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Coluna | Wilson Borba

O Espírito Santo, uma pessoa da divindade

Uma análise bíblica sobre a importância de se entender o Espírito Santo com alguém que quer nos guiar


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(Foto: Shutterstock)

Alguns leitores superficiais da Bíblia, e de hermenêutica refutável, tomam um texto fora do contexto, e dele fazem um “credo”. Raciocinam que se a palavra espírito - ruach no Antigo Testamento, e pneuma no Novo Testamento - significa vento, logo o Espírito Santo é apenas um vento, ou energia procedente do Pai e do Filho. Ora, isto é uma falácia, uma manipulação sofística inaceitável, que não resiste a um amplo exame das Escrituras. “Jesus nunca chamou o Espírito Santo de "isto" quando falava dEle. Em João 14, 15 e 16, por exemplo, Jesus falou do Espírito Santo como "Ele", porque Ele não é uma força ou uma coisa, mas uma pessoa”.[1] Como o nome Jesus indica a função a Ele destinada (Mateus 1:21), o nome Espírito Santo indica a sua própria função. Ele daria o fôlego de vida, tanto na criação (Salmo 104:30) como na redenção (Ezequiel 37:9-14; João 3:5-8); e trabalharia no processo de inspiração das Escrituras (ver 2Timóteo 3:16; 2Pedro 1:20, 21).[2] E estas são funções de uma pessoa.

Observemos algumas evidências de que o Espírito Santo tem personalidade. Ele fala. "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus" (Apocalipse 2:7). Pode-se mentir para Ele. "Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? ...” (Atos 5:3, 4). Pode-se insulta-Lo (Hebreus 10:29). Além disso, Ele intercede (Romanos 8:26). Ele testemunha (João 15:26). Ele guia (João 16:13). Ele convence (João 16:7, 8). Ele ordena (Atos 16:6, 7). Ele nomeia (Atos 20:28). O Espírito Santo tem mente (1Coríntios 2:11). Ele tem emoções (Efésios 4:30). Ele tem vontade (1Coríntios 12:7-11).

Como percebemos, o Espírito Santo é uma pessoa, mas não qualquer pessoa. Ele é Deus. "Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo... Não mentiste aos homens, mas a Deus" (Atos 5:3, 4). Ele é eterno - sempre existiu. "Muito mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!" (Hebreus 9:14). Ele é Todo-Poderoso (Lucas 1:35). Ele é Onipresente – está em todo lugar (Salmo 139:7). Ele é onisciente – sabe tudo (1 Coríntios 2:10, 11). Ele é o Criador (Gênesis 1:2), e ressuscita mortos (Efésios 1:20).

Pessoas distintas

Amigo leitor, note que as Escrituras não fazem confusão entre os componentes da divindade. Eles são três pessoas distintas. O Pai é uma Pessoa (Mateus 6:6, 9; João 17:1). O Filho é outra Pessoa (Mateus 16:16, 17; João 3:16), e o Espírito Santo é outra Pessoa (João 16:7; Hebreus 3:7). Observe o seguinte texto. “E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade que o mundo não pode conhecer, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque Ele habita convosco e estará em vós” (João 14:16).

O que vemos neste texto? O Filho de Deus está falando aos seus discípulos. Ele disse que rogaria a quem? Ao Pai. O que pediria ao Pai? Ele rogaria ao Pai que enviasse outro Consolador. Cristo apresenta o Espírito Santo neste texto como ἄλλον Παράκλητον. As palavras allós Parakletos significam “outro Consolador” ou “outro Ajudador”. O termo allós significa “outro da mesma espécie”, ou “outro da mesma classe”, ou “outro igual”. “Visto que a palavra grega allós significa “outro da mesma classe”, se deduz que o Espírito Santo era da mesma classe que Cristo, a saber, uma pessoa divina”.[3]

Jesus foi o Consolador dos discípulos e agora que retornaria para junto do Pai não os deixaria órfãos. O Espírito Santo estava com eles, mas, até ali, eles não sentiram falta dEle, evidentemente, devido à presença do Filho de Deus. Mas, ao ficarem sem sua presença pessoal e visível, eles sentiriam necessidade de um Consolador. Conforme a promessa de Cristo, a Pessoa do Espírito da Verdade não só estaria com eles, mas habitaria neles. Que maravilha e bênção extraordinária ter o Espírito Santo não simplesmente conosco, mas habitando em nós!

