Batismo e rebatismo
Qual o real significado do batismo bíblico cristão e em que situações um rebatismo pode ser recomendado?
A salvação é o grande tema do evangelho de Jesus Cristo (Mateus 28:19; João 3:16; 4:42; Atos 10:34-36; 16:31; Gálatas 3:8; Apocalipse 14:6). A palavra grega ευαγγέλιο significa boas novas.[1], e Jesus e seus discípulos tinham como propósito anunciar essas boas notícias por onde passavam (Mateus 4:23; Marcos 1:14, 15; Atos 8:25, 40; 15:7; Romanos 1:1, 9; 15:16; 1Coríntios 15:1-4; Colossenses 1:23; 1 Tessalonicenses 2:2; 1 Pedro 4:17). Segundo as Escrituras, “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12).
Também vemos na Bíblia que "quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Marcos 16:16). Aquele que aceita esta “tão grande salvação” em Jesus (Hebreus 2:3) voluntariamente é batizado firmando uma “aliança com Deus” (Colossenses 2:11, 12), e alegremente recebido em Sua família.[2] Batizar-se implica crer e aceitar de todo o coração que Jesus Cristo é o Filho de Deus e recebê-Lo como único Senhor e Salvador pessoal (Atos 8:35-38; 2 Pedro 1:1). O batismo representa o arrependimento pelos pecados e a conversão, comprovados na morte do velho homem, no novo nascimento e na produção de frutos para o Reino de Deus (Atos 3:19; João 3:3-5; João 15:1-8).
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O capítulo seis de Romanos apresenta a mais completa explicação sobre a teologia do batismo cristão. Paulo esclarece que o batismo simboliza a morte do pecador arrependido para o pecado, o sepultamento do velho homem e a ressurreição de uma nova criatura para glória de Deus. Portanto, “o batismo é a participação na morte e ressurreição de Cristo que efetua uma transição para uma nova criação”.[3]
Batismo por imersão
Ao exaltar a unidade do Espírito Santo (Efésios 4:5), Paulo afirmou a existência de “um só batismo”, e aí vemos a importância de estudarmos os significados etimológicos. “As palavras "batizar" e “batismo” vêm da raiz grega baptizõ, “imergir”. A raiz baptizõ é usada mais de 60 vezes para designar o batismo de pessoas por imersão para o arrependimento, como no batismo de João ou, depois da ressurreição, o batismo em Cristo”.[4] Além disso, alguns detalhes no texto bíblico demonstram a necessidade de água suficiente para a imersão.
Por exemplo: “batizado Jesus, saiu logo da água” (Mateus 3:16); e João batizou em Enom, perto de Salim, “porque havia ali muitas águas” (João 3:23). Em Atos 8:38 e 39, tanto Filipe quanto o eunuco desceram à água e dela saíram.[5] Vale destacar que temos um Modelo suficiente para imitar: Jesus. E pelas evidências bíblicas, Seu batismo foi por imersão (Efésios 4:3; Mateus 3:16). Já cerimônias por aspersão, efusão ou mesmo por imersão parcial não se harmonizam com a teologia bíblica do batismo.[6]
A ação do Espírito Santo
Em resposta à atuação convertedora do Espírito, o batismo é realizado em nome de toda a Trindade. Assim foi ordenado por Cristo (Mateus 28:19). Além disso, esta é também uma condição para a entrada no Reino de Deus (João 3:5) . “Fazendo do batismo o sinal de entrada para o Seu reino espiritual, Cristo o estabeleceu como condição positiva à qual têm de atender os que desejam ser reconhecidos como estando sob a jurisdição do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.[7]
Jesus também revela a unidade do batismo nas águas com o batismo do Espírito Santo, o qual desceu sobre Ele tão logo foi batizado no rio Jordão (Mateus 3:13-17; Lucas 3:21, 22; Atos 10:38). Assim também aconteceu na igreja apostólica (Atos 2:38; 9:17, 18; 10:44-48). De acordo com Bruner, em Atos 8, no batismo do eunuco, “o Espírito Santo marcou o encontro (vs. 29), terminou-o (vs. 39ª), e foi provavelmente a origem do júbilo (chairon) do eunuco a caminho do lar, pois em vários lugares do Novo Testamento a alegria é considerada um fruto especial do Espírito”. [8]
É correto afirmar que “o Espírito Santo pode vir imediatamente antes do batismo (pelo menos nesta única ocorrência – Atos 10:44-48), imediatamente depois do batismo (cf. Atos 19:5, 6) ou juntamente com o batismo (Atos 2:38), mas nunca, em qualquer parte do Novo Testamento depois do Pentecoste, à parte do batismo”.[9] Por sua vez, Marshall também declara coerentemente: “Pode-se dizer com segurança que o Novo Testamento não reconhece a possibilidade de alguém ser cristão sem possuir o Espírito (João 3:5; Atos 11:17; Romanos 8:9; 1 Coríntios 12:3; Gálatas 3:2; 1 Tessalonicenses 1:5-6; Tito 3:5; Hebreus 6:4; 1 Pedro 1:2; 1 João 3:24; 4:13)”.[10]
O rebatismo
A experiência de Jesus nos “revela que o batismo pela água e o batismo pelo Espírito devem andar juntos, e que o batismo que não veio acompanhado da recepção do Espírito Santo constitui uma experiência incompleta”.[11] Essa foi a razão do primeiro rebatismo. Na cidade de Éfeso, o apóstolo Paulo encontrou doze efésios, que tinham sido batizados no batismo de João para arrependimento. Aqueles homens “lhe pareciam ser discípulos, mas por ter dúvidas acerca da posição deles como cristãos, passou a examinar com mais cuidado as suas alegações”.[12]
Paulo perguntou-lhes: “Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo”. Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João. Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus” (Atos 19:2-4). Aquelas pessoas não conheciam a Cristo nem ao Espírito Santo. “Como faltavam esses dois elementos ao batismo dos efésios, Paulo considerou inválido o batismo deles e os rebatizou. Paulo os rebatizou depois que obtiveram um entendimento mais completo”.[13]
Conforme o Manual da Igreja, “com bases bíblicas, pessoas de outras comunidades cristãs que tenham abraçado as crenças adventistas do sétimo dia e que tenham sido previamente batizadas por imersão podem solicitar o rebatismo”.[14] Entretanto, por inferência, as Escrituras deixam claro que o rebatismo também deve ser ministrado em caso de apostasia da fé, pois, “se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro” (2 Pedro 2:20).
