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Coluna | Wilson Borba

Morte, juízo e a segunda vinda de Cristo

Como entender o papel de Cristo após Sua ascensão, de acordo com o texto bíblico, e o que significa sua intercessão e a relação com o juízo e o segundo advento.


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Foto: Shutterstock

Este artigo é um breve comentário da sequência bíblica morte-juízo-segunda vinda de Cristo. “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hebreus 9:28, 29).

A seguir, algumas considerações introdutórias. A carta aos hebreus foi escrita ainda em tempo de crise, após o concílio de Jerusalém, e evidentemente antes da destruição do templo pelos romanos.[1] “Cristãos judeus ainda observavam as festas, sacrificavam como antes e eram zelosos da lei cerimonial (Atos 15)”.[2] Ignoravam que, pela morte de Cristo, oficialmente cessaram os rituais simbólicos e tipológicos que apontavam para o Senhor e seu sacrifício, e que em sua ascensão, Ele passara a oficiar como Sumo Sacerdote em um santuário real que está no céu (Mateus 27:51; Hebreus 8:1, 2; 10:11-13).[3]

Jesus no Santuário

O autor sagrado não se detém a explicar em que lugar do santuário celestial Jesus oficiou em sua ascensão. Devido à familiarização dos leitores com o livro de Levítico, e o ritual do santuário terrestre, seria evidente concluir que o ministério celestial de Cristo iniciou no lugar santo. O uso da palavra hágia para o lugar santo sem o artigo, e o emprego da expressão hágia hagion para o lugar santíssimo (9:1-7) “sugere que o autor de Hebreus compreendia que o santuário celestial era uma estrutura dividida em duas partes”.[4] Mas, em Hebreus “o ministério de duas fases não faz parte do propósito do autor, embora ele nada diga que o invalide”.[5] O autor também “não faz nenhuma tentativa para detalhar o significado antitípico do santuário levítico”, porque o seu foco é explicar o motivo da cessação do mesmo.[6]

Ele queria animar cristãos judeus a “correr com perseverança a carreira” que lhes estava “proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hebreus 12:1, 2). Para isto, deveria fazer seus leitores olharem para Jesus, seu legítimo Sumo Sacerdote oficiando no verdadeiro santuário, que está no céu. (Hebreus 8:1, 2).[7]

Juízo

A primeira parte do texto, em análise, inicia com a expressão “assim como”, e a segunda, com “assim também”. Estas palavras forneceram aos leitores a certeza de dois eventos no futuro, o juízo e a segunda vinda de Cristo. O texto “assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”, é uma explícita declaração de que não há vida após a morte, mas sim, a perspectiva do juízo.[8] Por outro lado, não implica que o juízo é imediatamente após a morte de cada pessoa. “Hebreus não dá dicas sobre acontecimentos escatológicos no tempo”.[9] Não era propósito da pessoa divina do Espírito Santo fornecer em Hebreus uma data para o início do ministério de Cristo no lugar santíssimo do santuário celestial, o que envolve um juízo investigativo e a purificação do santuário, pois através do livro profético apocalíptico de Daniel, Ele já indicara que iniciaria em 1844 (2Pedro 1:20, 21; Daniel 8:13, 14; 9:24-27).[10] O fato do juízo vir após a morte também não significa que todos morrerão antes dele, pois, por ocasião da segunda vinda de Cristo, haverá pessoas vivas que serão trasladadas sem a experiência da morte (1Tessalonicenses 4:17). Entretanto, os que ficarem vivos para o retorno do Senhor, não estarão isentos deste processo legal (2Coríntios 5:10).[11] Cristo fez a promessa: “Eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (Apocalipse 22:12).[12] Sem dúvida, a expressão juízo investigativo pré-advento usada pelos adventistas do sétimo dia é apropriada, porque é antes da segunda vinda de Cristo que se definirá os que receberão a bênção da recompensa final.[13]

