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Coluna | Odailson Fonseca

A Casa Caiu! Que Casa?

Como está a nossa casa diante de tantos abalos por conta de situações de corrupção e desonestidade?


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Foto: Diario de Noticias

Escrevo com todas as telas ligadas. Nas últimas horas, o poço que já era fundo revelou ter lama mais embaixo. Nomeada Operação Patmos, as notícias fazem alusão a um cenário de “Apocalipse” político nacional. Desnorteados, testemunhamos pasmos a nudez crua da natureza humana, do poder que a seduz, e da corrupção regida pela ganância. Parece que não sobrará um sequer. Só que enquanto a manipulação desesperada das palavras se torna a boia fugaz dos afogados, eu prefiro estar nas fileiras dos defensores da máxima: que a Justiça faça justiça. Só isso? Longe de ser.

 

A casa caiu!

 

Esta frase popular se estampou hipnótica em inúmeras manchetes e comentários de mídias sociais. Desde o desmonte dos impérios construídos na vaidade às revelações bombásticas estremecendo um país, quando “a casa cai” a sensação é de uma mistura vulcânica de sentimentos: surpresa, revolta, incerteza, curiosidade e insegurança – muita insegurança.

 

No entanto, posso refletir acima dos pontos-de-vista? Com algo latente no coração de quem se vê neste olho de furacão? Então, lá vai:

 

Ok, a casa caiu, mas que casa?

 

Quer saber, as mansões humanas sempre foram feitas com a mesma solidez dos castelos de areia. Soberanos e suas legiões montaram seus exércitos sob um castelo de cartas. Inebriados por castelos de fadas, os que venderam sua alma honesta às custas do seu caráter, agora apenas se deparam com a fugacidade de suas Torres de Babel. E eu nisso tudo?

 

A verdade é que a minha casa não caiu. Pois quem faz da Bíblia a sua primeira constituição, e confia nas mãos do Altíssimo cujas galáxias repousam, sabe o que muitos esquecem:

 

Não há esconderijo que dure para sempre. Podem passar de segundos a milênios, um dia todos se depararão com o espelho divino de quem realmente são. É nele que se refletirão os mistérios mais guardados. O Livro dos livros já dizia: “nada há oculto que não venha a ser conhecido e revelado” Lucas 8:17. De Acã a Ananias, não haverá encoberto que Deus não conheça – até que um dia todos também conheçam.

 

Não há Band-aid que cure o câncer. Cada ser humano é ostensivamente tentado pelo que mais lhe enfraquece. A natureza pecaminosa tingiu nosso DNA de toxinas comportamentais. Somos o que não conseguimos disfarçar de Deus. E o pior? “O mal que não quero, esse faço. (...) Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Romanos 7:19 e 24. O pecado é gravíssimo, e o medo de uma escolta policial batendo à porta ao amanhecer é o menor dos problemas. A questão maior é a corrupção generalizada de uma humanidade à mercê do mal.

 

Não há poderosos mais fortes que o poder de Deus. A volatilidade dos cargos e posições humanas, desde um faraó arrogante aos maiores estadistas do planeta, só reforça Quem é que tem a última palavra. Disse um pensador que “o pau-de-sebo do poder é escorregadio demais”. Nada mais verdadeiro. Ninguém vence uma queda-de-braço contra o destino da Justiça de Deus. Todos passam. Todos passarão. E o maior de todos do Oriente reconheceu isso: “o Senhor deu, e o Senhor tomou” (Jó 1:21). Ou seja, toda e qualquer liderança humana na face da Terra não passa de peças submetidas ao tabuleiro divino.

 

Não há crise que não seja profética. A Bíblia responde às perguntas mais urgentes da ansiedade humana. Até porque a Palavra de Deus é um livro profético revelando nas digitais da História a previsão e provisão divinas – sem qualquer imprevisto que não tenha sido contemplado pela Onisciência. “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” Joel 3:7. E o que eles dizem? “Nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos...” II Timoteo 3:1 e 2. Alguém precisa de uma lista ainda mais atual?