Pluralidade na divindade

As Escrituras apresentam uma pluralidade na divindade (Gênesis 1:26; 3:22; 11:7; Isaías 6:1-4, 8; Mateus 28:19; 2 Coríntios 13:13).[4] São três pessoas divinas. O Pai é Deus (Gênesis 1:1, 2; João 20:17); o Filho é Deus (João 1:1-3; 20:28; Hebreus 1:8; 1João 5:20); e o Espírito Santo também é Deus (Atos 5:4).

Mas, por outro lado, paradoxalmente, as mesmas Escrituras também declaram que Deus é uma ekad, ou unidade (Deuteronômio 6:4); que há um só Deus (Efésios 4:4-6), e que "Deus é um só” (Tiago 2:19). A posição bíblica da unicidade de Deus não admite mais que um só Deus.[5] Estamos diante do mistério da Trindade divina, ou seja, um Deus em três pessoas. As três pessoas são distintas, mas são uma mesma essência ou natureza. Isto fere sua lógica humana? É um teste de humildade. Um conselho: “tire as sandálias dos seus pés, pois este lugar é terra santa”. Eles são os maiores poderes do Universo. O Pai no “trono do Universo” (Daniel 7:9; Apocalipse 4:9-11), o Filho no “trono da graça” (Marcos 16:19; Hebreus 4:16), e o Espírito Santo no “trono do coração” (1Coríntios 3:16; 6:19, 20). Eles atuaram juntos na obra da criação (Gênesis 1:1, 2, 27; João 1:1-3, 14), e tem atuado na redenção (Mateus 26:39, 42; Lucas 3:22; João 3:3, 5, 14-16).

Uma das características da divindade é sua subordinação funcional. O Pai primeiro (Colossenses 1:3; João 3:16; 5:37). A seguir, o Filho (Filipenses 2:9; Hebreus 1:8). E o Espírito Santo por último (João 14:16, 26; 16:7, 14; 2 Coríntios 13:13). Porém, nenhuma Pessoa da divindade é inferior à outra. A subordinação não prejudica a igualdade, pois: "É um só, e o mesmo Deus em natureza, propósito e ação. Ellen White declara: “Há três pessoas vivas pertencentes à trindade celestial [...] o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.[6]

Amigo leitor, há uma terrível advertência quanto a resistir ao Espírito Santo. "Por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra a Espírito Santo não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á isto perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isto perdoado, nem neste mundo, nem no porvir" (Mateus 12:31, 32).

Há neste texto uma aparente sobreposição ou superioridade do Espírito Santo em relação ao Filho de Deus. Novamente, não é questão de hierarquia, mas de função, pois é o Espírito Santo a Pessoa que nos convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8). Jesus advertiu seus ouvintes contra o desprezar e resistir a atuação do Espírito Santo ao ponto de ter uma consciência cauterizada.[8] Uma maneira de chegar a esse ponto é duvidar da personalidade e divindade do Espírito Santo. Jesus diz: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3:22). Amigo, agora, ainda é o tempo do Espírito Santo. Você deseja que 2017 seja o ano do Espírito Santo em sua vida? Deixe-o guia-lo através da Bíblia. E aceite a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador.


Referências:

[1]Este artigo apresenta algumas contribuições de Billy Graham em: O Espírito Santo (São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova), 12. Para um estudo mais detido sobre o Espírito Santo ver: Nisto Cremos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira); Creencias de los adventistas del séptimo día (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2007); Fernando L. Canale, “Doutrina de Deus” em Tratado de teologia adventista, editado por Raoul Dederen (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011).

[2]A expressão “inspirada por Deus” em 2Timóteo 3:16 é tradução do grego θεόπνευστος (theopneustos) que significa “soprada por Deus”. À luz de 2Pedro 1:21, é indicação da divindade do Espírito Santo.

[3]Fernando L. Canale, “La Doctrina de Dios”, en Teología: fundamentos bíblicos de nuestra fe, vol. 2 (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2005), 95.

[4]Ibíd., 74.

[5]Ibíd. 72, 73.

[6]Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), 615.

[8]Edwin Reynolds, “?Qué es el pecado imperdonable?”, en Interpretación de las Escrituras, ed. Gerhard Pfandl (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2012), 258-260.

Wilson Borba

Wilson Borba

Sola Scriptura

As doutrinas bíblicas explicadas de uma forma simples e prática para o viver cristão.

Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho. Possui um mestrado em Sagrada Escritura e outro doutorado em Teologia pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul.