].

Peru

O estabelecimento da educação no Peru foi ainda mais dramático e comovente. Ferdinand e sua esposa Ana Stahl, apóstolos dos incas, perceberam que nunca conseguiriam evangelizar os índios aymaras daquele país sem “preparar outros índios para ensinarem seu próprio povo". Assim, adotaram o índio Luciano Chambi, que seria professor na escola estabelecida em Plateria, no início do século XX. O casal Rojas, que passou algum tempo ajudando os Stahl, foi preparado na escola da Argentina. Depois de muita discriminação e oposição de representantes do governo e da Igreja Católica, “duzentas escolas missionárias adventistas, ensinadas por índios, brotaram como cogumelos ao redor do Lago Titicaca.”[xx]  

Os adventistas de Lima, capital do Peru, pensaram em estabelecer uma escola para os não indígenas da União Incaica. Isso só foi possível em 30 de abril de 1919, quando as atividades da escola começaram “em quatro cômodos alugados em Miraflores, subúrbio de Lima”. Eduardo Forga, defensor dos índios e tradutor do livro O Grande Conflito ao espanhol[xxi], havia deixado em seu testamento uma doação para o adventismo. O dinheiro foi usado comprar um terreno em Miraflores. Com uma oferta do décimo terceiro sábado de 1925, a construção foi realizada[xxii]. Atualmente, a Universidad Peruana Unión mantém três campi (Lima, Juliaca e Tarapoto), que atendem 13.567 estudantes de diferentes países[xxiii].   

Bolívia

Na Bolívia, os indígenas (aymaras e quéchuas) viviam em completo abandono quando os adventistas estabeleceram as primeiras escolas no Altiplano do país andino. Ethel Shepard, com a ajuda de Mateo Urbina, organizou a primeira escola depois de uma autorização do governo, datada de 11 de agosto de 1920. Depois da Escola de Rosario, em La Paz, que começara a funcionar em julho de 1920, outras surgiram, fortalecendo a Missão Indígena[xxiv]. O projeto educacional se ampliou em 1928, na cidade rural de Collana, no Departamento de La Paz, com o lançamento do Instituto Adventista Boliviano. O Instituto foi transferido para Vinto, no Vale Inferior do Departamento de Cochabamba e, em 1991, foi reconhecido pelo governo boliviano como a Universidad Adventista de Bolívia, que oferece 14 cursos de nível superior.[xxv]  Além do preparo de obreiros, as escolas, na visão de Floyd Greenleaf, se converteram na “principal ferramenta evangelística entre os povos indígenas na União Incaica”[xxvi].

Chile

Em 1926, depois de muitos fracassos, o colégio Adventista de Chillán finalmente vencera suas dificuldades críticas, tornando-se “parte inquestionável do programa educacional da Igreja na América do Sul”[xxvii]. Ali também floresceu uma universidade, que é a principal instituição adventista naquele país.

Demais países da Divisão Sul-Americana

Equador, Paraguai e Uruguai ainda não têm universidades, mas mantêm um bom número de escolas primárias e colégios secundários. No caso do Equador, em 1968 foi fundado, na cidade de Santo Domingo de los Colorados, o Colégio Adventista do Equador, que se converteu, em 1993, no Instituto Superior Tecnológico Adventista del Ecuador, com oferta de cursos superiores.     

Frutos que alimentam

No século XXI, as escolas adventistas são uma das maiores possiblidades evangelísticas, já que a maioria de seus alunos não são membros da Igreja. Caso um forte projeto de ensino da Bíblia não seja adotado, a influência secular pode controlar o ambiente escolar, e os princípios da educação cristã e seu ideário podem se perder facilmente.

Em um artigo intitulado “Rumo ao mar”, sobre os 100 anos da primeira turma formada pelo CAB (Colégio Adventista Brasileiro), Francisco Ribeiro, Gabriela Borges e Emily Bertazzo afirmaram que a “primeira formatura oficial forneceu à sociedade um grupo de nove jovens dispostos a trabalhar em diferentes atividades em prol da sociedade brasileira, sem perder de vista seu compromisso denominacional, pois também se destacaram em funções eclesiásticas ao longo do século XX”[xxviii]. O mesmo poderia ser dito das formaturas das pequenas e grandes outras instituições adventistas. Seus programas têm formado profissionais para o mercado de trabalho e missionários para a Igreja.   

Vários estudos, incluindo teses de doutorado, comprovam o impacto da Educação Adventista. A informação coletada durante 10 anos (1987-1997) é um testemunho tocante dos benefícios desta rede e de sua filosofia de ensino.[xxix] Isso dá ânimo aos educadores adventistas em seu diário labor; confiança aos pais para manter seus filhos matriculados e motivação para a Igreja seguir expandindo e investindo em suas escolas.