 

Não há movimento social que remende um mal global. De boas intenções tem muito lugar cheio por aí. Sobram projetos, iniciativas, manifestações e ações sem fins lucrativos, mas faltam soluções eficazes que, simplesmente, resolvam o caos moral que nos assombra. De um bezerro de ouro, altar de frutas, ou uma orelha cortada, até os discursos inflamados de moralidade coletiva, presenciamos nos palanques da realidade que a humanidade não dá conta sozinha. Por isso, para Deus “não foram chamados muitos sábios, poderosos, nem de nobre nascimento” I Coríntios 1:26, exatamente porque ser humano não faz milagre, mesmo que fale bonito como um super-herói de papelão. Só o Senhor é capaz de consertar o orgulho original.

 

Não há incerteza maior do que a esperança. Sem clichês retóricos, mas as Escrituras sempre pavimentaram solidamente o futuro que nos aguarda: “Vi novo Céu e Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” Apocalipse 21:1 (do mesmo livro bíblico que inspirou o nome da mais recente Operação). Os que vivem para esta Terra se tornam míopes para horizontes maiores, e são “os mais infelizes de todos os homens” I Coríntios 15:19. As convulsões políticas, bélicas ou financeiras são cumprimentos proféticos de um amanhã que nos fará esquecer de hoje. Se verdadeiras convicções só se revelam sob a sombra imponderável da crise, e você? Quem sabe para onde vai aguenta um pouco mais e só com esperança superamos nossos piores algozes.

 

Não há distração que justifique a perda da missão. Ou você vive por um movimento que arraste seus ideais mais vitais, ou será devorado pelas revelações contundentes de um mundo cada vez pior. É assim com a maioria dos sobreviventes que buscam âncoras frágeis em zonas de conforto. Distraídos pela tempestade destes tempos, não enxergam o sol dos novos tempos. E mais, para quem perde sua missão definida, toda emergência periga substituir o importante: que governos e partidos humanos jamais obstruirão a Onipotência. Por isso, procura-se um povo que se gaste pela promessa transformadora de ser luz nas trevas (Mateus 5:14), e sem se desgastar com o fim do mundo que é só o começo de outro melhor que está para vir.

 

Se a casa caiu, a minha permanece intacta – ainda que descascada pelas agressões de um mal que meus olhos se cansam de observar. E a sua? Como está a residência de seus propósitos eternos? “Vigiem, porque não vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor” Mateus 24:42. A promessa que embala nosso futuro é o alerta que ferroa nosso presente: mais que a militância impaciente contra os impunes, cuidemos para que de sal não viremos terra (Mateus 5:13). O homem pode moldar as circunstâncias, mas não deve permitir que as circunstâncias o moldem a ele (Ellen White, Mensagens aos Jovens, p.194). Ser diferente custa o preço de enfrentar todos os iguais. Este é um momento de solenes reflexões e impávidos princípios cristãos que revelem o que cremos a despeito dos que descreem.

 

Por fim, confesso ser impactado em minhas memórias por uma citação repassada dos meus pais até a minha filha, e mais relevante do que nunca: A maior necessidade do mundo é a de homens - homens que não se compram nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o erro pelo seu nome; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo (Ellen White, Educação, p.57). É isso que falta no umbigo de um mundo cheio de si mesmo. Que se levante uma geração digna de encarar, ajudar, e se contrapor aos indignos. Porque Deus espera do seu povo mais do que votos conscientes, Ele anseia por filhos e filhas que ousem se apresentar perante o universo como cidadãos do verdadeiro Reino.

 

E a sua casa, está intacta?

Odailson Fonseca

Odailson Fonseca

ON

Inovação jovem sob uma perspectiva inteligente

Teólogo e publicitário, dirige o departamento de Comunicação da Igreja Adventista para o Estado de São Paulo. @odailson_ucb