22 de outubro de 1844
Os seres pensantes comprovarão a justiça e a misericórdia de Deus em seu trato com o pecador
A data 22 de outubro de 1844 é verdadeiramente importante no calendário bíblico profético, pois nesse dia, Jesus Cristo iniciou a segunda fase do seu ministério no Santuário celestial. Surpreso? No século 19, especialmente nos Estados Unidos despertou-se um grande interesse no estudo das profecias de Daniel.[1]
O texto de Daniel capítulo 8, versículo 14, considerado o mais importante do livro, tornou-se o centro daquele despertamento, e dos seus estudos proféticos. “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs e o santuário será purificado.”
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Antes de chegar à profecia do capítulo 8, Daniel apresenta duas vezes uma mesma sequência profética de impérios mundiais. A primeira, no capítulo 2, e a segunda no capítulo 7. Esses capítulos são o ABC das profecias de Daniel. Na profecia do capítulo 2, a cabeça da estátua representa o império neobabilônico (605 a.C. – 539 a.C.); o peito e os braços de prata, o império medo-persa (539 a.C. - 331 a.C.); o ventre de cobre, o império greco-macedônico (331 a.C. – 168 a.C.); e as pernas de ferro, a férrea monarquia do império romano (168 a.C. – 476 d.C).
Já os pés, e os dedos de barro misturado com ferro simbolizam as nações da moderna Europa que operam no território do império romano do ocidente.[ii] A pedra que cairá do céu sem auxílio de mãos representa Jesus Cristo (1Pe 2:6-8), que em majestade e poder, na sua Segunda Vinda estabelecerá o eterno reino da glória.[iii] Por sua vez, o capítulo sete revela a mesma sucessão de reinos com mais detalhes. Este modus operandi em Daniel de repetir a mesma profecia acrescentando informações, é denominado princípio recapitulacionista, ou do paralelismo progressivo.[iv]
Assim, o leão alado representa o império neobabilônico; o urso, o império medo-persa; o leopardo de quatro asas, as rápidas conquistas do império grego; e o animal terrível e espantoso, o implacável império romano. Os 10 chifres na cabeça deste último animal simbolizam a mesma Europa dividida após a fragmentação do império romano. Entretanto, o chifre pequeno, de caráter político e religioso, representa Roma Papal.[v] Este poder é descrito na profecia fazendo guerra ao fiel povo de Deus. Mas ao final, ocorrerá o juízo no templo celestial, o Ancião de Dias lhe tirará o domínio, e entregará o reino eterno aos santos do Altíssimo (Daniel 7:26, 27).
Note prezado leitor, que além de Daniel usar o princípio recapitulacionista, também usa o princípio historicista. O historicismo requer o cumprimento da profecia na história. De sorte, que a partir da data em que a profecia foi dada, os acontecimentos na linha do tempo histórico reivindicam a veracidade da predição.[vi] Desse modo, as profecias de Daniel traçam uma linha desde o ano 605 a.C. até o estabelecimento de reino de Deus, na Segunda Vinda de Cristo. O contexto imediato de Daniel 8:14 foi a visão dada ao profeta no terceiro ano do rei Belsazar (8:1), reconhecido como 551 a.C.[vii] Entretanto, em Daniel 8, o foco já não é mais o império babilônico, mas sim os impérios da Media-Pérsia, Grécia, Roma, o chifre papal, especialmente, a purificação do Santuário celestial.
O carneiro, símbolo da Média e Pérsia, e o bode representativo da Grécia, eram animais usados no ritual dos sacrifícios do Dia da Expiação judaico. O Dia da Expiação era um dia de juízo (Levíticos 16:1-10; 23:26-32). Em Daniel 8 amplia-se Daniel 2 e 7 com uma reafirmação de que Deus está no comando da história do mundo, e julgará todos os poderes opositores ao seu povo. Ao ver a sucessão dos impérios mundiais, e o chifre perseguidor do povo de Deus mencionado no capítulo 7, certamente Daniel ansiou pela intervenção divina na história em favor do seu povo. Ao profeta foi dada a certeza de que após 2300 tardes e manhãs o santuário seria purificado.
Daniel não entendeu a visão, mas conforme descreve o capítulo 9, Deus enviou-lhe o anjo Gabriel para dar-lhe a devida explicação. “No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para te declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão. Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos Santos” (vs. 23, 27). O termo hebraico chathak tem sido corretamente traduzido por “determinadas”, e também por “cortadas”.[viii] As setenta semanas foram cortadas do período profético maior das 2300 tardes e manhãs, e determinadas para o povo de Israel.
Conforme o relato da criação no livro de Gênesis, uma tarde e uma manhã (não uma manhã e uma tarde), representam um dia inteiro de 24 horas. A expressão tarde refere-se ao período escuro, e a palavra manhã à parte clara do dia. As 2300 tardes e manhãs são 2300 dias, e as 70 semanas cortadas para Israel são 490 dias. Há dois tipos de profecias bíblicas. A clássica, e a apocalíptica. Esta última requer o uso do princípio dia por ano (Daniel 7:25; 8:14; 9:24; 12:7, 11, 12; Apocalipse11:3; 12:6, 14; 13:5).[ix] Uma evidência do uso do princípio dia por ano em Daniel 8 é o aparecimento de nações simbólicas, tempo simbólico e ações simbólicas, enquanto em Daniel 11 aparecem nações literais, tempos literais e ações literais.
