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Coluna | Rafael Rossi

Ellen White, dramatizações e filmes

Uma reflexão a partir da Bíblia e de escritos da Igreja Adventista a respeito do uso e produção de filmes e dramatizações para finalidade missionária


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Foto: Reprodução do Youtube

Nesse ano, a Igreja Adventista do Sétimo Dia lançou um filme intitulado O Resgate para apresentar às pessoas uma parábola moderna sobre o significado da vida e da morte de Jesus. O filme ultrapassou 300 mil visualizações em português e espanhol no Youtube, e os números não param de crescer. Os testemunhos são inúmeros de como as pessoas foram impactadas pela mensagem central, que nos leva a refletir no maior resgate da história, quando Jesus tornou-se um de nós.

Para dirimir qualquer dúvida, o departamento de Comunicação da Divisão Sul-Americana apresenta o seguinte texto que esclarece as bases para usar esse tipo de mídia para pregar.

Um dos temas de preocupação de Ellen White em seus escritos foram o teatro e as dramatizações ou encenações teatrais. Os principais estudos que sistematizaram o pensamento de White a respeito dessa questão são dois: Representações dramáticas em instituições adventistas, de Arthur White, publicado originalmente em 1963, e o recente verbete Drama and theather, de Liliane Doukhan, publicado na The Ellen G. White Encyclopedia, livro de 2013 ainda não traduzido para o português.

Em um breve panorama desses estudos, fica claro que Ellen White escreveu sobre o tema a partir de duas perspectivas: (1) o teatro como meio de entretenimento e (2) a inserção de atitudes teatrais por pregadores e evangelistas.

A respeito do primeiro foco, o do teatro como meio de entretenimento, ela critica essa forma de diversão pelo seu conteúdo vulgar e pelo seu ambiente estar associado à vida boêmia (jogos de azar, bebida e fumo), o que era realidade na época. Geralmente as declarações de Ellen White sobre o perigo da influência do teatro estão ligadas ao contexto institucional adventista a partir da década de 1880:  o problema da formação de sociedades literárias adventistas, que levavam muitos jovens a frequentarem o teatro, e das encenações teatrais "mundanas" feitas em instituições adventistas como colégios e hospitais, embora até hoje não se saiba ao certo que tipo de peças e entretenimento eram apresentados no Sanatório de Battle Creek, por exemplo. Sabe-se apenas que eles não tinha caráter religioso ou evangelístico, mas de entretenimento somente.

Sobre o segundo foco, que é  o uso de posturas teatrais por ministros e pregadores, White condena essa prática. Para ela, era inaceitável que pregadores e ministros agissem de forma sensacionalista ou vulgar para atrair os ouvintes.

Abaixo seguem trechos do texto de Doukhan, o estudo mais recente a respeito da temática feito pela igreja, já mencionado anteriormente:

“Outra das preocupações de Ellen White tem a ver com o comportamento teatral em contextos religiosos. Com frequência ela usa a palavra teatral para se referir a um conjunto de atitudes e comportamentos no contexto de reuniões públicas, como o púlpito, reuniões de temperança, reuniões evangelísticas, Escola Sabatina e reuniões de angariação de fundos. Muitas de suas referências a atitudes teatrais tratam do comportamento do pregador no púlpito. White condena especialmente as ‘atitudes e expressões calculadas a causar efeito’, ‘gestos indignos, impetuosos’ e ‘vulgaridade’, durante as quais os pregadores ‘atacam, gritam, saltam para cima e para baixo, esmurram o púlpito’ (Evangelismo, página 640, Obreiros Evangélicos, página 172 e Review and Herald, 8 de agosto de 1878).

“Tal comportamento era típico de pregações em reuniões campais do século 19, caracterizadas por uma abordagem altamente pragmática e individualista, favorecendo a espontaneidade [excessiva] e a excitação a fim de ‘despertar’ a congregação. Sendo o sermão o clímax do culto, surgia a tentação ao exibicionismo e ao espetacular. Em comentários adicionais sobre atitudes teatrais na pregação, White também condena um ‘espírito de frivolidade’ que contrasta com a alegria genuína; ou a ‘exposição do próprio eu’, misturando o cômico com o religioso mediante formas descuidadas, burlescas e irreverentes que representam falsamente a Cristo, em vez de pregar a Palavra de modo a criar uma impressão solene (Obreiros Evangélicos, p. 18, 132, Fundamentos da Educação Cristã, página 462, Signs of the Times, 13 de outubro de 1890). Em vez de usar anedotas para divertir a congregação, o pregador deve buscar qualidades como dignidade, simplicidade, bondade e beleza. Além disso, ela fala contra o uso da ‘habilidade no palco’ com o propósito de se exibir, ou o desejo de obter sucesso mediante o cultivo do sensacionalismo e da exibição externa, e usando a tolice vulgar para tornar as reuniões atrativas e interessantes (Testemunhos para a Igreja, v. 5, página 127).

“O que é condenado em todas essas atitudes teatrais é uma abordagem ‘superficial’ que confunde os sentidos e ofusca a verdade. White encoraja o uso de métodos sensíveis e racionais caracterizados por profunda experiência religiosa, verdadeira piedade e humilde espiritualidade. Por meio do cultivo de expressões que elevam e enobrecem, o intelecto será fortalecido e a moral será confirmada. Simplicidade, humildade, graciosa dignidade e sabedoria devem ser as qualidades que governam a apresentação da verdade de maneira que os ouvintes possam ser impressionados favoravelmente” (Lilianne Doukhan, Drama and theater, em The Ellen G. White Encyclopedia, ed. Denis Fortin e Jerry Moon [Review and Herald, 2014], páginas 783-784 [a ser lançada pela CPB]).

Diante disso, os textos usados para desqualificar a criação de produções audiovisuais de ficção pela organização adventista, encontrados em livros como Evangelismo, por exemplo, referem-se a “posturas teatrais“ e “exibições teatrais” apresentadas por ministros e pregadores. Tais textos não se referem a encenações e dramatizações produzidas por adventistas, seja dentro ou fora do ambiente de culto. Não é possível considerar os textos de White sobre o ambiente e o conteúdo do teatro, e muito menos as críticas que ela faz à teatralidade de pregadores, como argumento para tornar as produções evangelísticas da igreja como estando contra os testemunhos.

A Igreja Adventista jamais buscará meios de produção audiovisual ou comunicação que entrem em conflito com os princípios bíblicos e conceitos dos escritos de Ellen White e cujo objetivo seja meramente entreter uma plateia ou exibir a performance de alguém. Nossa intenção é a de termos relevância junto aos públicos da atualidade, mas sempre mantendo uma coerência com nossa identidade histórica fundamentada em sólida base bíblico-teológica.

Crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros. (2 Crônicas 20:20)

 

Rafael Rossi

Rafael Rossi

Em dia com o nosso tempo

Os fatos diários lidos a partir de um olhar teológico.

Formado em Teologia, é pós-graduado em Aconselhamento e mestre em Teologia Pastoral. Atualmente é o diretor de Evangelismo da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito países sul-americanos. @rafaelrossi7