Notícias Adventistas

Coluna | Paulo Lopes

Dar o peixe ou ensinar a pescar?

Em sua opinião, o que é melhor, dar o peixe ou ensinar a pescar? Embora a resposta pareça óbvia, não seja tão apressado em responder, pois não é tão óbvio quanto parece.  A melhor resposta talvez seja, depende, ou mesmo, as duas coisas. Para pessoas...


  • Compartilhar:

Em sua opinião, o que é melhor, dar o peixe ou ensinar a pescar? Embora a resposta pareça óbvia, não seja tão apressado em responder, pois não é tão óbvio quanto parece.  A melhor resposta talvez seja, depende, ou mesmo, as duas coisas.

Para pessoas como eu que trabalham no terceiro setor, sabemos que não existem respostas rápidas, fáceis ou únicas para um problema tão complexo como o da desigualdade social e da erradicação da miséria.  À primeira vista, dizer que ensinar a pescar é sempre o melhor parece ser óbvio, mas será mesmo? O que dizer daquela pessoa que está com fome e te pede um prato de comida? Ou então, dos milhões de brasileiros que foram excluídos dos avanços sociais trazidos pelo desenvolvimento econômico em nosso país, e que hoje, não tem o suficiente para sua subsistência? O que serão de seus filhos, e dos filhos de seus filhos?

No terceiro setor utilizamos uma linguagem para diferenciar dois tipos de ações necessárias e muitas vezes complementares: uma é o assistencialismo, mais imediatista, que poderia ser traduzido como o dar o peixe e a outra é o desenvolvimento, que poderíamos de uma forma simplista dizer que seria o ensinar a pescar.

Concordo que o assistencialismo, por si só, não resolve o problema e pode criar uma situação de dependência, tendo um efeito negativo e contrário ao esperado. Entretanto, ele é necessário em muitos casos. Como dizia o sociólogo Betinho, autor do projeto “Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida”  “A fome não pode esperar.”

Eu me recordo dos cerca de 14 anos em que trabalhei na África e na Índia em que por meio da ADRA – Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais - tivemos a oportunidade de trabalhar em situações onde ambas as estratégias foram necessárias, ou seja, projetos de assistência e projetos de desenvolvimento comunitário. Por exemplo, tanto na África como na Índia, trabalhei com comunidades afetadas por grandes desastres naturais como secas prolongadas, enchentes e ciclones. Nestas situações onde as famílias perdem tudo ou quase tudo a única alternativa são as ações de assistência que têm por objetivo salvar vidas e prover o mínimo necessário para a subsistência das pessoas (comida, água potável, abrigo, etc.). Normalmente as ações de assistência nestes casos são de curta duração e que podem ou não ser seguidas de ações mais duradouras voltadas para o desenvolvimento destas comunidades.

Também participei de muitos projetos de desenvolvimento nas áreas de agricultura, água e saneamento e saúde pública. Nestes casos, os projetos são de longo prazo e visam melhorar os indicadores sociais das comunidades envolvidas, contribuindo assim para quebrar o ciclo da pobreza prevalente nestas comunidades.

Para concluir, gostaria de citar o programa brasileiro Bolsa Família, criado pelo presidente Lula em 2003, com o objetivo de erradicar a miséria no país. Trata-se de um programa de transferência direta de renda para famílias que vivem em situação de pobreza (renda per capita entre 70 e 140 Reais por mês) e de extrema pobreza, ou seja, com renda per capita de menos de 70 reais por mês. Embora criticado por muitos no Brasil, o Bolsa Família tem sido muito elogiado mundo afora como um programa modelo de erradicação da pobreza no curto e no longo prazo. O grande mérito deste programa está em combinar o assistencialismo de curto prazo, com o investimento em educação, uma vez que um dos requisitos do programa é que os filhos das famílias beneficiadas frequentem a escola.

A resposta de longo prazo para o problema da pobreza no Brasil sem dúvidas passa pela educação das gerações futuras. Entretanto, os investimentos em educação de qualidade levam bastante tempo para dar resultados. Portanto, muitos são da opinião de que, no Brasil, pelo menos nos próximos 15 ou 20 anos, teremos de combinar as duas coisas, ou seja, teremos de dar o peixe enquanto ensinamos a pescar.

Creio que depois desta reflexão você pôde notar que a resposta não é tão simples e óbvia como parecia a princípio. Independente de sua opinião pessoal, o mais importante é você fazer parte da solução. Seja solidário para com os que têm fome e, portanto, têm pressa etambém, engaje-se em causas sociais que contribuem com soluções de longo prazo.

Paulo Lopes

Paulo Lopes

Quem é o teu próximo?

O terceiro setor e a solidariedade.

48 anos, nasceu em Itapeva, Sul de Minas Gerais. Vive em Brasília/DF, onde atualmente é o diretor da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA Brasil), uma Organização Não Governamental estabelecida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. Possui mais de 17 anos de experiência no terceiro setor.