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Coluna | Neila Oliveira

Cuidado com as ondas

Crianças precisam de segurança e proteção para que tenham um desenvolvimento saudável


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Pais devem estar atentos às conversas dos filhos e influências externas que recebem (Foto: Shutterstock)

No fim de uma programação especial realizada para as crianças, fui cumprimentar minha ex-aluninha da classe do Rol do Berço, que agora já está com 6 anos, e parabenizá-la pela “leitura” da Bíblia, feita lá da frente.

Com a sinceridade natural das crianças, ela disse: “Tia, eu não estava lendo... Eu ainda nem sei ler direito.” De fato, ela havia decorado o verso e o citou com a Bíblia aberta. Ainda assim, disse que ela tinha feito um bom trabalho.

De repente, do nada, ela fez uma pergunta inusitada, que soou mais como uma firme declaração: “Tia, você sabia que eu não quero ser adolescente?” Disfarcei minha surpresa e dei corda para ver aonde aquela conversa chegaria. “E por que você tomou essa decisão, Giulia?”

“Ah, tia, é por causa da Baleia Azul!”, ela respondeu com a mão na cintura e com ar de indignação. Sorri e tentei acalmá-la. Disse que a adolescência é algo muito legal e que ela não precisava ter medo dessa fase da vida. Usando palavras bem simples, expliquei que a adolescência significava crescimento, desenvolvimento, e a tranquilizei, dizendo que tudo daria certo, porque Jesus continuaria cuidando dela, e os pais e professores também estariam perto para ajudá-la no que fosse preciso. Parece que minha estratégia funcionou porque a expressão dela mudou. Aliviada, ela me abraçou e me deu um beijo. Enquanto se preparava para ir com a mãe, ela se virou para mim e, com aqueles encantadores olhos verdes, perguntou: “Tia, mas o que é mesmo a Baleia Azul?”

Tive que sorrir diante da pergunta. Abaixei-me para ficar na altura dela e lhe dei uma breve explicação a respeito daquilo que a preocupava, usando uma linguagem que ela pudesse entender, sem sobrecarregá-la. É muito provável que minha amiguinha tivesse ouvido tantas vezes aquela expressão nos últimos dias, combinada com “adolescentes”, que entendeu que o problema devia estar com eles e não com o jogo infame que, de certa forma, mexeu com a sociedade ao revelar desafios absurdos com os quais adolescentes de vários lugares do mundo estavam se envolvendo, a ponto de alguns cumprirem a tarefa insana de tirar a própria vida.

Essa experiência com a Giulia despertou minha atenção para algumas questões que podem estar passando despercebidas. Será que estamos realmente atentos aos efeitos que certos assuntos, que são amplamente divulgados pela mídia, podem estar causando sobre as crianças? Temos nos preocupado em saber como estão sendo absorvidas as diversas informações que chegam a elas por diferentes meios? Estamos preparados para abordar esses assuntos com uma linguagem simples e acessível e dar a elas as explicações necessárias para que se sintam seguras e não angustiadas?

Ao conversar com uma colega de trabalho que tinha assistido a uma palestra que eu havia dado recentemente para os integrantes do Clube de Aventureiros e Desbravadores de minha igreja, e seus pais, ela me contou da reação de seu filho quando mencionei a série “Os 13 Porquês”. “São as 13 razões para morrer”, ele disse sem nenhum constrangimento. Como se trata de uma série voltada para o público adolescente/jovem, e o garoto tinha apenas 8 anos, ela perguntou como ele sabia do conteúdo. Então respondeu que a prima adolescente tinha assistido a todos os episódios e lhe contado tudo.

Como eles sabem disso?

