Fora do contexto
Dicas para levar os filhos a um contexto em que a Bíblia seja conhecida por eles de uma forma mais profunda
Convence quem contar primeiro a história
Às vezes, o conhecimento superficial da Bíblia pode ser mais perigoso do que não ter nenhum conhecimento a respeito dela. Cheguei a essa conclusão depois de assistir à entrevista de uma autora que tem feito sucesso entre os adolescentes. O primeiro livro da série deu nome ao filme, produzido e lançado recentemente por uma grande empresa do entretenimento. Em um dos trechos, ela mencionou que foi uma passagem sensual de Gênesis 6 que a incitou a escrever o romance, que tem como personagens principais uma mortal de 17 anos e dois anjos caídos, que formam um triângulo amoroso.
Leia também:
O texto bíblico em questão, na verdade, apresenta a terrível condição do povo que habitava a Terra antes de Deus decidir destruir o mundo com um dilúvio. A autora, no entanto, a autora fez outra interpretação dos fatos. Para ela, o desagrado de Deus para com a humanidade aconteceu porque as lindas mulheres mortais (filhas dos homens) teriam seduzido um grupo de anjos (filhos de Deus), que se apaixonaram por elas, levando-os a se rebelar contra o Criador. A consequência de toda essa confusão teria sido a expulsão desses anjos do Céu. Da união dos anjos com as mulheres, teriam surgido os nefilins.
Uma leitura mais cuidadosa da passagem bíblica, sem tirá-la do seu contexto, leva à seguinte compreensão: Os descendentes de Sete, considerados filhos de Deus por causa de sua fidelidade a Ele, acabaram se relacionando com as descendentes de Caim, chamadas aqui de “filhas dos homens”. Por terem se afastado dos caminhos do Senhor, desse relacionamento surgiu uma geração totalmente perversa. Os nefilins são mencionados apenas como um povo que habitava a Terra naquela mesma época, e que poderiam estar ou não associados à situação.
Fiquei pensando no que pode ter levado a referida autora a fazer uma interpretação tão diferente e até distorcida dos fatos. Seria a maneira de enxergar a Bíblia? Na mesma entrevista, ela disse que “estudou” a Bíblia como uma obra de literatura. Sendo assim, sentiu-se livre para fazer sua própria interpretação.
Conhecer a verdade protege do erro
Certa vez, ao participar de um encontro com mais de 500 adolescentes, antes de falar sobre determinado filme secular, resolvi perguntar se eles sabiam quem era o ancião de dias, de acordo com a Bíblia. Pedi que apenas os que soubessem levantassem a mão. Fiquei surpresa. Do grupo todo, apenas três pessoas levantaram a mão. Ao mencionar o vilão do filme, foi fácil perceber que a maioria o conhecia. Seu papel provocava raiva, pois era autoritário e injusto. Quando mostrei a relação do ancião de dias, que é a representação de Deus na Bíblia (ver Daniel 7:9), com o personagem que interpretava o papel do vilão no filme, foi a vez deles ficarem surpresos.
Sempre fico sensibilizada diante de situações como essa, pois elas revelam que nossas crianças, adolescentes e jovens estão sendo convencidos por quem lhes contar primeiro a história ou apresentar a versão mais interessante dela. Como diz o ditado popular, é uma questão de quem vende melhor o peixe. E isso tem a ver com a forma da apresentação.
Tenho me perguntado: Como podemos esperar que esse público tão vulnerável, que tem sido alvo dos ataques constantes do inimigo, reconheça o erro se não estamos nos preocupando em lhes oferecer intencionalmente doses cada vez mais substanciais e saborosas da verdade, que são encontradas em abundância na Palavra de Deus? O que podemos fazer para que eles desejem experimentar a incrível aventura de ser guiados pelo “assim diz o Senhor” e não pelas tendências da cultura e da sociedade?
Contagie!
Vamos combinar. Não existe jeito de você convencer alguém de que um alimento é gostoso se você mesmo não sente prazer em comer dele; se só a presença dele à mesa o deixa visivelmente desconfortável. É uma questão de coerência.
Se você é pai, mãe, professor ou líder, e sonha em um dia ver seus filhos, alunos ou liderados falarem empolgados sobre as histórias da Bíblia, apaixone-se você primeiro pela Palavra de Deus. Estude-a diariamente, alimente-se dela com satisfação e alegria. E, depois de alimentado, contagie os outros. Veja estas dicas que poderão ajudar no processo:
- Tenha consciência de que a Bíblia não é um livro comum. Ela não é um mero livro de histórias, a ser lido como simples entretenimento. É a revelação do caráter de Deus e de Seu plano para o ser humano. Por isso, precisa ser estudada, não apenas lida. Ellen White compara a Bíblia a um manual, e aconselha que seja o primeiro na vida da criança.
- Ore antes de abrir a Palavra de Deus. A oração é um convite para que o Espírito Santo aja, influenciando e conduzindo os pensamentos para a compreensão correta da mensagem.
- Encontre as novidades no texto com a ajuda de um bom Comentário Bíblico. Pesquise sobre as palavras, costumes e lugares mencionados na passagem. Especialmente adolescentes e jovens gostam de conhecer os detalhes interessantes das histórias. Certa ocasião, uma adolescente pediu que eu dissesse à mãe dela o nome do livro de onde eu havia tirado os detalhes da história que eu havia contado na sala dela, porque queria que a mãe comprasse o mesmo livro. Era apenas a história de Elias, descrita no livro Os Ungidos (versão na linguagem de hoje de Profetas e Reis).
- Extraia e apresente lições práticas do texto. Não basta conhecer as histórias. É importante saber aplicá-las e relacioná-las ao dia a dia. Tenha em mente que “essas coisas não foram escritas simplesmente para que pudéssemos lê-las e admirá-las, mas para que a mesma fé, que na antiguidade operava nos servos de Deus, possa operar em nós” (Ellen White, Orientação da Criança, página 44). José e Daniel são exemplos de fidelidade a Deus? Que decisões eles tomaram para manter-se assim? O que eu devo fazer para permanecer fiel a Deus?
- Desfaça a ideia de que a Bíblia é um livro difícil, que não pode ser compreendida por pessoas comuns. Quando assuntos considerados complicados são apresentados com simplicidade, as pessoas normalmente se interessam e querem saber mais. Um exemplo clássico são as profecias. Até uma criança é capaz de compreender a profecia do milênio, por exemplo, se for apresentada na linguagem que ela entende. Já fiz essa experiência algumas vezes, e sempre deu certo.
A cada dia cresce a convicção, de que, quando estudada com oração e sincero desejo de conhecer a vontade de Deus, a Bíblia não deixa espaço para interpretações equivocadas. Ela é a única salvaguarda contra os erros. É o livro que verdadeiramente transforma vidas. Se você já descobriu isso, por favor, ajude a “vender” essa ideia!