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Coluna | Neila Oliveira

20 anos depois...

A colheita de uma nova safra de leitores


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Que tipo de fruto queremos que as crianças e os adolescentes colham e comam?

Para muitas pessoas, a data de 26 de junho de 2017 passou despercebida e foi tratada como um dia absolutamente comum. Mas não para os mais de 11 milhões de seguidores de Joanne K. Rowling e fãs incondicionais de Harry Potter. Há 20 anos, na mesma data, foi lançado o primeiro livro da série que surgiu para conquistar e formar uma nova geração de leitores.

Em uma entrevista concedida a Oprah Winfrey em outubro de 2010, em Edimburgo, na Escócia, a escritora da série Harry Potter – no auge do sucesso – falou do difícil começo e de como teve o que ela chamou de “flash de clarividência” ao sair do local em que estava escrevendo o primeiro livro. Tratava-se de uma voz que, segundo ela, lhe disse: “O difícil vai ser publicar; mas se for publicado será um sucesso”.

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Em outro momento, Oprah mencionou uma frase do primeiro livro da autora que havia chamado sua atenção e que acontece quando um dos personagens diz o seguinte a respeito do menino bruxo: “Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!”.

Parece que essa “profecia” (se é que podemos dizer assim) está quase se cumprindo em totalidade.

Sementes, campo, semeadores

Consideradas um fenômeno por terem mudado especialmente o comportamento das crianças em relação à leitura, as obras de J.K. Rowling se tornaram alvo de pesquisadores interessados em desvendar qual o impacto que esses livros tiveram não apenas sobre os leitores, mas também sobre a sociedade. Depois de duas décadas, estas foram algumas das conclusões:

  1. Harry Potter conquistou o público infantil porque se encaixou com facilidade na categoria de contos de fadas pós-modernos. Por não ser leitura obrigatória, vinculada às escolas, foi aceito como entretenimento apenas.
  2. Os livros de HP abriram o caminho para uma divisão que praticamente não existia nas livrarias: obras voltadas para o público adolescente. A autora serviu de inspiração e incentivo para escritoras como Stephenie Meyer (Crepúsculo), Cassandra Clare (Os Instrumentos Mortais), Suzanne Collins (Jogos Vorazes) e Veronica Roth (Divergente).
  3. As obras trouxeram uma certa liberdade quanto à sexualidade. Ao revelar no último livro da série que Dumbledore, o ser mais inteligente e poderoso do Mundo Bruxo era gay, a autora quebrou um tabu e deixou os leitores mais confortáveis quanto à questão da orientação sexual.
  4. O feminismo ganhou novo fôlego. Personagens femininas fortes, independentes e autossuficientes serviram de modelo para as leitoras da série. A própria atriz que interpretou Hermione nos filmes, Emma Watson, se tornou Embaixadora da Boa Vontade na Organização das Nações Unidas (ONU), em defesa do feminismo.
  5. A magia foi apresentada como uma opção interessante. Alguns psicanalistas chegaram a defendê-la como um possível substituto à religião, alegando que a magia oferece mais vantagens porque não entra em choque com a ciência.

De acordo com Mônica Figueiredo, editora da Rocco e uma das responsáveis pela publicação da série no Brasil, uma das razões para o sucesso de HP é que os leitores “foram atraídos por uma forma nova de fazer literatura, que aguça a curiosidade e o olhar para o mundo com habilidade e criatividade, tendo a magia como fio condutor. Além disso, J.K. Rowling criou personagens com os quais o leitor tem empatia e se identifica com facilidade, por passar por situações similares em uma realidade menos mágica”, escreveu.

No site da revista Veja, a matéria do dia 24 de junho de 2017 a respeito dos 20 anos de Harry Potter, termina com as seguintes palavras: “Ansiedade, medo, experiências amorosas, amizade, traição, aprendizado, família, preconceito, resiliência, resistência, entre tantos outros elementos típicos do ser humano, estão presentes em Harry Potter. A diferença é que vêm regados com boas doses de magia e efeitos visuais que ainda encantam a imaginação e o olhar. Motivos não faltam para o bruxinho resistir ao feitiço do tempo e se imortalizar através das gerações”.

Existe uma lei natural que parece se aplicar bem aqui, não é? Depois de 20 anos, as sementinhas lançadas lá atrás, inofensivas em sua aparência, deixaram evidentes os frutos que continham no interior.

Diante disso, há só uma pergunta sobre a qual eu gostaria de refletir: Que tipo de fruto queremos que as crianças e os adolescentes colham e comam?

Não é à toa que Jesus contou uma interessante parábola envolvendo sementes, campo e semeadores (Mateus 13:24-30). Sua mensagem continua sendo atual e oportuna. Que tenhamos sabedoria para identificar não apenas as espécies das sementes, mas também quem as está semeando.

E para aqueles que ainda acham que não tem nada a ver, que é possível comer determinados frutos e ainda ficar imunes aos seus efeitos, a Bíblia nos dá um conselho muito sábio: “Não plante dois tipos de semente em sua vinha; se o fizer, tanto a semente que plantar como o fruto da vinha estarão contaminados” (Deuteronômio 22:9, Nova Versão Internacional).

Neila Oliveira

Neila Oliveira

Geração Escolhida

Como preparar as crianças e adolescentes para o tempo do fim

Licenciada e pós-graduada em Letras, trabalha na redação da Casa Publicadora Brasileira (CPB) há mais de 30 anos. É autora de livros infanto-juvenis e coordenadora editorial da Lição da Escola Sabatina dos adolescentes.