Os pesquisadores têm constatado que, a despeito de ser confessional, o sistema educacional adventista é competitivo, resiste ao tempo, a diversas ideologias (como a teoria da evolução) e aos desafios culturais modernos e pós-modernos.[xxx]

A correta compreensão da educação cristã é fundamental para o desenvolvimento espiritual. Segundo Ellen White, “agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino de Deus.”[xxxi] Para os adventistas, a educação é mais do que abrir escolas, produzir materiais didáticos ou ofertar diplomas. O propósito maior é restaurar no ser humano a imagem perdida de Seu criador (Gn 1:27; Dt 6:4-6; Pv 22:6). É por essa razão que a cúpula adventista tem estudado, nos últimos anos, estabelecer a educação cristã como uma crença fundamental da Igreja, a de número 29[xxxii]. Caso esse estudo seja votado em uma Assembleia da Associação Geral, haverá um grande fomento à educação em todos os níveis, o que poderá fortalecer ainda mais nossa compreensão sobre seu papel na vida humana.    

Onde pesquisar sobre a Educação Adventista:

Floyd Greenleaf, História de la Educación Adventista: una visión global. Florida: Associación Casa Editora Sudamericana, Adventus: Editorial Universitaria Iberoamericana, 2010.

Douglas Menslin. Educação adventista 120 anos: De escolas paroquias a uma rede de ensino permanências e rupturas de um ideário educacional. Curitiba: DVK Editora (2015), p. 61-86.

Alberto R. Timm (Org.), A educação adventista no Brasil: uma história de aventuras e milagres. Engenheiro Coelho, SP: Unaspres, 2004.

Site

www.encyclopedia.adventist.org

Vídeos

Série Educação Adventista no Brasil:

https://www.youtube.com/watch?v=dn5XWZqhc3A

[i] Além das obras citadas nas notas, sobre a educação superior no Brasil veja Renato Stencel. História da educação superior adventista: Brasil, 1969-1999. Tese de Doutorado. Universidade Metodista de Piracicaba (2006). Biografias de educadores: Siegfried J. Schwantes. Professor toda a vida. São Paulo: Editora Universitária Adventista do IAE, 1991.Orlando Ritter. O Professor. Tatuí, São Paulo: CPB, 2014. Trajetória de instituições: Márcio Dias Guarda. Unasp: Muito além do ensino. 100 ano de história (1915-2015). Multicomm: Hortolândia, 2015.  Hosokawa, E. (2001). Rumo ao mar: Colégio Adventista Brasileiro, Santo Amaro (1915-1947) (Dissertação de Mestrado). FFLCH, Universidade de São Paulo. Douglas Menslin; Emily Kruger Bertazzo; Francisco Carlos Ribeiro; Gabriela Borges Abraços (orgs.). Unasp no Tempo: histórias, tradições e transformações. 1ª ed. Engenheiro Coelho, São Paulo: Unaspress, 2021. Salomón Méndez, M. Á. (2013). Un sueño hecho realidad. Quillacollo, Bolivia: Universidad Adventista de Bolivia, 2013. Sobre nossa filosofia educacional: DSA. Pedagogia Adventista. Tatuí, São Paulo: CPB, 2009. Cadwallader, E. M. (2006). Filosofia básica de la educación adventista (Tomo 1-3). Villa Libertador San Martín, AR: Centro de Investigacion White. Suárez, A. S. (2010). Redenção, liberdade e serviço: os fundamentos da pedagogia de Ellen G. White. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress. Silva, M. (2001). Pedagogia adventista, modernidade e pós-modernidade (Tese de Doutorado). Universidade Metodista de Piracicaba. George Knight. Mitos na Educação Adventista. Um estudo interpretativo da educação nos escritos de Ellen White. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2010.

[ii] Inter-European, Universidade Adventista de Friedensau celebra 125 Anos de excelência em Educação e impacto social. Disponível em: https://adventist.news/pt/news/universidade-adventista-de-friedensau-celebra-125-anos-de-excelencia-em-educacao-e-impacto-social. Acesso: 04/04/2024.

[iii] Lisa M. Beardsley-Hardy, Tributo a Humberto Mario Rasi. Revista Diálogo, Volume 35, Número 2. p. 3. Em abril de 2024 foi realizado o 2º Simpósio Sul-americano de Fundamentos Bíblicos da Integração Fé, Ensino e Aprendizagem. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0wNnwEy3qVY. Acesso: 29/04/2024.

[iv] Richard W. Schwarz; Floyd Greenleaf. 1 ed. Portadores de Luz: história da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tradução de Francisco A. Pontes. 2 ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016), p. 148.

[v] Denis Fortin e Jerry Moon, eds., Enciclopédia Ellen G. White (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 915.

[vi] Schwarz e Greenleaf, Portadores de luz, p. 145.

[vii] Confira no site da instituição: https://www.andrews.edu/.

[viii] Seventh-Day Adventist World Church Statistics. Summary of Statistics as of December 31, 2022: Disponível em: https://documents.adventistarchives.org/Statistics/Other/SDAWorldChurchStatsSummary2022.pdf. Acesso: 09/04/2024.