“Virtualmente todos os comentaristas de Daniel concordam que a descrição literal dos eventos históricos em Daniel 11 providencia uma interpretação das figuras e eventos simbólicos descritos no capítulo 8.”[x] E mesmo por pragmatismo, a profecia das 70 semanas de Daniel 9 exige o uso do princípio dia por ano. Portanto, os 2300 dias de Daniel 8 são 2300 anos, e os 490 dias do capítulo 9 são 490 anos. Resta-nos saber o início dos dois períodos. O anjo declarou a Daniel: “Sabe, e entende: desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos” (Daniel 9:25).
A saída da ordem para restaurar Jerusalém ocorreu no sétimo ano do rei Artaxerxes (Esdras 7:11-13), isto é, no outono do ano 457 a.C.[xi] Em 1981, um amigo me disse: “Wilson, minha filha adolescente sabe fazer este cálculo. Você também pode fazer.” Observe o gráfico a seguir:
As 70 semanas de anos começam em 457 a.C., e terminam no ano 34 d.C. Dividindo em partes: As primeiras 7 semanas de anos findaram em 408 a.C., aparentemente com a reconstrução de Jerusalém. Passados mais 62 semanas de anos, chegamos ao ano 27 d.C. Neste ano, Jesus Cristo, o Filho de Deus foi batizado e ungido com o Espírito Santo, iniciando a última semana de anos. Na metade da semana, ou seja, no ano 31 d.C., o Salvador deu sua vida na cruz do Calvário, em expiação pelos nossos pecados. E três anos e meio depois, no ano 34 d.C., Estevão, a última testemunha enviada à nação israelita foi martirizado. Os 490 anos cortados ou determinados para a nação judaica terminaram no ano 34 d.C. Subtraindo os 490 anos dos 2300 anos, restam 1810 anos, que somados ao ano 34 chegam ao ano 1844, precisamente em 22 de outubro, equivalente ao 10º dia do sétimo mês judaico, o Dia da Expiação.
O que ocorreu em 22 de outubro de 1844?[1] Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote iniciou a segunda fase do seu ministério no Santíssimo do Santuário celestial. A Bíblia é clara quanto à existência de um Santuário real no Céu (ver Apocalipse 11:19; Hebreus 8:1-6).[2] A primeira fase do ministério sacerdotal de Cristo no Santuário celestial iniciou após sua ascensão e entronização, e foi caracterizada pela intercessão contínua em favor do seu povo (Hebreus 4:16; 9:6). Entretanto, a segunda fase do seu ministério celestial é caracterizada por sua contínua intercessão, e a purificação do Santuário celestial.[3]
A purificação do Santuário celestial é realizada em meio a um juízo investigativo. Este juízo não é milenial, mas pré-milenial, e pré-advento.[4] É evidente que há coisas para serem purificadas no Santuário celestial (Hebreus 9:23). O capítulo 7 de Daniel apresenta as cenas deste juízo, no tribunal divino, que inclui a abertura de livros ou registros (Daniel 7:9-10).[5] Nesse ponto, algumas pessoas se equivocam, pois pensam que foram perdoadas na cruz. O sacrifício da cruz foi perfeito, e todo suficiente como sacrifício. Entretanto, lá foi apenas provido o sacrifício expiatório por nossos pecados. É no Santuário celestial, pela ministração de nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo, que esse sacrifício é aplicado em nosso favor (Hebreus 4:14-16; 9:11-23).[6]
Não fomos perdoados lá na cruz, mas sim, quando pela fé aceitamos a provisão do sacrifício realizado por Cristo em nosso favor na cruz, e nos apropriamos da aplicação de seu sangue em nosso favor no Santuário celestial. O juízo investigativo revelará quem se beneficiou do sacrifício, e da mediação de Cristo. Segundo o escritor sagrado: “E assim, como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hebreus 9:27, 28). Os milhões e bilhões de seres pensantes em todo Universo, comprovarão a justiça e a misericórdia de Deus em seu trato com o pecador (Daniel 7:10). Amigo, você já aceitou a Jesus Cristo como o sacrifício pelos seus pecados, e também como seu Sumo Sacerdote no Santuário celestial?
Referências:
[1]Clifford Goldstein, 1844 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000).
[2]William G. Johnsson, “O Santuário celeste: figurativo ou real?”, em A luz de hebreus, editado por Frank B. Holbrook (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2013), 4:45-62.
[3]Alberto R. Treyer, “The Day of Atonement as Related to the contamination and purification of the sanctuary, em 70 Weeks, Levíticus, Nature of Prophecy, editado por Frank B. Holbrook (Washington, D.C.: Biblical Research Institute, 1986), 198-228.
[4]Por juízo pós-milenial devemos entender o juízo ao final do milênio descrito em Apocalipse 20. Por outro lado, por juízo pré-milenial devemos entender o juízo realizado por Jesus Cristo antes do encerramento da graça, isto é antes de terminar seu ministério de intercessão, no Santuário celestial.
[5]Para um estudo sobre o juízo investigativo ver: João Antonio Alves, O juízo investigativo pré-advento (Cachoeira, Bahia: CePLIB, 2008).
[6]Ángel Manuel Rodriguez, “Santuário”, em Tratado de teología adventista del séptimo día (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2009), 426-472.