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Coluna | Natanael Castro

O funil está errado?

No processo de discipulado, cada pessoa leva a mensagem de salvação a outros e, neste processo, há crescimento de pessoas salvas.


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Bíblia e evangelismo digital, uma relação muito próxima hoje com oportunidade de seguir o caminho de Jesus e discípulos. (Foto: Shutterstock)

Enquanto escrevia a série dos três artigos anteriores a esse, que abordaram o assunto do funil de vendas aplicado ao evangelismo digital, deparei-me com uma imagem parecida com a que você pode ver a seguir.

Confesso que assim que a vi, quase entrei em choque e me perguntei imediatamente: Será que essa história de funil está toda errada? Será que estamos indo em um caminho contrário ao proposto por Jesus?

Essa imagem e as interrogações em minha mente me levaram à reflexão, e agora quero compartilhá-la com você! Porém, se você ainda não leu os artigos que mencionei, recomendo voltar um pouco e lê-los (partes I, II e III), pois a compreensão desse depende dos anteriores.

Jesus e os discípulos arrastavam multidões

O primeiro ponto no qual quero refletir, e do qual não podemos fugir, é que, na estratégia de Jesus, uma pessoa alcança milhares.

Ele é o exemplo em pessoa dessa estratégia. Os evangelhos relatam constantemente que grande multidão O seguia (Mateus 8:1; Mateus 15:32, 35; Mateus 20:29; Lucas 6:17,19; Lucas 12:13 e outros).

Mas apesar de Jesus ser o maior exemplo sobre arrastar multidões, definitivamente Ele não é o único. Afinal de contas, quando pensamos em pregar o evangelho a milhares, é quase impossível não lembrar do episódio de Atos 2, onde uma multidão escuta a pregação de Pedro, e, em seguida, quase três mil pessoas são batizadas (verso 41).

Outro personagem que nos vem à mente é Paulo. Dentre várias ocasiões, podemos citar o episódio de Atenas (Atos 17), em que ele começa pregando em praça pública, e, em seguida, é levado ao Aerópago, “um dos locais mais sagrados de toda a Atenas […]. Era neste local que os assuntos relacionados com a religião eram muitas vezes considerados cuidadosamente”.[1] Segundo Ellen White, “os mais sábios dentre seus ouvintes ficaram admirados ao atentarem para a sua argumentação”[2].

E como se não bastasse os exemplos acima citados, não podemos esquecer o fato de que Jesus e mais 12 alcançaram o mundo, e, hoje, em pleno século 21, estamos aqui falando deles!

Parece que, de fato, o funil está na contramão de Jesus, não é mesmo? Foi exatamente aqui que surgiu minha quase crise existencial. Se Jesus alcançava multidões, por que eu estava escrevendo sobre um funil que, a cada etapa, iria perdendo pessoas?

A multidão é o topo do funil

Após refletir um pouco, cheguei à conclusão de que, mesmo Jesus, Pedro, Paulo e outros, de certa forma, seguiam a estratégia do funil. Claro que não de forma literal e consciente, mas a seguiam, pois as multidões eram, e são, o topo do funil. E por falar em Jesus, recomendo também que você leia as partes I e II do artigo O método digital de Cristo, pois neles você entenderá melhor esses aspectos.

Como bem sabemos, o topo do funil é a camada que alcança o maior número de pessoas, e aos poucos, aqueles que não estão de fato interessados, vão saindo e o público vai diminuindo. E como também já sabemos, o topo do funil é o conteúdo. E o que são os sermões, exortações e exposições públicas, senão conteúdo?

Quando Jesus parava para pregar, ensinar e curar, milhares de pessoas se juntavam para ver e ouvir. Por ocasião da sua entrada triunfal em Jerusalém (Mateus 21), por exemplo, multidões o adoraram. Porém, foi também uma multidão que repetidas vezes gritou “crucifica-O” (Mateus 27:22, 23) e ainda tiveram a audácia de dizer “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mateus 27:25). Ou seja, não necessariamente a multidão que O ouvia, O seguia de fato.

Momentos antes de ressuscitar a Lázaro, “Jesus chorou” (João 11:35). Ellen White afirma que Ele “chorou porque muitos dos que ora pranteavam a Lázaro haviam de em breve tramar a morte dAquele que era a ressurreição e a vida”[3]. Mais uma vez, podemos inferir que da multidão que via e ouvia os milagres (conteúdo) realizados por Jesus, nem todos “entravam no funil” evangelístico do Mestre.

O que dizer então dos líderes religiosos? Por diversas vezes eles presenciaram os sermões de Jesus, foram repreendidos por Ele, viram pessoas serem curadas e ressuscitadas. Porém, pouquíssimos, para não dizer praticamente nenhum, se converteram. Temos Nicodemos como o maior exemplo desses poucos conversos. Após seu encontro com Jesus, Ellen White afirma que “as palavras dirigidas à noite a um ouvinte, na solitária montanha, não foram perdidas”[4]. Mais uma vez, vemos alguém que havia sido alcançado em meio à multidão, e que agora vivenciava um encontro pessoal com o Mestre, “concretando as etapas do funil de Jesus”.

Concluo essa seção refletindo em Mateus 22:14 que diz: “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. De certa forma, essa passagem pode ser entendida no sentido de que multidões são alcançadas, mas poucos se entregam.

Unindo as duas propostas

Para finalizar essa reflexão, e a aparente oposição entre o funil e o método evangelístico de Jesus, quero propor uma nova maneira de olhar para os dois funis do começo do artigo.

Na imagem acima, temos três funis. Imagine que no primeiro, você e mais outras pessoas ouviram falar de Jesus por meio de alguém. Essa pessoa que pregou para você, possivelmente também pregou para outras pessoas, porém, nem todas aceitaram a mensagem, somente algumas. Dessa forma, segundo o exemplo do funil, no resultado simplificado, apenas você se converteu.

Agora que você é resultado de um processo evangelístico, no segundo funil você se prepara para pregar. Essa única semente que brotou, você, crescerá e pregará a muitos. Certamente você tem um público a alcançar, seja seus amigos, familiares, colegas de trabalho ou seguidores nas redes sociais. Não importa, você tem um público e também um conteúdo, que será transmitido no terceiro funil, que por sinal, é o seu funil evangelístico.

Nele, você poderá seguir as etapas mencionadas nos artigos anteriores, mas saiba que, mesmo alcançando milhares, nem sempre milhares se converterão. Esse é um processo que depende da ação do Espírito Santo e não devemos nos frustrar com os resultados. Somos chamados a pregar (Mateus 28:19, 20), e o Espírito Santo fará o trabalho de conversão das pessoas (João 16:8).

Ao final desse processo, mesmo que você esteja trabalhando para ajudar a salvar apenas alguém, o processo do funil se repetirá. Essa pessoa se preparará, pregará e se multiplicará. E nesse processo cíclico e estratégico da pregação do evangelho, logo veremos nosso Senhor nas nuvens (Apocalipse 1:7), voltando para nos resgatar!


Referências:

[1]    Ellen G. White. Atos dos Apóstolos. 236

[2]    Idem. 237

[3]    Ellen G. White. Atos dos Apóstolos. 533

[4]    Idem. 176

Natanael Castro

Natanael Castro

Missão Digital

Uma visão ministerial e técnica de como evangelizar usando as ferramentas digitais.

Formado em Teologia e Sistemas de Informação e especializando-se em Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina. Criador do chatbot Esperança, a inteligência artificial da Escola Bíblica Digital, da Rede Novo Tempo, lugar onde trabalha atualmente aplicando as visões ministerial e técnica ao evangelismo digital.