[ix] Floyd Greenleaf, História de la Educación Adventista: una visión global (Florida: Associación Casa Editora Sudamericana, Adventus: Editorial Universitaria Iberoamericana, 2010), p. 51.

[x] Idem, p. 81.

[xi]Ansel Oliver, Referência mundial. https://www.revistaadventista.com.br/da-redacao/destaques/referencia-mundial/. Acesso: 09/04/2024.

[xii] Ruy Carlos de Camargo Vieira. A época e a obra pioneira de Guilherme Stein Jr.: Um ensaio sobre origens (Brasília: Sociedade Criacionista Brasileira, 2015), p. 153.

[xiii] Idem. 153-154.

[xiv] Ruy Vieira. A época e a obra pioneira de Guilherme Stein Jr., p. 159. Mais detalhes em: Lipke, Johannes Rudolph Berthold (1875–1943). Disponível em: https://encyclopedia.adventist.org/article?id=DGKD&lang=pt. Acesso: 29/04/2024.

[xv] Leia sua biografia completa em Marcio Costa, Augusto Baer Stauffer: o primeiro missionário adventista no Brasil. 1ra ed. Ivatuba, PR: Editora IAP, 2021 ou um artigo breve em: https://noticias.adventistas.org/pt/augustus-stauffer-redescobrindo-um-missionario-adventista-no-brasil/. Acesso: 29/04/2024.

[xvi] Douglas Menslin. Educação adventista 120 anos: De escolas paroquias a uma rede de ensino permanências e rupturas de um ideário educacional (Curitiba: DVK Editora, 2015), p. 61-86.

[xvii] Roberto Azevedo. Perspectivas da Educação Adventista na Divisão Sul Americana. In: Revista Educação Adventista, n. 34, ano 21, janeiro-junho de 2000.

[xviii] Greenleaf. Terra de esperança, p. 59-60.

[xix] Recentemente a UAP passou a oferecer simultaneamente os quatro programas de doutorado em Teologia e, a partir de janeiro de 2024 um grupo de presidentes de campo iniciou o doutorado em Teologia Aplicada nesse lugar. Entre as vantagens em relação a Andrews está o baixo custo e a proximidade, além do modelo (um verão por ano), evitando que o obreiro se ausente do trabalho por cinco anos. 

[xx] Veja Barbara Westphal, Aventura nos Andes e no Amazonas: a apaixonante história de um casal que deixou tudo pela missão.  4ª edição. Tradução Carlos A. Trezza. (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 44-49.

[xxi] Sua biografia é Elbio Pereyra. Eduardo Francisco Forga: El pioneiro casi olvidado del continente descuidado. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2004).

[xxii] Greenleaf. Terra de esperança, p. 263-265.

[xxiii] Veja mais detalhes no site: https://upeu.edu.pe/. Acesso: 10/04/2024.

[xxiv] Samuel Antônio Chaves. Pedagogia de la Salvación: un estudio histórico sobre el aporte de la Educación Adventista en la vida del indígena Aymara de Rosario (1920-1930). 1ra Edición (Cochabamba: Editorial Nuevo Tiempo de Bolivia, 2013), p. 139-143.

[xxv] Mais detalhes no site: https://www.uab.edu.bo/. Acesso:10/04/2024.

[xxvi] Greenleaf. Terra de esperança, p. 223.

[xxvii] Greenleaf. Terra de esperança, p. 255.

[xxviii] Francisco Carlos Ribeiro; Gabriela Borges Abraços e Emily Kruger Bertazzo. Revista Cordis. São Paulo: 110 anos do Capão Redondo. São Paulo, vol. 1, nº 27, 2022, p. 96. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/cordis/article/view/59242. Acesso: 29/04/2024.

[xxix] Jerome Thayer, Trinta anos da pesquisa sobre o impacto das escolas adventistas nos alunos. Disponível em: https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2018.4.3?searchsite=adventist.news&ref=on-site-search&searchterm=125%20anos. Acesso: 09/04/2024.

[xxx] Um excelente artigo é provido por Patrick Vieira Ferreira e Roger Marchesini de Quadros Souza. Educação Adventista: Origem, Desenvolvimento e Expansão. Revista Brasileira de História da Educação.  (v. 18, 2018), pp. 01-17.

[xxxi] Ellen G. White, Christian Educator, 1 de agosto de 1897. Citado em E. A. Sutherland, Estudos em Educação. Adventist Pioneer Library, 2017, p. 5.

[xxxii] Adventist education declared worthy of becoming Fundamental Belief No. 29. Disponível em: https://adventist.news/news/adventist-education-declared-worthy-of-becoming-fundamental-belief-no-29. Acesso: 10/04/2024.

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O ano de 2024 começou com dois fatos marcantes para a Educação Adventista[i]. Um deles arrancou aplausos; o outro, lágrimas. Em fevereiro, a Universidade Adventista de Friedensau, na Alemanha, começou a celebrar seu 125º aniversário. Ela foi estabelecida em 1899, com apenas sete alunos, “em condições muito básicas. A escola foi instalada em um antigo moinho às margens do rio Ihle”. Atualmente, oferece cursos de graduação e pós-graduação, e é reconhecido como um centro de excelência acadêmica, com aval governamental e parcerias ao redor do mundo[ii].

O segundo foi o falecimento de Humberto Mário Rasi, de 88 anos. Ele serviu na Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia como diretor associado de Educação (1986-1990) e diretor de Educação (1990-2002). Seu trabalho teve grande impacto na estrutura, filosofia e crescimento da Educação Adventista ao redor do mundo. Um número incontável de estudantes e professores cresceu intelectual e espiritualmente ao longo de sua liderança. Rasi foi um defensor por excelência da integração da fé e dos valores bíblicos no aprendizado.[iii]

O legado dessa instituição pioneira e desse líder visionário reflete a história da Educação Adventista. Como um grão de mostarda, que é “a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, é maior do que as hortaliças, e chega a ser uma árvore, de modo que as aves do céu vêm se aninhar nos seus ramos” (Mt 13:31-32), essa rede começou insignificante, mas, com o tempo e a bênção de Deus, tornou-se global, impactando milhões de vidas. Pessoas simples e consagradas, que seguiram os conselhos bíblicos e de Ellen White, tornaram a Educação Adventista uma referência em termos de formação integral e transmissão de valores.

Lançando as sementes

Em janeiro de 1872, Ellen White recebeu sua primeira visão detalhada sobre educação, a partir da qual escreveu 30 páginas, nas quais afirmou aos líderes: “Precisamos de uma escola, onde possam ser ensinados àqueles que acabam de entrar no ministério ao menos os ramos comuns da educação e onde eles possam aprender mais perfeitamente as verdades da Palavra de Deus para este tempo.”[iv]   

A primeira unidade educativa adventista era apenas “uma escola de uma sala” e seus 12 alunos assistiram às aulas, no início, em várias sedes temporárias[v]. Nascido em 03 de junho de 1872 e dedicado em 04 de janeiro de 1875, o Battle Creek College foi administrado, a princípio, por Goodloe Harper Bell (1832-1899), considerado “o pai da Educação Adventista”. Essa iniciativa foi comparada por historiadores a “um grão de semente de mostarda”. Vale dizer que a “primeira escola paroquial adventista teve como professora Martha Byington, filha de Jonh Byington, em Buck’s Bridge, Nova Iorque”, cerca de 20 anos antes[vi]. Plantar uma igreja e estabelecer uma escola passou a ser a filosofia missionária básica dos adventistas ao redor do mundo.

Em 1901, o Battle Creek College foi transferido para Berrien Springs, Michigan, recebendo o nome de Faculdade Missionária Emmanuel. Em 1960, tornou-se a Universidade Andrews. Atualmente, é a principal instituição educacional e de formação de líderes da Igreja, com mais de 150 programas, desde a graduação até o doutorado.[vii] Ela se tornou a primeira das 9.589 instituições educacionais da rede existentes hoje, sendo 118 de ensino superior, com mais de dois milhões de alunos espalhadas por mais de 165 países.[viii]

Segundo o historiador Floyd Greenleaf, a proposta de uma rede de educação adventista era, originalmente, quase uma utopia, diante do quadro desafiador e dos altos ideais a que se propunha: “Nada podia ser mais idealista em termos filosóficos do que basear a educação na crença de que os seres humanos precisam de redenção espiritual porque caíram do estado perfeito em que foram criados por Deus, e que as instituições educacionais devem servir à missão da Igreja”[ix]. A inciativa, porém, não estava isenta da influência do contexto norte-americano, que respirava mudanças em muitas áreas, senda a educação uma das principais.

“Apoiando-se na filosofia do francês Jean Jacques Rousseau, do suíço Johann Pestalozzi e do alemão Friedrich Froebel, uma geração de educadores nos Estados Unidos, liderada por John Dewey, debateu a natureza da infância, as necessidades das crianças e o seu papel na sociedade. E tudo isso deu origem a novas práticas educativas”.[x]

O projeto adventista se expandiu internamente nos Estados Unidos. Um dos maiores avanços foi a criação de uma escola de enfermagem, em 1905, com apenas 35 funcionários. Em 1910, tornou-se o College of Medical Evangelists. Hoje, o “complexo médico de Loma Linda compreende oito escolas, seis hospitais e aproximadamente 17 mil funcionários, o que faz dessa instituição o principal centro acadêmico de ciências da saúde da Igreja Adventista.”[xi]

Atualmente, a Igreja Adventista mantém sete escolas de medicina: Estados Unidos (Loma Linda, 1909); México (Montemorelos, 1975); Argentina (Entre Rios, 1994); Peru (Lima, 2012); Nigéria (Lagos, 2012); Filipinas (Manila, 2015); Ruanda (Kigali, 2019). Também há planos para abrir uma no Brasil (São Paulo). Isso é uma grande conquista para uma Igreja que surgiu em 1863, num contexto de pobreza e discriminação em virtude de sua doutrina peculiar, especialmente a vinda literal de Cristo e a guarda do sábado (Ap 1:7; At 1:11; Êx 20:8-11; Mc 2:27-28; Ap 12:17).       

