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Coluna | Rafael Rossi

A formação da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Como surgiu e como funciona a estrutura da Igreja Adventista do Sétimo Dia? Este artigo responde de uma forma detalhada o tema.


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Sede mundial adventista, localizada nos Estados Unidos. (Foto: Adventist News Network)

Uma das figuras que a Bíblia apresenta para compor as estruturas do que significa a igreja é a associação com o corpo. A centralidade do sacrifício de Jesus faz Dele a cabeça. Paulo escreveu: “... no qual todo edifício bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor” (Efésios 2:21). E continua: “Mas seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o Cabeça, Cristo, de quem todo corpo bem ajustado e consolidado, pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para edificação de si mesmo em amor” (Efésios 4:15-16).

Paulo deixa clara a importância e a necessidade da organização institucional da igreja. Assim como o corpo funciona de maneira integrada, cooperativa entre todos órgãos, de modo específico a igreja deve funcionar integrada, ajustada, formando uma unidade harmônica a fim de que, como num todo completo, tudo funcione com vida, eficiência e amor.

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Ellen White também reforça a necessidade da composição estrutural da igreja. “Ninguém acaricie o pensamento de que podemos dispensar a organização. O erguimento desta estrutura custou-nos muito estudo e orações em que rogávamos sabedoria, e as quais sabemos Deus ouviu. Foi a mesma edificada por Sua direção, por meio de muito sacrifício e contrariedade. Nenhum de nossos irmãos esteja tão iludido que tente derribá-la, pois acarretaria assim um estado de coisas que nem é possível imaginar-se. Em nome do Senhor declaro-vos que ela há de ser firmemente estabelecida, robustecida e consolidada.”[1]

Bases

Em relação à Igreja Adventista do Sétimo Dia, desde os primórdios os pioneiros entenderam que se quisessem alcançar o mundo todo com a mensagem do Terceiro Anjo, tinham de se organizar para obter melhores resultados.

Em 1855, por meio de orientações do Espírito de Profecia, o Senhor indicou que era preciso um sistema de organização para corrigir e impedir confusão. Devido às condições na época do desapontamento de 1844, foi reforçada a necessidade de organização. Nessa época, não havia registros de igreja ou de membros, nem se pensava em eleições de oficiais; pastores ordenados eram muito poucos. Não existia nenhum sistema para o uso das finanças, pois o povo dava aos pregadores o que bem lhe parecia. Assim, uns eram bem cuidados, outros não recebiam nada.

Segundo Ema E. Howell, não havia “trabalho evangélico organizado (um obreiro ia simplesmente aonde sentia que o Senhor o chamava para fazer determinada obra). Os crentes adventistas estavam unidos em espírito e propósito, mas um sistema ordenado para o avançamento de sua mensagem estava ainda por organizar-se.”[2]

Objetivos da organização da Igreja

Há pelo menos três objetivos para a organização da Igreja.

Deus é um Deus de ordem. Diz o apóstolo Paulo: “Porque Deus não é de confusão; e sim, de paz.” (1 Coríntios 14:33); e mais: “Tudo, porém, seja feito com decência e com ordem” (1 Coríntios 14:40).

Quando os filhos de Israel estavam em peregrinação pelo deserto, esperando o tempo de entrada na terra prometida, Deus os orientou a se locomoverem em determinadas formações, estabelecendo a posição de cada tribo no acampamento em relação ao tabernáculo, que ficava no centro.

“Os filhos de Israel se acamparão junto ao seu estandarte, segundo as insígnias da casa de seus pais; ao redor de frente para a tenda da congregação, se acamparão” (Números 2:2). “Assim fizeram os filhos de Israel; conforme a tudo o que o Senhor ordenara a Moisés, se acamparam segundo os seus estandartes, e assim marcharam, cada qual segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais” (Números 2:34).

“O governo de Israel caracterizou-se pela organização mais completa, maravilhosa tanto pelo seu esmero como pela sua simplicidade. A ordem, tão admiravelmente ostentada na perfeição e arranjo de todas as obras por leis, era manifesta na economia hebreia. Deus era o centro da autoridade e do governo, o Soberano de Israel. Moisés desempenhava o papel de seu chefe visível, em virtude de indicação divina, a fim de administrar as leis em Seu nome. Dos anciãos das tribos foi mais tarde escolhido um concílio de setenta, para auxiliar a Moisés nos negócios gerais da nação. Vinham em seguida os sacerdotes, que consultavam ao Senhor no santuário. Chefes ou príncipes governavam as tribos. Abaixo destes estavam os capitães de milhares, capitães de cem, capitães de cinquenta, e capitães de dez; e, por último, oficiais que poderiam ser empregados no desempenho de deveres especiais (Deuteronômio 1:15)”.[3]

No Novo Testamento, encontramos Cristo, que sacia a fome do povo e multiplica os pães para quase cinco mil pessoas. Ele ordenou, também, que todos se assentassem em grupos de 100 e de 50 para, então, serem servidos pelos discípulos. Tudo ocorreu na mais perfeita ordem.

Gideão, com seus 300 homens organizados, conseguiu derrotar “os midianitas e os amalequitas e todos os povos do oriente” que “cobriam o vale com gafanhotos em multidão” (Juízes 8:10).

Sem organização, não pode haver eficiência e bons resultados para nenhum empreendimento; nem mesmo para a Igreja.

Descentralização da decisão monocrática

No início da história denominacional adventista, Ellen White advertiu a respeito daquilo que não deveria acontecer. Ela fez o seguinte destaque quando falou da necessidade de uma organização: “Jamais a mente de um indivíduo ou de um grupo de pessoas deveria ser considerada como suficiente em sabedoria e poder para controlar o trabalho e determinar os planos que deveriam ser seguidos. A responsabilidade do trabalho nesse vasto campo não deveria repousar sobre dois ou três indivíduos.”[4]

“Aumentando o nosso número, tornou-se evidente que sem alguma forma de organização, haveria grande confusão, e a Obra não seria levada avante com êxito. A organização era indispensável para prover a manutenção do ministério, para levar a Obra a novos campos, para proteger dos membros indignos tanto as igrejas quanto os ministros, para a conservação das propriedades da igreja, para a publicação da verdade pela imprensa e para muitos outros fins.”[5]

Ordem e organização da Igreja

De acordo com o Manual da Igreja, há quatro níveis constitutivos desde o crente individual até a organização mundial da obra da Igreja. São eles:

  • A Igreja, que é o corpo unido de crentes individuais.
  • A Associação ou Missão, que é um corpo unido de igrejas organizadas em um Estado, província ou território.
  • A União-Associação ou União-Missão, que é um corpo unido de Associações ou Missões, dentro de um território maior.
  • A Associação Geral, a maior unidade da Organização, que abrange todas as Uniões, em todas as partes do mundo. As Divisões são seções da Associação Geral, com responsabilidade administrativa atribuída a ela em determinadas áreas geográficas.[6]

Ellen White esclarece como deve funcionar o sistema representativo da Igreja: “Cada membro da Igreja tem participação na escolha dos oficiais da Igreja. Os delegados escolhidos pelas Associações escolhem os oficiais das Uniões; e os delegados escolhidos por estas escolhem os oficiais da Associação Geral. Por meio deste sistema, cada Associação, instituição, igreja e indivíduos, quer direta, quer por meio de representante, participa da eleição dos homens que assumem as responsabilidades principais na Associação Geral.”[7]

A Associação Geral

Dois parágrafos escritos por Ellen White são bem enfáticos sobre o papel da Associação Geral na condução do trabalho da Igreja ao redor do mundo. “Foi-me mostrado que nenhum homem deve render-se ao juízo de qualquer outro homem, mas quando é exercido o juízo da Associação Geral, que é a mais alta autoridade que Deus tem sobre a Terra, a independência e juízo individuais não devem ser mantidos, mas renunciados.”[8]

“Deus ordenou que os representantes de Sua Igreja de todas as partes da Terra, quando reunidos numa Associação Geral, devam ser autoridade.”[9]

A direção do Espírito Santo

Quem dirige os destinos da Igreja é o Espírito Santo. Os homens são apenas instrumentos em Suas mãos. “O Pentecostes”, escreveu o pastor Leroy E. Froom, um teólogo adventista, “foi o dia de emposse do Espírito Santo como divino administrador da Igreja... E toda a administração da Igreja esta entregue a Ele até que Cristo volte na glória do Segundo Advento.”[10]

“A menos que o Paracleto escolha, use e abençoe, tudo será em vão. Se houvesse menos diplomacia e mais oração, menos manobra e mais súplica, o Espírito Santo teria maior oportunidade de indicar a Sua vontade. Quando uma igreja ou comissão se põe a preencher cargos de acordo com sua própria preferência ou vontade, ela faz nada menos que uma afronta ao Espírito Santo. O concílio de Jerusalém foi um tipo de todos os verdadeiros concílios; e quanto às decisões tomadas lemos: ‘Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais’ (Atos 15:28). Deve-se observar aqui que a escolha do Espírito Santo vem em primeiro lugar.”[11]

O nome Igreja Adventista do Sétimo Dia

Na formação da Igreja Adventista do Sétimo Dia, todos os detalhes foram divinamente cuidados, inclusive com a escolha do nome. Deus orientou os pioneiros no sentido de que tudo o que fosse feito deveria ser com a devida reflexão, oração. E sempre buscando orientação divina a fim de que nada fosse destituído de sentido e a Igreja Remanescente pudesse alcançar os altos propósitos para os quais ela surgiu.