Tenho conversado com muitos pais que quase chegam a se gabar porque nunca ouviram falar sobre determinados filmes, séries ou jogos que “todo mundo” está comentando. “Na minha casa não entra esse tipo de coisa!” E eu acredito mesmo que não entrem pelas “portas” convencionais, sobre as quais os pais têm o controle. E essa é a primeira medida que devemos tomar se quisermos proteger os filhos. No entanto, as crianças estão expostas a outros núcleos de convivência, e sobre isso nem sempre teremos o controle. É só fazer um teste para comprovar. Você vai perceber que, via de regra, as crianças ficam a par dos assuntos do momento na escola, na conversa com os amigos, porque é ali que costuma acontecer a troca de informações, a mistura da bagagem que cada um traz de sua casa.

Uma mãe muito sábia me contou que tem o costume de sempre perguntar à filha (agora com 8 anos de idade) como foi o dia dela na escola. Enquanto fazem o percurso da escola até a casa, ela estimula a menina a contar os detalhes do que aconteceu na sala de aula, pergunta sobre o que as amiguinhas conversaram, como foram as brincadeiras. Assim, ela não apenas desfruta um momento agradável com a filha, mas também aproveita a oportunidade para ensinar e reforçar os princípios da família. Outro dia, mal entrou no carro, a filha começou a falar sobre uma brincadeira nova que as meninas de sua classe estavam comentando. Era sobre as “fadinhas do fogo”. A brincadeira consistia no seguinte: À noite, a criança deveria ligar o gás e esperar a mãe acender a luz da cozinha no outro dia, pela manhã, que a explosão iria fazer as fadinhas do fogo aparecerem. Você poderia imaginar que uma história como essa, envolvendo algo perigosíssimo, pudesse estar sendo contada por crianças? Agora pense na ingenuidade natural das crianças e na facilidade que têm para acreditar no que dizem para elas. Uma “brincadeira” como essa poderia acabar em tragédia se a criança tivesse confiado mais nas amiguinhas do que na mãe.

O que podemos fazer como pais?

Diante desse quadro, que atitudes devemos tomar para prevenir que o pior aconteça? Aqui estão algumas dicas:

  • Primeiramente, devemos assumir a responsabilidade por nossos filhos, não importa a idade ou a fase em que eles estão.
  • Quando percebemos que “ondas” perigosas e ameaçadoras estão começando a se formar, precisamos estar preparados para oferecer a eles um lugar seguro no qual possam se refugiar. O lar deve ser o melhor ambiente para que os filhos se expressem e se sintam confortáveis para falar sobre qualquer assunto. É em casa também que eles precisam receber as informações corretas e ser alertados dos perigos que podem surgir disfarçados como entretenimento.
  • Pais que demonstram carinho, interesse e preocupação por seus filhos estão sempre deixando a porta de acesso livre, para que eles a atravessem toda vez que precisarem de ajuda para lidar com situações e até sentimentos novos.
  • É importante conhecer os amigos dos filhos, principalmente os da escola. Qual o perfil deles e da família? O que gostam de fazer? Com o que gastam tempo? Estreitar o relacionamento com as famílias dos amigos é uma boa opção.
  • Uma relação de confiança entre pais e filhos é construída. São com as coisas simples da vida que os filhos aprendem a confiar nos pais. Filhos que têm pais dignos de confiança não sentem dificuldade para se abrir.
  • Pais conscientes não deixam passar despercebidos assuntos que podem trazer prejuízo ou dano de qualquer natureza a seus filhos. Eles sempre estão preparados e disponíveis para ajudá-los a não cair em armadilhas.

Como pais, temos uma nobre missão: preparar nossos filhos para o encontro com Jesus. Um dia teremos que “devolver” a herança que Deus nos confiou (Salmo 127:3). Que sejamos sábios para conduzir nossos filhos, oferecendo a eles a segurança e a proteção tão necessárias no agitado mar da vida.

Neila Oliveira

Neila Oliveira

Geração Escolhida

Como preparar as crianças e adolescentes para o tempo do fim

Licenciada e pós-graduada em Letras, trabalha na redação da Casa Publicadora Brasileira (CPB) há mais de 30 anos. É autora de livros infanto-juvenis e coordenadora editorial da Lição da Escola Sabatina dos adolescentes.