Mesmo com as duas grandes guerras no século XX, a grande depressão mundial de 1929 e os regimes totalitários e comunistas, além do secularismo atual, as escolas adventistas continuaram prosperando e alcançando novos lugares.

Brasil

As folhas da educação se estenderam à América do Sul, ainda no século XIX. A primeira escola na região foi estabelecida no Brasil, graças à visão do pastor Huldreich E. Graf e do dinamismo do primeiro adventista brasileiro. Segundo Ruy Vieira, o “Colégio Internacional de Curitiba foi estabelecido com o auxílio de membros leigos em 1º de julho de 1896, sem a vinculação administrativa direta com a organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e foi dirigido inicialmente por Guilherme Stein Jr., embora algumas fontes afiancem ter sido seu primeiro diretor Vicente Schmidt.”[xii]

Stein explica que “Curitiba era já naquele tempo o que podemos chamar quase uma cidade universitária, com grandes colégios, mas seguindo ainda a rotina do sistema de soletração nas escolas primárias. A nossa escola progrediu rapidamente, o que devemos, em parte, ao sistema fonético do professor mineiro Felisberto de Carvalho, que introduzimos e defendemos”. A escola, que começou com meia dúzia de alunos, em seis meses já tinha mais de 120 estudantes matriculados. Durante seus oito anos de existência, manteve matrículas anuais superiores a 400 alunos, incluindo os filhos das mais ricas e tradicionais famílias de Curitiba.[xiii] Um dos fatores desse êxito, vale frisar, foi a adesão a um novo método pedagógico, o que pode ser ainda percebido na constante atualização de metodologias de aprendizagem adotadas pela rede Adventista em nossos dias.

Algum tempo depois, em “15 de outubro de 1897, funda-se então a primeira escola missionária adventista em Gaspar Alto, perto de Brusque, no Estado de Santa Catarina”, sob a direção de Stein. Naquele ano, chegou ao Brasil o pastor John Lipke, cujo nome esteve ligado à obra educacional até sua morte, em 1943[xiv]. Augustus B. Stauffer, colportor pioneiro no Brasil, também foi um ardoroso defensor da Educação Adventista em seus primórdios[xv]. O primeiro internato adventista do Brasil foi estabelecido em São Paulo, em 1915, e recebeu o nome de Seminário Adventista, passando a Colégio Adventista Brasileiro em 1941. É o atual Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo) e oferece 40 cursos de nível superior em quatro campi (incluindo um EAD), sendo o maior internato adventista do mundo.

Douglas Menslin, em seu livro “Educação Adventista, 120 anos”, divide a história da rede no Brasil em três períodos: o pioneirismo (1896-1915), quando surgem as primeiras instituições; a estruturação (1916-1970), com destaque para sua consolidação e desenvolvimento metodológico e filosófico; e a adaptação à Legislação Nacional (1970-2010), quando as escolas paroquiais deixaram de existir e as unidades passaram a constituir um serviço educacional.[xvi] Nessa jornada, houve tensão entre a ampliação da rede e a necessidade de manter a filosofia confessional original. Um dos nomes que muito contribuíram com o equilíbrio nessa área foi o professor Roberto Azevedo, que liderou o departamento de Educação da Divisão Sul-Americana (1990-2004) com um plano claro de expansão.[xvii]    

Argentina

Um episódio comovente no estabelecimento de uma nova escola na Argentina envolveu Luis Ernst, um germano-suíço do Uruguai que vendeu sua fazenda, seu gado e seu negócio de fabricação de queijos a fim de frequentar uma escola que ele pensava existir em Entre Rios, Argentina. Chegou ao lugar com “um chamado inconfundível de Deus para dedicar a própria vida à pregação do evangelho”, para, então, descobrir que a escola mal existia em forma de planta. Os responsáveis pela obra, vendo sua dedicação, decidiriam começar a construir.

Em outubro de 1899, N. Z. Town, J. W. Westphal e dois ou três membros foram até o local onde planejavam construir, “ajoelharam-se na grama e oraram, pedindo as bênçãos de Deus para a futura escola”[xviii]. Essa decisão acertada deu rumo à Educação Adventista na Argentina, e a sucessora desse projeto é a Universidad Adventista del Plata, referência no preparo de médicos e missionários em geral. Recentemente, a Divisão Sul-Americana tem enviado pastores para cursar doutorado em seu campus e tudo leva a crer que ela substituirá a Universidade Andrews no preparo de professores de teologia para a América do Sul[xix].

