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Coluna | Maura Brandão

O fenômeno mais intrigante de todos

Como cientistas tentam explicar a origem da vida, mas falham em encontrar respostas que realmente possam ser comprovadas


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origem da vida
A origem da vida, apesar de conhecida pelos cristãos, ainda parece um mistério para os cientistas evolucionistas (Foto: Shutterstock)

A existência da vida parece ser o fenômeno mais intrigante de todos. A complexidade de seus mecanismos moleculares responsáveis pela sua manutenção são motivos de preocupação, se não desespero em alunos de graduação das áreas da saúde e biologia. Diversas pesquisas e publicações tentaram definir o que é exatamente a vida, mas ainda não há consenso a esse respeito, portanto, essa tem sido uma tarefa bem difícil.

A vida, em si, não parece ser algo simples, muito pelo contrário. É incrível notar que na enorme diversidade de formas de vida, cada uma à sua maneira, apresentam características particulares, como ser formado por uma ou várias células, conseguir se reproduzir, reagir a estímulos, possuir material genético entre outras. Essas características podem ser tudo, menos simples. Elas são complexas e dotadas de mecanismos que ainda hoje não foram entendidos completamente pelos cientistas.

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Nos últimos séculos na história da ciência, várias ideias a respeito da origem da vida surgiram, mas no geral, podemos dividi-las em dois grupos – aquelas que afirmam que a vida teria surgido por meio de processos naturais, ao acaso (conhecido como abiogênese) e, por outro lado, temos as ideias que defendem aquilo que podemos observar, ou seja, a vida pode apenas vir de outro ser vivo preexistente (conhecido como biogênese).

Atualmente, é inquestionável que apenas a biogênese pode ser aceitável, no entanto, o paradigma atual da ciência, a Teoria da Evolução, afirma que “em algum momento a abiogênese teve que acontecer!”[1]. Como isso teria acontecido? O naturalista Charles Darwin, já em sua época, aventava a possibilidade do surgimento da vida pela matéria inorgânica. Em uma correspondência enviada a seu amigo Joseph Hooker, em 1871, alguns anos após a publicação de seu livro “A Origem das espécies” (1859), afirma:

Mas se (e um grande e se) nós pudéssemos imaginar uma poça de água aquecida com todo tipo compostos como amônia, sais fosfóricos, luz, calor, eletricidade, etc, presentes, que um composto proteico foi formado quimicamente, pronto para sofrer mais mudanças complexas, atualmente, tais compostos seriam instantaneamente devorados, ou absorvidos, o que não seria o caso antes das criaturas vivas serem formadas.[2]

As ideias de Charles Darwin ecoaram posteriormente em hipóteses formuladas por dois cientistas no século XX, o russo Aleksander I. Oparin (1894 – 1980) e o inglês John Burdon S. Haldane (1892 – 1964), que, de maneira independente, propuseram uma explicação de como as primeiras formas de vida surgiram. Eles afirmaram que há bilhões de anos, existiria uma atmosfera primitiva sem gás oxigênio, composta por amônia, gás hidrogênio, gás metano e vapor de água. Também haveria grandes descargas elétricas provocadas por tempestades monstruosas que agitavam os mares de um oceano primitivo. Essa combinação de fatores teria propiciado a formação das primeiras moléculas orgânicas precursoras das primeiras formas de vida, que passaram por diferentes mudanças até formar a diversidade de vida existente atualmente.

Teorias de vida

Ao longo das décadas seguintes, essa hipótese foi testada de diversas formas, uma das mais famosas delas, por um estudante de doutorado chamado Stanley Miller (1930 – 2007) e seu professor Harold Urey (1893 – 1981). Apesar de produzir alguns aminoácidos, seus resultados pareciam um tanto curiosos. As substâncias orgânicas produzidas no experimento não possuíam exatamente as mesmas estruturas daquelas encontrados nos seres vivos. Além disso, foram produzidas outras substâncias, que poderiam impedir a interação entre os aminoácidos e, consequentemente, formar as primeiras proteínas.

origem da vida
Stanley L. Miller, na Universidade de Valência em 2003, com uma cópia exata do aparato construído por ele para testar a hipótese de Oparin em 1953.[3]

Ainda assim, novos experimentos foram feitos, testando essa e outras hipóteses, mudando a proporção e concentração dos reagentes, a temperatura e descargas de energia. No entanto, nos últimos anos, evidências tem apontado prováveis diferenças nas condições propostas por Oparin no início do séc. XX, como, por exemplo, que numa provável atmosfera primitiva, existiria gás oxigênio, condições diferentes daquelas propostas por Oparin.

