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Coluna | Rodrigo Silva

A providência divina e a história da escrita

Deus conduziu o desenvolvimento da escrita até chegar aos nossos tempos. A Bíblia, um dos livros mais importantes do mundo, é um bom exemplo disso.


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Antigos escritos sumérios no estilo cuneiforme. Foto: Shutterstock

O cristianismo e o judaísmo, por causa de sua forte conexão com a Bíblia Sagrada, são consideradas religiões do livro. Ou seja, a legitimidade histórica de suas crenças está intimamente ligadas à veracidade de uma Escritura Sagrada que permeia seus ensinamentos. É por isso que uma busca religiosa por qualquer ensinamento bíblico não pode prescindir do conhecimento acerca da produção desse livro, isto é, quando e como esse precioso livro foi escrito. Como se originaram suas histórias? Quem as colecionou e preservou?

É claro que não foi apenas uma pessoa que escreveu a Bíblia. Nem Moisés, nem Abraão, Paulo ou até mesmo Jesus foi o autor responsável por todo o seu conteúdo. Antes, a Bíblia é o resultado de uma produção literária que envolveu várias pessoas ao longo de muitos anos. Foram ao todo cerca de 1500 anos de redação envolvendo dezenas de autores consagrados e inspirados por Deus.

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História da escrita

Pode parecer incrível, mas os historiadores acreditam que a escrita foi inventada quatro vezes, quase que simultaneamente! Por volta de 4000 a.C., (uma data hipotética e convencional) China, Egito, Mesopotâmia e povos da América Central começaram a desenvolver os primeiros sistemas para registrar a comunicação. Para quem acredita no relato bíblico, esse fenômeno da escrita deve ter se iniciado nalgum momento logo após o dilúvio.

Nada de letras, sílabas ou palavras. Apenas desenhos. Naquela época, se alguém quisesse escrever “boi”, provavelmente desenharia uma cabeça de boi em um tijolo de barro ou em um pedaço de cerâmica. Por isso, esses sistemas foram chamados pictóricos ou ideográficos. Um exemplo muito conhecido desse tipo de escrita é o hieróglifo egípcio.

Ainda que o momento exato da criação da escrita seja um assunto complexo, podemos afirmar que esta foi a maior invenção do homem juntamente com a invenção da roda, dos números e da matemática. Sem os antigos e atuais sistemas de escrita, jamais teríamos evoluído como organismo social, pois toda a comunicação e comércio que caracterizam as sociedades ao longo do tempo dependem de alguma forma de escrita para ser eficaz. É claro, porém, que o homem já vivia em agrupamentos antes da invenção da escrita e, nesta condição, aquelas antigas sociedades se baseavam num sistema de tradições orais passadas de boca em boca, de pai para filho.

Embora os habitantes dessas sociedades estivessem acostumados a esse processo mais do que nós em nossos dias, eles também pecavam no detalhamento dos relatos e faltavam com a precisão em um ou noutro ponto da mensagem transmitida. Assim, até aquilo que Deus havia revelado corria o risco de ser prejudicialmente alterado ao passar dos anos. Era essencial, portanto, o estabelecimento de algum tipo de preservação de conteúdos que fosse mais seguro que a mera transmissão oral. Portanto, não é difícil afirmar que a providência divina estava por trás da invenção humana da escrita.

Alfabetização nos tempos antigos

A posição mais tradicional afirma que a escrita humana tenha se originado na antiga Mesopotâmia, atual região da síria e do Iraque. Foram os sumérios, destacado povo desta região, que desenvolveram a escrita e as primeiras escolas de escribas.  Abraão, só para lembrar, nasceu na Mesopotâmia e provavelmente sabia ler e escrever. Contudo, Deus não achou necessário que tivéssemos algum escrito abraâmico presente no cânon das Escrituras.

O ensino da leitura e escrita começava bem cedo para os sumérios e era ministrado aos juvenis a partir dos 5 ou 7 anos. Há indícios de que as meninas também poderiam ser treinadas como escribas, mas a maioria dos alunos era composta de meninos, filhos de famílias ricas ou nobres. Somente as classes mais abastadas tinham acesso à escola que funcionava em uma casa ou nas dependências de um templo.

