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Coluna | Neila Oliveira

Não apontem as armas...

Nosso dever é ajustar o foco e ajudar as crianças a sonhar com as realidades eternas


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Seria um sonho? Ou um pesadelo? Acordei angustiada, com o coração batendo acelerado. A cena que tinha acabado de ver era terrível e apresentava detalhes muito reais. Ali estavam crianças inocentes, tão distraídas com o que estavam fazendo que nem tinham se dado conta das armas pesadas que estavam apontadas para elas. Havia armamento de todo tipo: revólveres, metralhadoras, fuzis... Por mais que me esforçasse, não conseguia ver quem estava segurando os objetos letais. Em um primeiro momento, lembro-me de ter pensado: “Só pode ser o inimigo que está fazendo isso! Que covarde! São apenas crianças...” Antes que a indignação tomasse conta de mim, fui impressionada a olhar com mais atenção. Enquanto meu campo de visão se ampliava, simplesmente não pude acreditar no que vi!

Parece a introdução de um livro de suspense? Gostaria que fosse... Mas essa experiência aconteceu de verdade. Minha noite tinha sido tranquila. Porém, nas primeiras horas da manhã, meu sono foi interrompido. Tentei voltar a dormir, mas foi impossível. Não conseguia deletar a imagem por causa do seu impacto. Não era o inimigo que estava segurando as armas contra as crianças. Eram os próprios pais!

Armas disfarçadas

Ainda sem saber se tinha sido um sonho (talvez motivado por minha recorrente preocupação com esse assunto) ou apenas uma forte impressão, comecei a orar: “Por que, Senhor, eles estão fazendo isso?” Foi então que entendi. Eles não sabiam que eram os responsáveis pela destruição dos próprios filhos, pois as armas estavam muito bem disfarçadas. Com muita astúcia, Satanás as havia envolvido e colocado nas mãos dos pais, para que eles mesmos fizessem o trabalho sujo.

Como você sabe, o disfarce é uma das estratégias preferidas do inimigo. E ele tem atrativos para todos os gostos. Nem sempre a tentação será oferecida da mesma forma. Às vezes, ela parecerá tão inocente que enganará até os pais mais cuidadosos.

Certa ocasião, uma mãe me contou sua experiência. Ela disse que teve que trocar a recém-adquirida cortina do quarto da filha depois que algo inusitado aconteceu. Todas as noites, antes de colocar a filha para dormir, a mãe costumava orar com a criança, dar um beijo de boa noite e apagar a luz do quarto. No entanto, um dia, ela precisou voltar para pegar algo que havia esquecido. Para não acordar a filha, ela decidiu não acender a luz. Ao entrar no cômodo escuro, percebeu que os detalhes na delicada cortina estavam brilhando. Quando se aproximou para ver de perto, ela ficou perplexa. Os flocos de neve, na verdade, eram caveirinhas! Um detalhe que apenas a escuridão pôde revelar.

Em outra situação, depois de ter participado de um congresso de adolescentes, fiquei super feliz com a lucidez de uma garota que veio falar comigo. Com muita maturidade, ela contou sobre a maneira como foi impressionada a abandonar determinadas leituras quando se deu conta de era aquilo que estava prejudicando seu relacionamento com os pais. Sua postura, seu comportamento e até sua linguagem haviam mudado negativamente. Foi somente quando decidiu não apenas deixar de ler aqueles conteúdos, mas, corajosamente, dar um fim à sua “coleção” que, de acordo com seu testemunho, ela conseguiu voltar a se relacionar bem com seus pais. Ela disse que não percebia o quanto estava cega. Os pais, com certeza, também compreenderam que não deviam mais “financiar” aquele tipo de literatura para sua filha, pois o efeito destrutivo se tornou evidente no comportamento da garota.

Sempre me emociono com a precisão dos textos de Ellen White. Veja o que ela escreveu 120 anos atrás: “Como é difícil para Jesus, o Redentor do mundo, contemplar uma família cujos filhos não têm amor a Deus nem respeito por Sua Palavra, mas estão todos concentrados na leitura de livros de fantasia. O tempo gasto assim rouba-lhes o desejo de se tornarem eficientes nos deveres do lar; desqualifica-os para serem chefes de família e, se continuarem assim, isso os prenderá mais e mais nas armadilhas de Satanás” (Carta 32, 1896).

