UBER e a Disruptura de Atos
O que aplicativos como o Uber e outras tecnologias têm a ver com o capítulo 2 de Atos? Ficou curioso? Leia esse artigo e pense a respeito.
“Ei, Pastor, desça do taxi, por favor!”
Em tom provocativo, sou ameaçado por um nativo digital millenial (destes que esfregam na cara dos que nasceram “no século passado”). Levo numa boa, mas a disruptura dói na alma – quando a poeira dos velhos tempos se revela cruel em minhas pressuposições cheirando naftalina. Sinto-me velho. Ele, voraz. A verdade é que no conflito entre ares de vanguarda e sombras da velha-guarda, dou de cara com a realidade: tudo muda rápido demais. E quem não “desce do taxi”? Vai se exilar entre os habitantes do Orkut!
Viu a ebulição dos taxistas impotentes na panela de pressão das novas tecnologias? Acuados, entrincheiraram-se contra o aplicativo UBER que apenas democratizou as caronas remuneradas. Surge a carona colaborativa. Fim dos intermediários. A moda é “descer do taxi” e pagar pouco por um serviço melhor.
E as locadoras de vídeo sepultadas sob a terra fértil dos sistemas de distribuição de conteúdo via streaming? Em seu epitáfio: “aqui jaz o entretenimento locado nas prateleiras devorado implacavelmente pelo NETFLIX, YOUTUBE, APPLE-TV...” Romperam-se os paradigmas das fitas, DVDs e até os Blue-rays.
Há também as agências de turismo estupefatas com a irrelevância de suas propagandas photoshopadas. Pra quê dicas de viagem com quem quer ganhar pela desinformação? No TRIPADVISOR a realidade dos destinos é documentada e fotografada pelos mais viajados. Eis os mochileiros colaborativos, quando testemunhas oculares valem mais que os publicitários de plantão.
Hotel? Foi-se o tempo. No AIRBNB mansões são disponibilizadas pra quem prefere uma casa aconchegante a frieza solitária das redes hoteleiras. Meu amigo já ficou numa casa italiana no Mediterrâneo com direito a barco particular. Preço? Menor que albergue! São as hospedagens colaborativas, onde a máxima “minha casa é sua casa!” se realizou pra milhões de hóspedes.
Ah, o GPS! Você ainda tem? Guarde como relíquia. O WAZE mostra com mais detalhes os mapas, as rotas e o melhor caminho baseado nas informações dos carros nas ruas – e em tempo real. É o sistema de navegação colaborativa, onde as dicas de atalhos inteligentes são compartilhadas por todos os reféns do mesmo tráfego. Que tal?
Sem contar, finalmente, a declaração de um derrotado no octógono do mercado nocauteado pelas novas gerações. Com cara na lona, o presidente de uma empresa de telefonia, vociferou: “o WHATSAPP é pirataria pura!”. Senti até pena. Enquanto o juiz-consumidor já contou o “10” no embate, o império das operadoras ainda se esperneia perante a telefonia colaborativa, onde um mero Aplicativo deixou todo mundo falando de graça.
“Desce do taxi aí, pr!”
Enquanto a frase se torna meme-viral dos ultra-profissionais multitelas com quem trabalho, percebo que esta modernidade assustadora ecoa de tempos mais antigos – nem por isso menos revolucionários. A juventude que pratica essa disruptura de hoje prova que a Bíblia é extremamente atual com suas próprias disrupturas divinas. Preparado pra surpresa?
Todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum. (Atos 2:44)
Isso mesmo! A ideia da convivência colaborativa saltava aos olhos do mundo já no segundo capítulo do livro que fala do período logo depois da ascensão de Cristo. Uma unidade integradora de pensamentos, sonhos e informação otimizava o alcance da Revolução da Graça. Ninguém polarizava o conhecimento, nem trancafiava descobertas às sete chaves no cofre da vaidade. Pelo contrário, uma rede imbatível de compartilhamento do potencial pessoal pulverizava o poder máximo de um mesmo ideal: anunciar Jesus. O resultado? Uma comunidade hiperativa estimulada por conquistas em comum capazes de estremecer o planeta inteiro!
Percebe como é interessante? Toda sociedade centralizada sofreu uma disruptura reativa por meio da História. Os fariseus no Sinédrio, como se estivessem em um Olimpo, isolavam-se em sua cúpula detentora do poder. Séculos depois, a Idade Média encarcerava o conhecimento coletivo nas mãos de pouquíssimos mosteiros com sua Inquisição torturante. Sem contar o nazismo, o fascismo, a ditadura do AI5 e outros regimes totalitários. Portanto, se isso ocorre no mercado, que tal não repetir mais do mesmo na religião?
Vivemos um momento incrível e apaixonante para novas oportunidades missionárias – os jovens conectados que o digam! Se o crowdfunding despontou até mesmo o financiamento colaborativo, por que não sonharmos com pés no chão o verdadeiro cristianismo colaborativo? Onde o evangelismo compartilhado aproxime os líderes dos liderados, a geração-papel da geração-tablet, as instituições tradicionais das startups criativas, o sal da terra, e os bancos da frente nas igrejas de suas fileiras finais da galeria?
A disruptura de Atos prova que o sucesso da igreja primitiva se alicerçou mais na aproximação dos parceiros do que na hierarquia dos inseguros. A liderança autocrática cedeu lugar à bacia do lava-pés onde todos serviam mais do que ordenavam. Agora, se revivemos este rompimento colaborativo hoje, onde jovens se espelham em chefes-mentores que buscam mais submissos do que subalternos, por que não voltarmos ao começo de tudo? Em um humilde retorno capaz de nos projetar ao maior de todos os avanços?
“Aqueles que ocupam posições de responsabilidade deverão procurar pacientemente familiarizar outros com todas as partes do trabalho. (...) Se em nosso ministério aqueles a quem ensinamos desenvolverem energia e inteligência superiores às que possuímos, devemos ser levados a nos alegrar pelo privilégio de participar da obra de treiná-los.” (White, Liderança Cristã, p. 89)
Não temamos as novas e boas ideias. Aliemos tecnologia e participação coletiva junto ao altar da esperança. As novas gerações precisam ser provocadas ao máximo, contanto que também sejam convocadas. Dando espaço, voz e relevância a elas, certamente nos surpreenderemos. Afinal, o Evangelho é colaborativo, sim. Sempre foi – sempre será. E cabe a nós catalisarmos a viralização do bem, ou nos petrificar em paradigmas fugazes até ouvirmos, tristemente, as pedras clamarem:
“Ei, você aí, saia do taxi!”