A apostasia é “viver deliberadamente em pecado, depois de ter recebido o pleno conhecimento da verdade”, “calcar aos pés o Filho de Deus”, “profanar o sangue da aliança com o qual foi santificado”, e “ultrajar o Espírito da graça” (Hebreus 10:29). Observe o quadro a seguir. Nos dois casos o Espírito de Deus está ausente, mas a segunda situação parece mais grave.
Motivo |
Consequência |
Ignorar a Cristo e ao Espírito Santo |
Não receber o Espírito Santo no batismo |
Rejeitar a Cristo e ao Espírito Santo |
Perder o Espírito Santo depois do batismo |
Por ignorar a doutrina cristã, aqueles doze efésios não receberam o Espírito Santo, e necessitaram do rebatismo. Ora, “aquele que violou abertamente a lei de Deus e foi excluído da igreja deve, pelo rebatismo, tornar a integrar o corpo de Cristo”. [15] Segundo Ellen White, “O Senhor requer decidida reforma. E quando uma alma está verdadeiramente reconvertida, seja ela rebatizada”.[16]
Embora possamos rebelar-nos contra Deus, Ele nos ama e nos atrai com “amor eterno”, pois deseja “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (Jeremias 31:3; 1 Timóteo 2:4). Ele trabalha ativamente por meio do Espírito Santo, dos santos anjos e de Sua igreja para “que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3:9; João 16:7, 8; Hebreus 1:14; 1Pedro 2:9). Assim como o apóstolo Paulo interessou-se pela vida espiritual dos doze efésios, temos algo a fazer por conhecidos e ex-irmãos. Para isto, Deus nos batiza não apenas com água, mas também com o “Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11). “O poder do fogo do Espírito Santo destina-se ao serviço e ao testemunho; purifica e limpa nossa vida, preparando-nos assim para tornar-nos condutos através dos quais o Espírito Santo possa fluir em serviço para outros”.[17] Você realmente recebeu o Espírito Santo quando creu?
[1] O verbo evangelizomai (Aristófanes), evangelizo, uma forma que só se encontra no Grego posterior, juntamente com o substantivo adjetival evangelion (Homero) e o substantivo evangelhos (Ésqui.) são todos derivados de angelos, “mensageiro” (é provável que originalmente fosse uma palavra iraniana tomada por empréstimo), ou do verbo angello, “anunciar”; (Anjo), evangelhos, “mensageiro”, é aquele que traz uma mensagem de vitória ou quaisquer outras notícias políticas ou pessoais que causam alegria. BROWN, Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1989. p. 167.
[2]Manual da Igreja, 22ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 46.
[3]Theological Dictionary of the New Testament, edited by Gerhard Kittel and Gerhard Friedrich traduzido por Geoffrey W. Bromiley, Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1985, p. 84.
[4]Raoul Dederen, ed. Tratado de teologia adventista do sétimo dia, 1ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 647.
[5]Ibidem.
[6]Millard J. Erickson, Introducing Christian Doctrine, editado por L. Arnold Husta. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1998, p. 352.
[7]Ellen G. White, Evangelismo, 3ª ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 307.
[8]Frederik Dale Bruner, Teologia do Espírito Santo, 2ª ed. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1970, p. 147.
[9]Ibidem, p. 150.
[10]I. Howard Marshall, Atos, 1ª ed. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1985, p. 287.
[11]Nisto cremos, 10ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018, p. 247.
[12]Marshall, p. 288.
[13]Bíblia de Estudos Andrews, em “19:1-7 Éfeso”. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 1438.
[14]Manual da Igreja, p. 51.
[15]Tratado de teologia adventista do sétimo dia, p. 652.
[16]Ellen G. White, Evangelismo, p. 375.
[17]LeRoy Edwin Froom, A vinda do Consolador, 1ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadoras Brasileira, 1988, p. 282.