Peru

O estabelecimento da Educação Adventista no Peru foi ainda mais dramático e comovente. Ferdinand e sua esposa Ana Stahl, apóstolos dos incas, perceberam que nunca conseguiriam evangelizar os índios aymaras daquele país sem “preparar outros índios para ensinarem seu próprio povo". Assim, adotaram o índio Luciano Chambi, que seria professor na escola estabelecida em Plateria, no início do século XX. O casal Rojas, que passou algum tempo ajudando os Stahl, foi preparado na escola da Argentina. Depois de muita discriminação e oposição de representantes do governo e da Igreja Católica, “duzentas escolas missionárias adventistas, ensinadas por índios, brotaram como cogumelos ao redor do Lago Titicaca.”[xx]  

Os adventistas de Lima, capital do Peru, pensaram em estabelecer uma escola para os não indígenas da União Incaica. Isso só foi possível em 30 de abril de 1919, quando as atividades da escola começaram “em quatro cômodos alugados em Miraflores, subúrbio de Lima”. Eduardo Forga, defensor dos índios e tradutor do livro O Grande Conflito ao espanhol[xxi], havia deixado em seu testamento uma doação para o adventismo. O dinheiro foi usado comprar um terreno em Miraflores. Com uma oferta do décimo terceiro sábado de 1925, a construção foi realizada[xxii]. Atualmente, a Universidad Peruana Unión mantém três campi (Lima, Juliaca e Tarapoto), que atendem 13.567 estudantes de diferentes países[xxiii].   

Bolívia

Na Bolívia, os indígenas (aymaras e quéchuas) viviam em completo abandono quando os adventistas estabeleceram as primeiras escolas no Altiplano do país andino. Ethel Shepard, com a ajuda de Mateo Urbina, organizou a primeira escola depois de uma autorização do governo, datada de 11 de agosto de 1920. Depois da Escola de Rosario, em La Paz, que começara a funcionar em julho de 1920, outras surgiram, fortalecendo a Missão Indígena[xxiv].

O projeto educacional se ampliou em 1928, na cidade rural de Collana, no Departamento de La Paz, com o lançamento do Instituto Adventista Boliviano. O Instituto foi transferido para Vinto, no Vale Inferior do Departamento de Cochabamba e, em 1991, foi reconhecido pelo governo boliviano como a Universidad Adventista de Bolívia, que oferece 14 cursos de nível superior.[xxv]  Além do preparo de obreiros, as escolas, na visão de Floyd Greenleaf, se converteram na “principal ferramenta evangelística entre os povos indígenas na União Incaica”[xxvi].

Chile

Em 1926, depois de muitos fracassos, o Colégio Adventista de Chillán finalmente vencera suas dificuldades críticas, tornando-se “parte inquestionável do programa educacional da Igreja na América do Sul”[xxvii]. Ali também floresceu uma universidade, que é a principal instituição adventista naquele país.

Demais países da Divisão Sul-Americana

Equador, Paraguai e Uruguai ainda não têm universidades, mas mantêm um bom número de escolas primárias e colégios secundários. No caso do Equador, em 1968 foi fundado, na cidade de Santo Domingo de los Colorados, o Colégio Adventista do Equador, que se converteu, em 1993, no Instituto Superior Tecnológico Adventista del Ecuador, com oferta de cursos superiores.     

Frutos que alimentam

No século XXI, as escolas adventistas são uma das maiores possiblidades evangelísticas, já que a maioria de seus alunos não são membros da Igreja. Caso um forte projeto de ensino da Bíblia não seja adotado, a influência secular pode controlar o ambiente escolar, e os princípios da educação cristã e seu ideário podem se perder facilmente.

Em um artigo intitulado “Rumo ao mar”, sobre os 100 anos da primeira turma formada pelo CAB (Colégio Adventista Brasileiro), Francisco Ribeiro, Gabriela Borges e Emily Bertazzo afirmaram que a “primeira formatura oficial forneceu à sociedade um grupo de nove jovens dispostos a trabalhar em diferentes atividades em prol da sociedade brasileira, sem perder de vista seu compromisso denominacional, pois também se destacaram em funções eclesiásticas ao longo do século XX”[xxviii]. O mesmo poderia ser dito das formaturas das pequenas e grandes outras instituições adventistas. Seus programas têm formado profissionais para o mercado de trabalho e missionários para a Igreja.   

Vários estudos, incluindo teses de doutorado, comprovam o impacto da Educação Adventista. A informação coletada durante 10 anos (1987-1997) é um testemunho tocante dos benefícios desta rede e de sua filosofia de ensino.[xxix] Isso dá ânimo aos educadores adventistas em seu diário labor; confiança aos pais para manter seus filhos matriculados e motivação para a Igreja seguir expandindo e investindo em suas escolas.