A propósito, não precisamos temer o juízo, pois, nele será feito justiça aos santos do Altíssimo, concedendo-lhes o reino (Daniel 7:22).[14] De fato, no juízo, quem está verdadeiramente em Cristo, “não entra em condenação”, mas somente os desprovidos da justiça do Senhor (João 5:24; Mateus 22:11-14).[15] Tão certo como pecado, morte e juízo são realidades universais, “assim também Cristo”, ofereceu-se “uma vez para sempre para tirar os pecados”. Em relação aos seres humanos, se todos morrem é porque todos pecaram (Romanos 3:23), pois, “o salário do pecado é a morte” (6:23; 5:12). Entretanto, a morte de Cristo foge a esta regra, pois, Ele é o segundo Adão (Romanos 5:14; 1Coríntios 15:22).

Cristo nasceu sem pecado, e embora com natureza bem mais fraca que a de Adão, continuou sem pecado, isento de qualquer corrupção e inclinação para o mal, do contrário, Ele também necessitaria de salvação (Hebreus 7:26, 27).[16] Contudo, “tornou-se pecado por nós” (2Coríntios 5:21), e ao receber sobre si a carga dos nossos pecados e culpas, sofreu o castigo que nos pertencia (Isaías 53:4, 5). Sendo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem[17] (João 1:1-3; 1João 5:20; João 1:14; Hebreus 2:14; 1 João 4:2, 3), para tirar nossos pecados, experimentou uma morte real, voluntária, vicária e expiatória (Gálatas 1:4; Efésios 1:7).[18]

Após sua ressurreição e ascensão, necessariamente[19], Cristo passou a atuar como Sumo Sacerdote no santuário celestial (Hebreus 4:14-16; 8:1, 2).[20] Sem dúvida, Seu sacrifício foi aceito pelo Pai, do contrário, não poderia ser nosso advogado junto a Ele (Hebreus 10:12-18; 1João 2:1).[21] Embora, “o sangue de Cristo é a moeda corrente no Céu no que diz respeito à salvação”[22], apesar deste infinito investimento feito em favor dos pecadores, seu sacrifício, suficiente para salvar todos, infelizmente não será eficiente em todos. Beneficiará apenas a “muitos”, os que O buscaram, e dele receberam arrependimento e libertação dos pecados (João 1:29; 1 João 1:9).[23]

Segunda vinda de Cristo

Finalmente, logo após o término do juízo, Jesus “aparecerá segunda vez, sem pecado”. A primeira vez, sem pecado, lembra a impecabilidade de Cristo, mas, neste contexto, a segunda vez, sem pecado, indica que é no processo do juízo, e não na cruz, que os registros dos pecados serão eliminados para sempre (Daniel 7:10; 8:13, 14).[24] Após resolver definitivamente o problema do pecado por meio de Sua mediação e juízo, Cristo “aparecerá segunda vez,... aos que o aguardam para a salvação”. Outra evidência de que ninguém precisa perder a certeza da sua salvação diante a perspectiva do juízo, é a descrição de crentes fieis que aguardam o retorno do Senhor para a salvação.

Assim como o juízo deveria ocorrer depois da morte, a segunda vinda de Cristo ocorrerá após o juízo (Apocalipse 14:6, 20). Sua volta é tão certa como Sua morte. Será a culminação do processo da redenção em favor dos Seus servos que morreram, e dos que O aguardam para a salvação. A vinda de nosso amado Senhor e Salvador Jesus Cristo será o grande clímax da história!

A palavra aparecerá, tradução do termo grego ὀπτάνομαι (optanomai) apresenta-se no tempo futuro, e modo indicativo, pois se refere a um fato real a ocorrer no futuro. Das 58 ocorrências da mesma palavra no Novo Testamento, 53 vezes se referem explicitamente a um aparecimento pessoal, real, visível e audível, por exemplo: Mateus 17:3; 24:30; 26:64; 28:7, 10; Lucas 1:11; 21:27; 24:34; Atos 26:16; 1 Coríntios 15:6; 1João 3:2; Apocalipse 1:7.[25]

O aparecimento do Senhor Jesus Cristo será globalmente visível, desde o oriente até o ocidente, e totalmente audível (Atos 1:11; Apocalipse 1:7; Mateus 24:27, 30, 31; 1Tessalonicenses 4:16). O Rei dos reis e Senhor dos senhores, virá com poder e muita glória, acompanhado por todos os anjos celestiais (Apocalipse 19:16; Mateus 24:30).

