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Coluna | Paulo Rabello

O novo êxodo

Migração de refugiados representa a maior crise humanitário do século. Leia mais neste artigo.


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A Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, informa que toda pessoa fora do seu país por perseguição, por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que não possa (ou não queira) voltar para casa, pode ser considerada um refugiado. Definições mais amplas passaram a considerar como refugiados também pessoas que foram obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e à violação massiva dos direitos humanos.

Engana-se, contudo, quem pensa que o problema dos refugiados é restrito apenas ao Oriente Médio. Das fronteiras da Síria, Iraque, passando por Bangladesh, Sudão do Sul, Cuba, Haiti entre outros, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que existam mais de 59 milhões de refugiados espalhados pelo mundo em uma espécie de “novo êxodo”. Quase metade desse grupo é de crianças com um futuro nada promissor. A história de cada um deles é sempre complexa e na maior parte dos casos carregada de muita dor.

Não demorou muito tempo, depois de chegarmos ao Oriente Médio, para que os números e as estatísticas desse novo êxodo ganhassem nomes e rostos. Alguns deles conhecemos em nossa igreja, onde foram em busca de ajuda.  Ao visitá-los encontramos famílias completamente perdidas, sem nenhuma perspectiva futura.  Todos escaparam da morte, mas ainda carregam consigo a incerteza e o medo. Embora a maioria dos que entramos em contato seja de cristãos, conhecemos muçulmanos que também se tornaram alvo do terror não por motivos religiosos, mas apenas por terem muito dinheiro. Eles também tiveram que deixar suas vidas para trás para sobreviver.

Recentemente estávamos reunidos com uma família muçulmana quando eles nos contaram a razão de deixarem a cidade onde viviam confortavelmente e administravam seus negócios. Além dos constantes bombardeios em Bagdá, o medo do sequestro de um dos filhos era constante.  Segundo o pai, quando alguém é sequestrado a família tem apenas dois dias para levantar o montante exigido pelos criminosos. Caso não o faça a vítima é devolvida cozida e despedaçada, servida em uma grande travessa com arroz.  A vítima pode também ser decapitada e então entregue com a cabeça costurada dentro do seu próprio abdômen.  A crueldade dos terroristas realmente parece não ter limites.  Segundo a família, são os próprios sequestradores que fazem questão de entregar as vítimas em casa. Por essa razão eles deixaram o Iraque e tentam migrar para o Canadá.

Ao conversar com refugiados e moradores de regiões envolvidas em conflitos, cada vez mais entendo que a “guerra contra o terrorismo” na verdade tem muito pouco de religião e muito, mas muito interesse político e uma busca implacável por dinheiro e poder por trás.  O mote religião serve apenas para mascarar os desejos espúrios da minoria que lidera as ações nos respectivos países. Isso é lamentável, porque se existe algo que de fato poderia pôr um fim a tudo isso, seria exatamente a religião pura e verdadeira. Aquela que transforma o indivíduo, tornando-o uma pessoa melhor não apenas para si, mas principalmente para todos aqueles que se encontram ao seu redor. A religião que afeta positivamente a comunidade como uma consequência de os indivíduos estarem “religados” a Deus.

Em meio às atrocidades e o sofrimento dessas famílias refugiadas, nós podemos também ver os milagres da salvação. Milhares de pessoas tomaram conhecimento do verdadeiro Deus quando a dor os tirou da zona de conforto. Há uma saída para essa guerra pseudo-religiosa, mas obrigatoriamente ela passa pelo trono de Deus. Qualquer solução que não seja a volta de Jesus e o estabelecimento do Seu reino aqui na Terra será apenas um paliativo. Afinal, em diferentes circunstâncias, é claro, todos nós estamos longe do nosso verdadeiro lar. Somos todos refugiados de uma maneira ou de outra. Quando Jesus andou por aqui Ele provou que a maior força contra a crueldade, a intolerância e o terrorismo é o amor. E se existe alguém que pode pôr um fim a tudo isso, esse alguém é Jesus. Oremos para que Ele ponha um ponto final em todo o sofrimento e que todos Seus filhos, refugiados e em trânsito nesse novo êxodo possam logo chegar à Terra Prometida.

Paulo Rabello

Paulo Rabello

Missão II

Até onde vão pessoas que se colocam nas mãos de Deus para servir na missão de pregar o evangelho.

Antes de ser teólogo, foi professor de inglês em empresas e nas faculdades de Letras e Tradutor/Intérprete do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Mestre em Liderança pela Universidade Andrews, hoje atua como pastor no Oriente Médio.