Mais de um século e meio atrás, em 1º de outubro de 1860, em Battle Creek, Michigan, um grupo de indivíduos esperando o breve retorno de Jesus escolheu o nome “Adventistas do Sétimo Dia” para si mesmos. Os primeiros adventistas foram quase forçados pelas circunstâncias a escolher um nome.

Primeiro, havia a questão de a Igreja não ser capaz de possuir uma propriedade porque ela não era legalmente constituída. Em segundo lugar, o que responder quando lhes perguntassem a que denominação pertenciam? Além disso, várias Igrejas Adventistas já haviam escolhido nomes diferentes para suas congregações.

E foi assim que 25 delegados se reuniram para abordar a questão da adoção de um nome. Depois de uns dias de discussão — tendo abandonado outras denominações, os delegados estavam hesitantes de formar outra organização — o nome Adventista do Sétimo Dia foi sugerido por David Hewitt, conhecido como o “homem mais honesto” em Battle Creek. Seguiu-se uma longa discussão, mas o nome foi escolhido por 24 votos a favor e um contra.

O nome Adventista do Sétimo Dia reflete as crenças da Igreja em três palavras.

Adventista indica a segurança do breve retorno (advento) de Jesus a esta terra. Sétimo Dia se refere ao sábado bíblico de descanso que foi graciosamente dado por Deus para a humanidade na criação e observado por Jesus durante a Sua encarnação. Juntos, os dois termos falam do evangelho, que é a salvação em Jesus Cristo.

E sobre o nome, Ellen White declarou: “O nome Adventista do Sétimo Dia exibe o verdadeiro caráter de nossa fé, e será próprio para persuadir aos ‘espíritos indagadores’”. Noutra citação que reputamos lapidar, a Serva do Senhor afirmou: “Não podemos adotar outro nome que quadre melhor do que esse que concorda com a nossa profissão, exprime a nossa fé e nos caracteriza como povo peculiar.”[12]

Origem e destino

O nome da Igreja Adventista do Sétimo Dia designa a origem e o destino da humanidade. A criação em sete dias literais que terminou no sábado revela a origem. Já o advento de Cristo revela o destino final dos que aceitam a Jesus como Senhor e salvador pessoal.

“Deus prova a fé de Seu povo com o fim de lhe experimentar o caráter. Aqueles que, em tempos de emergência, estão dispostos a sacrificar-se por Ele, são os que Ele honrará, dando-lhes parte em Sua Obra.”[13]

A Igreja começou com sacrifício e da mesma forma será terminada. O preço que Jesus pagou pelo nosso resgate é muito mais elevado do que tudo o que fizermos pela Sua Igreja. Ele o fez por amor; também nós, o que fizermos pela Sua Igreja, devemos fazer movidos pelo amor a Jesus e às pessoas.


Referências:

[1] White, Ellen G.  A Igreja Remanescente, p. 12.

[2] Howelll, Ema E. O Grande Movimento Adventista, p. 53.

[3] White, Ellen G. Patriarcas  e Profetas, p. 389 e 391.

[4] Idem. Manuscrito N.º 43, 1901.

[5] Idem. Testemunhos Para Ministros, pág. 26

[6] Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Manual da Igreja, 2015, p. 45.

[7] White, Ellen G. Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 240-241.

[8] Idem. Testemunhos para a Igreja, vol.3, p. 492.

[9] Idem. A Igreja Remanescente, p. 67.

[10] Froom. L.E. A Vinda do Consolador, p. 90.

[11] Idem, pág. 90.

[12] Idem, p. 79.

[13] White, Ellen G. Testemunhos para a Igreja, vol. 6, p. 104.

Rafael Rossi

Rafael Rossi

Em dia com o nosso tempo

Os fatos diários lidos a partir de um olhar teológico.

Formado em Teologia, é pós-graduado em Aconselhamento e mestre em Teologia Pastoral. Atualmente é o diretor de Evangelismo da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito países sul-americanos. @rafaelrossi7