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Coluna | Wellington Barbosa

Entre dois mundos

Em mundo frágil dentro do conceito BANI, a Bíblia tem as melhores respostas para o tipo de liderança necessária e ações importantes


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A vida não precisa ser limitada a este mundo. Há muito mais além do horizonte (Foto: Shutterstock)

No início da década de 1990, professores de liderança estratégica do Army War College, nos Estados Unidos, apresentaram um conceito que ao longo do tempo saiu dos limites da academia militar e alcançou o ambiente de negócios, chamado “mundo VUCA”. Diante das transformações geopolíticas resultantes do período pós-Guerra Fria, eles perceberam que o mundo passou a ser mais volátil, incerto, complexo e ambíguo.

Assim, nos últimos 30 anos vivemos em um ambiente de rápidas transformações (volátil), que se caracterizava pela incerteza resultante dessa dinâmica e mantinha sistemas gradualmente mais complexos e interligados. Além de gerar uma demanda por respostas cada vez mais ambíguas. Até que veio a pandemia do novo coronavírus e transtornou a ordem das coisas.

Novo cenário

Nesse novo cenário, organizações e líderes foram chamados a refletir sobre sua maneira de enxergar o mundo. Entre aqueles empenhados nessa tarefa está o antropólogo norte-americano Jamais Cascio, que sugere outro acrônimo para caracterizar a situação atual, o mundo BANI: brittle (frágil), anxious (ansioso), nonlinear (não linear) e incomprehensible (incompreensível). Em seu artigo Facing the Age of Chaos (2020), ele explica o sentido de cada termo.

O autor afirma que “fragilidade é força ilusória. [...] Um sistema frágil em um mundo BANI pode estar sinalizando o tempo todo que é bom, forte e capaz de continuar, mesmo que esteja à beira do colapso”. Essa condição “ilusória” gera uma atitude ansiosa, e “a ansiedade carrega consigo uma sensação de impotência, um medo de que não importa o que façamos, sempre será a coisa errada”.

Por sua vez, “em um mundo não linear, causa e efeito são aparentemente desconectados ou desproporcionais”. Assim, “pequenas decisões resultam em consequências massivas, boas ou más. E enormes esforços geram poucos resultados”. Finalmente, “tentamos encontrar respostas, mas as respostas não fazem sentido”. Nessa realidade, “mais dados – até mesmo big data – podem ser contraproducentes, sobrecarregando nossa capacidade de entender o mundo, dificultando a distinção entre ruído e sinal. A incompreensibilidade é, com efeito, o estado final da ‘sobrecarga de informações’”.

Bíblia neste contexto e nos cenários

Podemos não concordar com todas as ideias de Cascio, mas devemos reconhecer que suas observações merecem atenção. Se, em linhas gerais, a caracterização do mundo BANI estiver correta, quais seriam os impactos sobre a igreja e sua missão? Embora seja difícil apresentar respostas definitivas, é possível buscar princípios da Palavra de Deus para nortear nossas ações nesse contexto desafiador.

Para uma sociedade frágil, emocional, social e estruturalmente, precisamos apontar a força que vem de Deus. As vulnerabilidades são muitas, mas o Senhor promete ser “nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Salmo 46:1). As condições podem ser adversas, e as respostas para as inquietações contemporâneas podem ser inadequadas, mas “de eternidade a eternidade”, Ele é Deus (Salmo 90:2).

Para um mundo ansioso, impotente diante de problemas cada vez mais difíceis, devemos apresentar Aquele que diz: “Venham a Mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e Eu os aliviarei” (Mateus 11:28). É Cristo quem nos ensina a não andar ansiosos por coisa alguma, mas a buscar o reino de Deus e Sua justiça, crendo que todas as nossas necessidades serão supridas Nele (Mateus 6:25-34).

Para um ambiente não linear, instável, precisamos mostrar que no Senhor temos a estabilidade de que necessitamos. Afinal, Ele é a fonte de todo conhecimento (Daniel 2:20), Aquele que está disposto a nos dar sabedoria generosamente (Tiago 1:5) e indicar o caminho que devemos seguir. “Quando vocês se desviarem para a direita ou para a esquerda, ouvirão atrás de vocês uma palavra, dizendo: ‘Este é o caminho; andem nele’” (Isaías 30:21).

Para um cenário incompreensível, repleto de informações, mas confuso sobre o que fazer com elas, devemos apresentar o fundamento da verdade, assim como ela é em Jesus (João 17:17). É o crivo da revelação divina que nos ajudará a ler o mundo adequadamente e interpretá-lo, de maneira que nossas ações reflitam sua perspectiva de passado, presente e futuro (2 Timóteo 3:16, 17).

Enfim, devemos levar as pessoas que vivem no mundo BANI a enxergar, conhecer e desejar o mundo eterno.

Wellington Barbosa

Wellington Barbosa

Papo de líder

Conceitos de liderança sob uma perspectiva cristã.

Formado em Teologia e Administração, é especialista em Aconselhamento Familiar, mestre em Teologia e doutor em Ministério pela Universidade Andrews (EUA). Trabalha na Casa Publicadora Brasileira (CPB), onde é o editor da revista Ministério, voltada a pastores e líderes da Igreja Adventista. @prwellington7