Igreja: quem precisa dela? Parte 2
Que papel ela desempenha nos dias de hoje? Seu propósito mudou? Entenda.
Na primeira parte deste artigo, apresentamos um panorama sobre o pensamento pós-moderno quanto ao relacionamento das pessoas com a Igreja. Se você ainda não a leu, clique aqui.
Retomando o assunto, eis alguns motivos que talvez expliquem, pelo menos parcialmente, a evasão de muitos da Igreja.
1 - Vivemos na era do descompromisso. As pessoas têm medo do compromisso. Tanto o é que companhias de cartão de crédito ou associações e clubes ganham clientes prometendo que esses poderão sair da sociedade sem nenhuma burocracia à hora em que bem entenderem. “Não haverá nenhum constrangimento em cancelar a assinatura de nosso produto” é a promessa que o cliente quer escutar. A Igreja é o oposto disso. Ela exige um compromisso eterno e, por isso, muitos se tornam avessos à sua filiação.
2 - F. X. Kaufmann elaborou três teses nas quais resume a problemática do ser e do tornar-se cristão na sociedade moderna:
“É difícil ser cristão nesta cultura moderna”.
“É difícil viver e agir como cristão sob as premissas desta cultura”.
“Se, pois, alguém tenta efetivamente tornar válido o seu ser-cristão, ele mesmo se torna difícil para o seu meio ambiente.” E muitos não querem esse desafio para si.
3 - Existem diversos problemas de relacionamento causados por um ambiente que por não desenvolver uma atitude acolhedora acaba se tornando hostil a novos conversos. Some-se a isso o fato de que alguns, por estarem ainda pouco preparados doutrinariamente, acabam se apegando demais a aspectos sociais (e não no ensino) para se firmarem na fé. Não percebem o diferencial de ser adventistas. Se se sentirem bem noutra religião que lhes seja aconchegante, não se importam em ir para ela.
O fato de ter uma doutrina diferente e contrária ao ensino bíblico não é realmente relevante. Foi Philip Yancey que admitiu certa vez seu constrangimento quando tentou convencer um homossexual a abandonar aquela vida e filiar-se a uma igreja evangélica. O rapaz foi firme na resposta: “Mas o que eu vou fazer lá? Buscar apoio? Saiba, Philip, que é mais fácil encontrar sexo na rua que um abraço na igreja”.
4 - A falta de piedade vista em muitos professos seguidores do evangelho. Uma recente pesquisa feita nos Estados Unidos apontou quais eram os seguimentos mais desacreditados na opinião dos cidadãos norte-americanos. Os mais apontados foram: a política, o Departamento de Justiça, o sistema policial e as agremiações religiosas.
A causa desta desconfiança era o número elevado de escândalos envolvendo juízes, promotores, policiais, advogados e políticos. Não devemos de modo algum justificar os maus testemunhos. Contudo, o problema de alguns é que preferem cortar toda a floresta devido a duas ou três árvores pobres que encontraram em seu meio. Dizer que a Igreja não é digna porque um líder errou significa qualificar erroneamente um grande número de irmãos piedosos que não tiveram relação com aquele erro. É se colocar acima dos outros como se estivesse espiritualmente tão mais elevado que decide não se contaminar, ficando em meio a uma Igreja problemática. Não é por menos que alguém ironizou: “Não fique fora da Igreja alegando que nela há hipócritas demais, venha, sempre há espaço para mais um”.
Afinal, precisamos ou não da Igreja?
De fato, não são as obras nem a Igreja que nos salvam, é Jesus. Contudo, não podemos esquecer duas coisas:
Primeiro: reunir-se na Igreja é uma ordem de Deus. “Reúnam aqueles que são fiéis a mim, aqueles que fizeram um acordo comigo” (Salmo 50:5). Deus não converte ninguém para torná-lo um cristão avulso.
Segundo: mesmo vivendo numa Igreja com mil problemas, o autor do livro de Hebreus afirmou: “Não abandonemos, como alguns estão fazendo, o costume de assistir às nossas reuniões. Ao contrário, animemo-nos uns aos outros e ainda mais agora que vocês vêem que o Dia do Senhor está chegando” (Hebereus 10:25). Desapontamento não é justificativa para sair da Igreja.
E tem mais, a fé solitária é uma brasa fora do fogo que logo se apaga. Precisamos estar junto daqueles que partilham a nossa fé. Do contrário, desanimaremos.
Quando alguém pergunta se é possível ir para o céu estando fora da Igreja, imediatamente devemos fazer outra pergunta: “É possível atravessar o Atlântico num barco a remo?” Sim, é possível. O brasileiro Amir Klink fez isso na década de 1980. Ele remou durante 100 dias da Costa Ocidental africana até ao Brasil. Mas se for possível escolher, é muito melhor ir num transatlântico ou num avião. É muito mais seguro.
Do mesmo modo, pode até ser que alguém chegue ao céu estando fora da Igreja, mas é muito mais seguro dentro dela.