Em um artigo publicado em 2011, afirma-se que, diferente daquilo proposto por Oparin, o oxigênio sempre esteve presente no ambiente terrestre, o que dificultaria e muito o acontecimento das reações propostas na hipótese mencionada[4] [5]. Além disso, há evidências de que grandes impactos de meteoros, teriam mudado a composição e a temperatura da atmosfera, o que impediria a ocorrência de tais reações[6]. Atualmente, a hipótese de Oparin e Haldane, assim como o experimento realizado por Muller não podem ser considerados como evidências do surgimento abiótico da vida.

As evidências citadas refletem apenas alguns dos vários problemas que desafiam a origem da vida pela combinação da matéria inorgânica. Alguns questionamentos podem ser feitos, como: quais condições (pressão, temperatura, radiação, etc.) eram predominantes na Terra prebiótica (antes do surgimento das primeiras formas de vida)? Qual era a real composição química da atmosfera e do oceano primitivos? As condições presentes nos experimentos de Miller eram realistas em relação àquelas condições?

Mas, hipoteticamente, vamos considerar que realmente os primeiros aminoácidos se formaram de acordo com o que é defendido pela teoria da evolução. No entanto, formar aminoácidos seria apenas o primeiro passo. Para serem relevantes no processo de surgimento de seres vivos, esses aminoácidos teriam que se organizar em cadeias maiores para formar as proteínas e essas proteínas deveriam ser úteis, possuírem alguma função, caso contrário, seriam eliminadas pela seleção natural.

Chances de vida

Pesquisadores calcularam a chance da formação de uma molécula de proteína específica. Resultado: menor que um entre 10190. Um número incrivelmente pequeno, isso sem contar que cada um dos 190 zeros aumenta a improbabilidade anterior em 10 vezes. Matemáticos consideram possibilidades de uma chance em 1050 como impossíveis, imagine 10190.[7]

A esse respeito, Alexander vom Stein em seu livro “Criação – Criacionismo Bíblico, publicado em 2007 pela Sociedade Criacionista Brasileira, afirma: “Para os experimentos [de Urey e Muller], foram escolhidas as condições limitantes mais favoráveis possíveis para se obter o resultado esperado.”

Aparentemente, rejeitando todas essas objeções [e muitas outras], a maior parte da comunidade científica parece aceitar a ideia da evolução química. Essa “crença” pode ser observada na citação abaixo:

“Era uma vez, quando nosso planeta Terra era muito jovem e muito novo, não havia um único rastro de vida nele para ser encontrado. Então, em algum lugar alguma peculiaridade da química ocorreu, e os blocos moleculares da nossa primeira única célula ancestral surgiu: Os aminoácidos e ácidos nucléicos se combinaram exatamente da forma correta para continuar a reação que deu origem à vida. Não estamos completamente certos dos detalhes desse surgimento, que aconteceu há bilhões de anos atrás e não deixou rastros no registro fóssil.”[8]

Acreditar que a vida surgiu por reações químicas em um passado distante, sem vestígios no registro fóssil, não parece ser uma ideia muito científica. No entanto, ela ainda é largamente aceita por cientistas evolucionistas do mundo todo e, aparentemente, sem evidência alguma de como isso teria acontecido.

Claro, existem outras ideias de como a vida teria surgido aqui no nosso planeta. Alguns pesquisadores, vendo a dificuldade de a vida ter surgido na Terra, consideram a possibilidade de que as primeiras moléculas orgânicas ou até mesmo as primeiras formas de vida, teriam chegado prontas, “pegando carona” em meteoros ou cometas. Outros pesquisadores, atualmente, afirmam que células vivas não resistiriam à jornada no espaço, mas talvez alguns compostos orgânicos como açucares e bases nitrogenadas poderiam ter chegado até a Terra em uma das diversas quedas de meteoros que ocorreram na história do nosso planeta[9] [10]. Chegando na Terra, essas formas de vida ou moléculas teriam passado pela evolução darwiniana, ou seja, selecionadas pelo processo de seleção natural e dado origem a  todas as formas de vida que existem hoje. No final das contas, de acordo com esse modelo, somos todos extraterrestres! Será?