Tabuinhas de argila com inscrições da época descrevem o cotidiano na sala de aula. Revelam, por exemplo, que os alunos recebiam castigos físicos como golpes de vara nas costas toda vez que erravam uma lição ou falavam sem a permissão do professor. Um simples atraso para a aula resultava em surra na frente dos colegas. Uma metodologia certamente condenável hoje.

Antigas tabuinhas ou tabletes de argila, desenterrados no Curdistão, mostram exercícios de classe que os alunos faziam. Ali sempre havia palavras e símbolos escritos no verso ou numa linha acima e o aluno deveria copiar corretamente sob o risco de apanhar se lesse ou escrevesse algo errado.

A Escrita na Antiguidade (episódio do programa Evidências)

Escritos e linguagem humana

Com a evolução da escrita, os diferentes símbolos deixaram de representar apenas objetos, como cavalos, bois ou carneiros, e começaram a representar a linguagem humana. Atualmente, alguns arqueólogos afirmam poder localizar o mais antigo registro dessa transformação: uma tábua suméria de 3000 a.C., encontrada na cidade de Jemdet Nasr, no Iraque. Nela, os pesquisadores encontraram o desenho de uma haste de junco em posição horizontal numa lista de objetos do templo.

O que o desenho de uma haste de junto fazia em uma relação de objetos sagrados? Até que um dos responsáveis pela tradução percebeu que o mesmo som que significava “junco” na língua dos sumérios – gi – também significava “fornecer” ou “pagar”. O responsável pela contabilidade do templo percebeu a semelhança entre os sons das duas palavras e “pegou emprestado” o símbolo do junco para criar outra palavra, em outro contexto.

Os povos antigos eram muito mais criativos do que imaginávamos e, também, preservavam sua história. E não pense que eles escreviam apenas coisas simples como nomes de coisas soltas, não! Grandes obras literárias, poemas, tratados médicos, matemáticos e astronômicos foram escritos pelos sumérios e depois pelos babilônios, seus primeiros herdeiros literários.

Papel dos egípcios

Enquanto esse sistema se desenvolvia na Mesopotâmia, quase que em paralelo aos sumérios, os egípcios também produziam sua forma de escrita. Localizados às margens do Rio Nilo, e cercados pelo deserto do Saara, os egípcios desenvolveram uma forma peculiar de anotar sua história. Como a escrita sumeriana sua linguagem também era uma mistura de sons silábicos e ideogramas que exigiam grande destreza artística do escritor. Por estar maiormente presente em paredes de túmulos e templos, essa forma de escrever ficou conhecida como escrita sagrada ou como se diz em grego hieroglífica Com o tempo, porém, esse modo de escrever dos egípcios evoluiu para formas mais simplificadas, como o hierático, que era uma variante mais cursiva que se podia pintar em papiros ou placas de barro. E ainda mais tarde, com a influência grega, veio o demótico, fase em que os hieróglifos iniciais ficaram bastante estilizados, havendo mesmo a inclusão de alguns sinais gregos na escrita.

Ainda é importante dizer que diferente dos sumérios que usavam mais a argila e as pedras para escrever, entalhando literalmente seus fonemas nos tabletes, os egípcios optaram pela invenção de um tipo de papel, o papiro, feito do caule da planta de mesmo nome que crescia ao longo do Nilo e suprimia a falta de pedra e argila em seu reino, afinal eles moravam em pleno deserto!

Foi desta planta, chamada pelos gregos de Biblos, que veio o nome do livro mais importante da humanidade: a Bíblia Sagrada. Uma mensagem dada por Deus aos homens, em que o Altíssimo nos revela Suas verdades, Seu caráter e qual o caminho da salvação. Certamente a invenção da escrita foi um grande passo no desenvolvimento das civilizações, mas não se deveu à genialidade humana. Veio de Deus a capacidade que permitiu a criação dos símbolos, silabas e letras que permitiriam ao Espirito Santo falar aos homens com sotaque humano. Glória a Deus pela invenção da escrita! Glória a Deus pela dádiva da Bíblia Sagrada!

Rodrigo Silva

Rodrigo Silva

Evidências de Deus

Uma busca pela verdade nas páginas da história.

Teólogo pós-graduado em Filosofia, é mestre em Teologia Histórica e especialista em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Doutor em Arqueologia Clássica pela Universidade de São Paulo (USP), é professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), curador do museu arqueológico Paulo Bork, e apresentador do programa Evidências, da TV Novo Tempo.