Os pesquisadores têm constatado que, a despeito de ser confessional, o sistema educacional adventista é competitivo, resiste ao tempo, a diversas ideologias (como a teoria da evolução) e aos desafios culturais modernos e pós-modernos.[xxx]

A correta compreensão da educação cristã é fundamental para o desenvolvimento espiritual. Segundo Ellen White, “agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino de Deus.”[xxxi] Para os adventistas, a educação é mais do que abrir escolas, produzir materiais didáticos ou ofertar diplomas. O propósito maior é restaurar no ser humano a imagem perdida de Seu criador (Gn 1:27; Dt 6:4-6; Pv 22:6). É por essa razão que a cúpula adventista tem estudado, nos últimos anos, estabelecer a educação cristã como uma crença fundamental da Igreja, a de número 29[xxxii]. Caso esse estudo seja votado em uma Assembleia da Associação Geral, haverá um grande fomento à educação em todos os níveis, o que poderá fortalecer ainda mais nossa compreensão sobre seu papel na vida humana.    

Onde pesquisar sobre a Educação Adventista

Publicações:

Floyd Greenleaf, História de la Educación Adventista: una visión global. Florida: Associación Casa Editora Sudamericana, Adventus: Editorial Universitaria Iberoamericana, 2010.

Douglas Menslin. Educação adventista 120 anos: De escolas paroquias a uma rede de ensino permanências e rupturas de um ideário educacional. Curitiba: DVK Editora (2015), p. 61-86.

Alberto R. Timm (Org.), A educação adventista no Brasil: uma história de aventuras e milagres. Engenheiro Coelho, SP: Unaspres, 2004.

Site

www.encyclopedia.adventist.org

Vídeos

Série Educação Adventista no Brasil


Ribamar Diniz é mestre em Teologia (SALT/FADBA); mestre em História (PPGH/Unifap); membro da Sociedade Criacionista Brasileira e pastor na Missão Pará-Amapá.

"Agradeço ao LEHME (Laboratório de Estudos em História e Memória do Unasp) pelo apoio na definição de alguns dados e datas citados desse artigo"


Referências

[i] Além das obras citadas nas notas, sobre a educação superior no Brasil veja Renato Stencel. História da educação superior adventista: Brasil, 1969-1999. Tese de Doutorado. Universidade Metodista de Piracicaba (2006). Biografias de educadores: Siegfried J. Schwantes. Professor toda a vida. São Paulo: Editora Universitária Adventista do IAE, 1991.Orlando Ritter. O Professor. Tatuí, São Paulo: CPB, 2014. Trajetória de instituições: Márcio Dias Guarda. Unasp: Muito além do ensino. 100 ano de história (1915-2015). Multicomm: Hortolândia, 2015.  Hosokawa, E. (2001). Rumo ao mar: Colégio Adventista Brasileiro, Santo Amaro (1915-1947) (Dissertação de Mestrado). FFLCH, Universidade de São Paulo. Douglas Menslin; Emily Kruger Bertazzo; Francisco Carlos Ribeiro; Gabriela Borges Abraços (orgs.). Unasp no Tempo: histórias, tradições e transformações. 1ª ed. Engenheiro Coelho, São Paulo: Unaspress, 2021. Salomón Méndez, M. Á. (2013). Un sueño hecho realidad. Quillacollo, Bolivia: Universidad Adventista de Bolivia, 2013. Sobre nossa filosofia educacional: DSA. Pedagogia Adventista. Tatuí, São Paulo: CPB, 2009. Cadwallader, E. M. (2006). Filosofia básica de la educación adventista (Tomo 1-3). Villa Libertador San Martín, AR: Centro de Investigacion White. Suárez, A. S. (2010). Redenção, liberdade e serviço: os fundamentos da pedagogia de Ellen G. White. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress. Silva, M. (2001). Pedagogia adventista, modernidade e pós-modernidade (Tese de Doutorado). Universidade Metodista de Piracicaba. George Knight. Mitos na Educação Adventista. Um estudo interpretativo da educação nos escritos de Ellen White. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2010.

[ii] Inter-European, Universidade Adventista de Friedensau celebra 125 Anos de excelência em Educação e impacto social. Disponível em: https://adventist.news/pt/news/universidade-adventista-de-friedensau-celebra-125-anos-de-excelencia-em-educacao-e-impacto-social. Acesso: 04/04/2024.

[iii] Lisa M. Beardsley-Hardy, Tributo a Humberto Mario Rasi. Revista Diálogo, Volume 35, Número 2. p. 3. Em abril de 2024 foi realizado o 2º Simpósio Sul-americano de Fundamentos Bíblicos da Integração Fé, Ensino e Aprendizagem. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0wNnwEy3qVY. Acesso: 29/04/2024.

[iv] Richard W. Schwarz; Floyd Greenleaf. 1 ed. Portadores de Luz: história da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tradução de Francisco A. Pontes. 2 ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016), p. 148.

[v] Denis Fortin e Jerry Moon, eds., Enciclopédia Ellen G. White (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 915.

[vi] Schwarz e Greenleaf, Portadores de luz, p. 145.

[vii] Confira no site da instituição: https://www.andrews.edu/.