Prezado leitor, que segurança você tem diante da realidade da morte, do juízo, e da segunda vinda de Cristo? Já aceitou a Jesus como seu Senhor e Salvador? Olhe para Ele crucificado, morto, ressuscitado, que intercede pelos pecadores, retornará em glória, e tome agora a sua decisão.


Referências:

[1]Francis D. Nichol, ed., Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), 7: 417, 416. A seguir: Comentário bíblico adventista do sétimo dia.

[2]Ibíd., 417.

[3]Edward Heppenstall, Nuestro sacerdote (Villa Libertador San Martin, Argentina: Editorial Ceapé), 28. A seguir: Heppenstall.

[4]Ángel Manuel Rodriguez, “Santuário”, em Tratado de teologia adventista do sétimo dia, editado por Raoul Dederen, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), 436. A seguir: Tratado de teologia adventista do sétimo dia. https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/

wilson-borba/o-santuario-que-esta-no-ceu/.

[5]Frank H. Holbrook, ed., A luz de hebreus, 2ª ed. (Engenheiro Coelho, São Paulo: Unaspress, 2013), 7. A seguir: A luz de hebreus.

[6]Ibíd.

[7]Heppenstall, 28.

[8]Questões sobre doutrina, 1ª ed.(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009), 352-416. A seguir: Questões sobre doutrina; Norman Gulley, Christ Is Coming (Hagerstows, MD: Review and Herald Publishing,  Association, 1998), 283-298.

[9]A luz de hebreus, 232.

[10]Gerhard F. Hasel, “Julgamento Divino” em Tratado de teologia adventista do sétimo dia, 929; William H. Shea, Daniel (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2009), 183-188. A seguir: Shea; https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/wilson-borba/22-de-outubro-de-1844/.

[11]Ellen G. White, O grande conflito, 43ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), 483. A seguir: O grande conflito.

[12]Ibíd. 486.

[13]João Antonio Rodrigues Alves, O juízo investigativo pré-advento (Cachoeira, BA: CePlib, 2008).

[14]Shea, 216, 217; Frank H. Holbrook, O sacerdócio expiatório de Jesus Cristo, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), 218-220. A seguir: Holbrook.

[15]A palavra krisis traduzida por condenação em João 5:24 é também traduzida por juízo; e, tem outras conotações como acusação (Jd 9; 2Pd 2:11), e condenação do inferno (Mt 23:33; Mc 3:29; Jo 5:29). Questões sobre doutrina, 301, 302.

[16]Tratado de teologia adventista do sétimo dia, 185.

[17]Heppenstall, 28.

[18]Vicária, isto é, substitutiva. Sobre expiação ver: Questões sobre doutrina, 250-260.

[19]Ibíd., 269-283; Heppenstall, 29.

[20]Ibíd., 28.

[21]Ellen G. White, Atos dos apóstolos, 9ª ed., (Tatuí, São Paulo: Casa publicadora Brasileira, 2013), 35, 138, 180, 334.

[22]Holbrook, 7.

[23]“O arrependimento inclui a tristeza pelo pecado e o afastamento dele”. Ellen G. White, Caminho a Cristo, 1ª ed. (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 17; O grande conflito, 483.

[24]Holbrook, 194.

[25]J. Strong, The exhaustive concordance of the Bible: Showing every word of the text of the common English version of the canonical books, and every occurrence of each word in regular order, electronic ed. G3700 (Ontario: Woodside Bible Fellowship, 1996).

Wilson Borba

Wilson Borba

Sola Scriptura

As doutrinas bíblicas explicadas de uma forma simples e prática para o viver cristão.

Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho. Possui um mestrado em Sagrada Escritura e outro doutorado em Teologia pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul.