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Coluna | Maura Brandão

Baleias no deserto: evidências do dilúvio no Peru

Estruturas bem preservadas indicam um soterramento rápido, como narrado pela Bíblia.


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Região de Ocucaje, Peru, local onde os fósseis foram encontrados (Foto: Maura Brandão)

Em palestras e eventos sobre criacionismo, o tema de nove em cada dez perguntas é a datação das rochas e os milhões de anos usados pela teoria da evolução para explicar a idade da Terra, fósseis ou origem da vida.

O tempo profundo é um componente essencial à teoria da evolução, que considera mudanças lentas e graduais, assim como as mutações e a seleção natural, como condições essenciais para o surgimento e diversidade da vida. A ideia de que nosso planeta teria bilhões de anos foi proposta por naturalistas como James Hutton e Charles Lyell. Afinal, se as mudanças que vemos hoje ocorrem num ritmo lento, então a vida na Terra deve ser muito antiga para que as mudanças ocorridas devido a seleção natural e acumuladas ao longo do tempo produzam novas formas de vida.

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Atualmente são realizados testes, chamados de datação radiométrica, para determinar a idade das rochas e consequentemente dos animais que são encontrados nelas. Um exemplo clássico e sempre mencionado é a do Carbono-14 (C14). É muito importante dizer que o C14 é um método usado para estimar idades de amostras que contêm matéria orgânica, e não rochas. Ele pode ser usado em artefatos, tecidos, cerâmicas ou outros itens do tipo. Seus resultados são confiáveis em idades que vão de algumas centenas de anos até, no máximo, 50 mil anos.

Outros métodos de datação, como o Potássio-Argônio (K/Ar), Urânio-Chumbo (U/Pb) e Rubídio-Estrôncio (Rb/Sr) são usados para datar rochas mais antigas, as magmáticas. Esses métodos se baseiam na medição da quantidade de átomos radioativos desses elementos, considerando o cálculo da meia vida deles. O resultado determina qual a idade em que aquela rocha foi formada, ou seja, quando magma se transformou em rocha.

Claramente, as informações obtidas a partir das datações radiométicas representam um desafio enorme à cosmovisão criacionista. Muitos criacionistas defendem que a vida foi criada já pronta há alguns milhares de anos, num período recente, se compararmos as idades apresentadas pelas datações radiométricas. Essa é uma razão que pode levar alguns cristãos a aceitar a narrativa da cosmovisão evolucionista no que chamamos de criacionismo progressivo e no evoteísmo*.

No entanto, algumas evidências encontradas nos fósseis e na natureza tem levantado questionamentos importantes a respeito do papel que processos lentos e milhões de anos teriam no surgimento da diversidade de vida e na formação dos fósseis.

Evidências de um evento rápido

Muitas vezes, os dados fornecidos pelas datações radiométicas podem ser inconsistentes com evidências de que algumas camadas de rochas sedimentares tenham se depositado rapidamente e não em milhões de anos. Uma dessas evidências é a falta de erosão que encontramos entre as camadas de rochas sedimentares. Se existe um intervalo de milhões de anos entre uma camada e outra, era de se esperar que houvesse sinais de erosão, como raízes de árvores, sinais de escoamento da água da chuva, erosão do vento, entre outros. Mas o que acontece, na realidade, é que esses sinais de erosão não são encontrados, o que nos leva a acreditar que essa deposição ocorreu de forma rápida.

Outra evidência interessante, que desafia os processos lentos do tempo, vem de fósseis encontrados na formação Pisco, uma região desértica no sudeste do Peru. Nesse depósito estão milhares de cetáceos (grupo das baleias e golfinhos) enterrados em extratos depositados no que foi um dia uma baía de pouca profundidade. Além dos cetáceos, foram encontrados focas, leões marinhos, tartarugas e pinguins fósseis muito bem preservados.

Alguns dos esqueletos de baleias estão parcial ou totalmente desarticulados, mas os ossos estão conectados e agrupados, indicando que houve pouca perturbação dos ossos antes de serem enterrados pelo sedimento. Esses animais foram encontrados em posição de vida, ou seja, de barriga para baixo, indicando um soterramento rápido.

Fóssil de baleia preservado com detalhes excepcionais, na Formação Pisco, Peru (Foto: Maura Brandão)

Já foram feitos estudos para verificar os processos que ocorrem após a morte de baleias no oceano. Se a baleia tem um alto nível de gordura em seu corpo, ela tem a tendencia de boiar na superfície por mais tempo e servir de alimento para animais como tubarões e outros animais carnívoros. Ao afundar, seus ossos que também são ricos em gordura, servem de alimento para animais menores. Eles podem ser colonizados por invertebrados marinhos como moluscos bivalves, crustáceos, esponjas, corais, entre outros. Se as baleias fósseis da formação Pisco tivessem sido soterradas ao longo de muito tempo, era de se esperar que sinais como esses fossem encontrados.

Os fósseis encontrados no Peru não indicam sinais desse tipo de deterioração, não são encontrados com outros invertebrados, nem apresentam sinais de erosão causadas pela água. As evidências dizem que não houve tempo para esses processos acontecerem. É quase como se tivessem sido soterradas vivas.

Preservação ao longo do tempo

Outra estrutura que foi incrivelmente preservada é a barbatana ou “barba” das baleias. Essa estrutura faz parte do aparato filtrador, que permite as baleias se alimentarem, já que elas não possuem dentes. Elas são feitas de queratina, substância que está presente nas nossas unhas e cabelos. Em condições normais, as barbatanas se desprenderiam do crânio da baleia e desapareceriam em questão de dias ou semanas, mas nos fósseis de baleias da formação Pisco há cerca de 37 exemplares com essas estruturas incrivelmente preservadas.

Imagem menor: cerda bucal ou barbas de baleias que não possuem dentes. Na imagem maior, cerdas preservadas em fóssil de baleia, na Formação Pisco, Peru (Foto: Maura Brandão)

Os fósseis encontrados na formação Pisco, no Peru, mostram que ao observar os processos que acontecem no presente, especialmente no caso das baleias fósseis, não conseguimos ver como eles podem explicar satisfatoriamente a incrível preservação dessas estruturas em baleias que teriam sido soterradas ao longo de muito tempo. Os modelos de sedimentação que temos atualmente não explicam como esses fósseis teriam se formado e se preservado excepcionalmente, com tantos detalhes. Evidências e dados fornecidos por esses fósseis apoiam que em alguns aspectos, os processos que ocorriam no passado possam ter sido diferentes do que vemos no presente.

A geologia atualmente explica a formação dos fósseis como processos lentos ao longo de grandes períodos. Ao mesmo tempo, ao estudarmos evidências como aquelas que os fósseis do Peru nos fornecem, vemos indícios de uma história diferente. Observamos a possibilidade de taxas de sedimentação mais rápidas, inclusive com a presença de grandes catástrofes, indicando que a escala de tempo considerado poderia ser bem diferente.


* Criacionismo progressivo é a ideia de que Deus teria realizado seu processo criativo em vários momentos e não em uma semana de dias literais, ao longo de milhões de anos na sequência que encontramos na coluna geológica. Já o evolteísmo aceita as ideias da teoria da evolução de Darwin, afirmando que Deus teria realizado seu processo criativo, sendo a causa da origem da primeira forma de vida simples, e que teria usado a seleção natural para guiar o processo responsável pelo surgimento da diversidade de vida que temos hoje.

Referências:

[1] Raúl Esperante. Tiempo, fe y ballenas fóssiles. Diálogo Universitário 16, nº 2 (2004) 5-7. 12. Raúl Esperante, Leonard Brand, Kevin E. Nick, Orlando Poma, Mario Urbina.

[2] Exceptional occurence of fóssil baleen in shallow marine sediments of the Neogene Pisco Formation, Southern Peru. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 257 (2008) 344–360.

Maura Brandão

Maura Brandão

Ciência e Religião

As principais descobertas da ciência analisadas sob o ponto de vista bíblico

É bióloga formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) e doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com ênfase em Patologia, trabalhando com poluição atmosférica e os efeitos na saúde. Atuou como coordenadora do Origins Museum of Nature, localizado no Arquipélago de Galápagos, onde realizou atividades de apoio à pesquisa, grupo de estudos com a comunidade local e atenção aos visitantes do museu. Também é membro da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), NULON-SCB. É co-criadora e co-produtora do Origens Podcast, podcast de divulgação de ciência, disponível nos principais agregadores de áudio. Atualmente é professora de Biologia na Educação Adventista no Norte de Santa Catarina.