Qual é Mesmo o Sentido?

Este ano aconteceu um famoso evento em São Paulo que, segundo os organizadores, conseguiu reunir mais de 700 mil visitantes no período de uma semana. Sob o tema “Histórias em Todos os Sentidos”, a Bienal do Livro foi considerada um verdadeiro sucesso. Criada com o propósito de incentivar a leitura e conquistar novos leitores, a terceira maior feira internacional do livro (está atrás apenas da Feira do Livro de Frankfurt e da
Feira Internacional do Livro de Turim) tem procurado, desde 2008, contemplar o público infanto-juvenil. Em 2014, esse objetivo ficou bastante explícito. Mas a Bienal do Livro de 2016 foi muito mais intencional em suas ações para conquistar de uma vez por todas uma nova geração de leitores. Os maiores e mais bonitos estandes certamente foram projetados de forma a atrair as crianças e os adolescentes. Os expositores já entenderam quem, de fato, tem o poder para influenciar na hora de comprar os produtos. E foi exatamente isso que me preocupou.

Escolhi um dos estandes voltados para o público infantil e fiquei alguns minutos observando o comportamento das pessoas. A negociação entre pais e filhos acontecia mais ou menos neste nível: Os filhos, com idades entre 8 e 11 anos, davam uma volta pelo estande e voltavam com a cesta cheia de livros. Os pais então diziam: “OK. Vamos levar estes seis livros, mas eles serão os presentes de Dia das Crianças, de Natal e de aniversário. Combinado?” Observei que poucos pais se preocupavam com o conteúdo dos livros. Alguns não tiveram nem mesmo o trabalho de ler o texto de contracapa ou verificar os títulos do sumário. A maioria ficava feliz em ver os filhos interessados nos livros, e isso parecia ser suficiente. Será que é isso que tem facilitado o disfarce para certas “armas”? A grande novidade deste ano estava retratada nos enormes banners de propaganda espalhados pelo local: games e filmes agora na versão escrita. Grande parte deles já não escondia sua incontestável carga ocultista. Triste dizer, mas a “isca” de hoje tem sido lançada com o anzol envolvido em muitas e muitas páginas de histórias fascinantes.

Não me entenda mal. Sou totalmente a favor dos livros e da leitura. Trabalho com isso, e até me emocionei quando me dei conta de que a ideia original de que a humanidade tivesse livros surgiu na mente de Deus. (Já mencionei isso em posts anteriores.) Foi Ele mesmo quem orientou Seus servos a escrever para que as histórias fossem transmitidas de pais para filhos, para que Seu povo nunca ficasse sem instrução, para que a fome da alma fosse saciada com as palavras de verdade e justiça. No Céu há livros... Daniel e João fazem menção a eles. O salmista Davi também. Veja o que ele diz: “Registra, Tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em Teu odre; acaso não estão anotadas em Teu livro?” (Sl 56:8).

Assim, o problema não está nos livros, e sim no conteúdo que alguns deles carregam. Por isso, meu apelo aos pais é: Por favor, não apontem as armas para seus filhos, ao escolher os livros, os entretenimentos, os brinquedos, os games e até as roupas e os materiais escolares. Nosso dever é ajustar o foco e ajudar as crianças a sonhar com as realidades eternas. Não podemos, como pais responsáveis, financiar sob hipótese alguma o armamento pesado que o inimigo tem procurado usar contra nosso bem mais precioso.

Enquanto estava revisando este texto, alguém me encaminhou a triste notícia de um adolescente de 13 anos que, para cumprir um desafio com amigos, depois de perder a partida de um jogo on line, acabou se enforcando com um lençol. Sabe onde? No quarto do pai. Tentaram reanimá-lo, mas o garoto acabou falecendo.

Que armas podem estar sendo apontadas para seu filho? Entenda minha repetição como urgência: Por favor, não financie a munição para o inimigo. E, acima de tudo, não segure você mesmo a arma que pode levar seu filho a perder a salvação.

Neila Oliveira

Neila Oliveira

Geração Escolhida

Como preparar as crianças e adolescentes para o tempo do fim

Licenciada e pós-graduada em Letras, trabalha na redação da Casa Publicadora Brasileira (CPB) há mais de 30 anos. É autora de livros infanto-juvenis e coordenadora editorial da Lição da Escola Sabatina dos adolescentes.