[viii] Seventh-Day Adventist World Church Statistics. Summary of Statistics as of December 31, 2022: Disponível em: https://documents.adventistarchives.org/Statistics/Other/SDAWorldChurchStatsSummary2022.pdf. Acesso: 09/04/2024.

[ix] Floyd Greenleaf, História de la Educación Adventista: una visión global (Florida: Associación Casa Editora Sudamericana, Adventus: Editorial Universitaria Iberoamericana, 2010), p. 51.

[x] Idem, p. 81.

[xi]Ansel Oliver,Referência mundial. https://www.revistaadventista.com.br/da-redacao/destaques/referencia-mundial/. Acesso: 09/04/2024.

[xii] Ruy Carlos de Camargo Vieira. A época e a obra pioneira de Guilherme Stein Jr.: Um ensaio sobre origens (Brasília: Sociedade Criacionista Brasileira, 2015), p. 153.

[xiii] Idem. 153-154.

[xiv] Ruy Vieira. A época e a obra pioneira de Guilherme Stein Jr., p. 159. Mais detalhes em: Lipke, Johannes Rudolph Berthold (1875–1943). Disponível em: https://encyclopedia.adventist.org/article?id=DGKD&lang=pt. Acesso: 29/04/2024.

[xv] Leia sua biografia completa em Marcio Costa, Augusto Baer Stauffer: o primeiro missionário adventista no Brasil. 1ra ed. Ivatuba, PR: Editora IAP, 2021 ou um artigo breve em: https://noticias.adventistas.org/pt/augustus-stauffer-redescobrindo-um-missionario-adventista-no-brasil/. Acesso: 29/04/2024.

[xvi] Douglas Menslin. Educação adventista 120 anos: De escolas paroquias a uma rede de ensino permanências e rupturas de um ideário educacional (Curitiba: DVK Editora, 2015), p. 61-86.

[xvii] Roberto Azevedo. Perspectivas da Educação Adventista na Divisão Sul Americana. In: Revista Educação Adventista, n. 34, ano 21, janeiro-junho de 2000.

[xviii] Greenleaf. Terra de esperança, p. 59-60.

[xix] Recentemente a UAP passou a oferecer simultaneamente os quatro programas de doutorado em Teologia e, a partir de janeiro de 2024 um grupo de presidentes de campo iniciou o doutorado em Teologia Aplicada nesse lugar. Entre as vantagens em relação a Andrews está o baixo custo e a proximidade, além do modelo (um verão por ano), evitando que o obreiro se ausente do trabalho por cinco anos. 

[xx] Veja Barbara Westphal, Aventura nos Andes e no Amazonas: a apaixonante história de um casal que deixou tudo pela missão.  4ª edição. Tradução Carlos A. Trezza. (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 44-49.

[xxi] Sua biografia é Elbio Pereyra. Eduardo Francisco Forga: El pioneiro casi olvidado del continente descuidado. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2004).

[xxii] Greenleaf. Terra de esperança, p. 263-265.

[xxiii] Veja mais detalhes no site: https://upeu.edu.pe/. Acesso: 10/04/2024.

[xxiv] Samuel Antônio Chaves. Pedagogia de la Salvación: un estudio histórico sobre el aporte de la Educación Adventista en la vida del indígena Aymara de Rosario (1920-1930). 1ra Edición (Cochabamba: Editorial Nuevo Tiempo de Bolivia, 2013), p. 139-143.

[xxv] Mais detalhes no site: https://www.uab.edu.bo/. Acesso:10/04/2024.

[xxvi] Greenleaf. Terra de esperança, p. 223.

[xxvii] Greenleaf. Terra de esperança, p. 255.

[xxviii] Francisco Carlos Ribeiro; Gabriela Borges Abraços e Emily Kruger Bertazzo. Revista Cordis. São Paulo: 110 anos do Capão Redondo. São Paulo, vol. 1, nº 27, 2022, p. 96. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/cordis/article/view/59242. Acesso: 29/04/2024.

[xxix] Jerome Thayer, Trinta anos da pesquisa sobre o impacto das escolas adventistas nos alunos. Disponível em: https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2018.4.3?searchsite=adventist.news&ref=on-site-search&searchterm=125%20anos. Acesso: 09/04/2024.

[xxx] Um excelente artigo é provido por Patrick Vieira Ferreira e Roger Marchesini de Quadros Souza. Educação Adventista: Origem, Desenvolvimento e Expansão. Revista Brasileira de História da Educação.  (v. 18, 2018), pp. 01-17.

[xxxi] Ellen G. White, Christian Educator, 1 de agosto de 1897. Citado em E. A. Sutherland, Estudos em Educação. Adventist Pioneer Library, 2017, p. 5.

[xxxii] Adventist education declared worthy of becoming Fundamental Belief No. 29. Disponível em: https://adventist.news/news/adventist-education-declared-worthy-of-becoming-fundamental-belief-no-29. Acesso: 10/04/2024.