Busca por respostas

Talvez você já tenha ouvido falar a respeito da busca realizada por várias agências espaciais internacionais por planetas fora do sistema solar com condições que suportem a vida como a conhecemos na Terra. Um indício que daria uma pista dessa possibilidade é a presença de água em outros planetas. Levando em conta a ideia de que as primeiras formas de vida surgiram na água, encontrar um planeta com água líquida como a Terra, de acordo com a evolução, poderia aumentar a chance de que alguma forma de vida seja encontrada. A partir daí, acreditam os astrobiólogos, seria possível entender como a vida surgiu aqui ou veio parar no nosso planeta.

Entender o surgimento da vida sem a intervenção sobrenatural de um Criador parece ser uma tarefa muito desafiadora. A vida encontrada no nosso planeta é adaptada a condições muito complexas que podem ser encontradas apenas aqui. Ela possui complexidade e informação que poderia apenas ser fruto de uma mente inteligente que planejou e executou com cuidado e minúcia a sua criação.

Em ciência, há frequentemente um princípio que é muito usado, conhecido como Navalha de Occam. Esse princípio afirma que “a explicação mais simples, provavelmente é a verdadeira”. Quando a questão é a origem da vida em nosso planeta, o planejamento de uma mente inteligente parece ser a explicação mais lógica e simples para resolver a questão.


Referências:

[1] https://www.youtube.com/watch?v=ugAuIP23IPQ&ab_channel=Nerdologia - min. 4:34

[2] https://www.darwinproject.ac.uk/letter/DCP-LETT-7471.xml

[3] https://metode.es/revistas-metode/monograficos/uno-de-los-experimentos-mas-importantes-del-siglo-xx.html

[4] https://news.rpi.edu/luwakkey/2953#:~:text=For%20decades%2C%20scientists%20believed%20that,%2C%20hydrogen%20sulfide%2C%20and%20ammonia

[5] Trail, Dustin & Watson, Edward & Tailby, Nicholas. (2011). The oxidation state of Hadean magmas and implications for early Earth's atmosphere. Nature. 480. 79-82. 10.1038/nature10655.

[6] ZAHNLE, K. J. et al. Creation and Evolution of Impact generated Reduced Atmospheres of Early Earth. The Planetary Science Journal, v. 1, n. 1, p. 11, 2020.

[7] Ariel Roth. La ciência descubre a Dios – Siete argumentos a favor del Diseño Inteligente”. Editora Safeliz. 1ª edição, 2022.

[8] Michelle Star. Science Alert, em 28 de julho de 2022. Disponível em: https://www.sciencealert.com/a-new-set-of-chemical-reactions-could-explain-how-life-emerged-on-earth

[9] Furukawa, Y. et al. (2019) “Extraterrestrial ribose and other sugars in primitive meteorites,” Proceedings of the National Academy of Sciences, 116(49), pp. 24440–24445. Available at: https://doi.org/10.1073/pnas.1907169116.

[10] Pearce BKD, Pudritz RE, Semenov DA, Henning TK. Origin of the RNA world: The fate of nucleobases in warm little ponds. Proc Natl Acad Sci U S A. 2017 Oct 24;114(43):11327-11332. doi: 10.1073/pnas.1710339114. Epub 2017 Oct 2. PMID: 28973920; PMCID: PMC5664528.

Maura Brandão

Maura Brandão

Ciência e Religião

As principais descobertas da ciência analisadas sob o ponto de vista bíblico

É bióloga formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) e doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com ênfase em Patologia, trabalhando com poluição atmosférica e os efeitos na saúde. Atuou como coordenadora do Origins Museum of Nature, localizado no Arquipélago de Galápagos, onde realizou atividades de apoio à pesquisa, grupo de estudos com a comunidade local e atenção aos visitantes do museu. Também é membro da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), NULON-SCB. É co-criadora e co-produtora do Origens Podcast, podcast de divulgação de ciência, disponível nos principais agregadores de áudio. Atualmente é professora de Biologia na Educação Adventista no Norte de Santa Catarina.