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Coluna | Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Os Assírios e a Praça da Sé

Todos ficamos chocados com a notícia do corpo que foi esquartejado em São Paulo há algumas semanas. Apesar de filmes, livros e jogos de video game estarem se tornando cada vez mais mórbidos diante de um público de pessoas (muitas delas crianças) cada...


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Todos ficamos chocados com a notícia do corpo que foi esquartejado em São Paulo há algumas semanas. Apesar de filmes, livros e jogos de video game estarem se tornando cada vez mais mórbidos diante de um público de pessoas (muitas delas crianças) cada vez maior, ninguém está preparado para encontrar uma cabeça dentro de um saco plástico, em uma praça pública, como a Praça da Sé, em São Paulo.

Permita-me falar um pouco de um exército que estava mais do que acostumado com decapitações. Seus soldados e líderes militares, sendo o maior deles o rei, eram especialistas em cometer atrocidades contra os moradores e líderes de cidades conquistadas. Estou me referindo aos assírios. Veja o que o rei assírio Assurnasirpal II, que reinou entre os anos 884 – 859 a.C., escreveu:
“Eu construí uma coluna contra a cidade deles, arranquei a pele de todos os chefes que se revoltaram contra e cobri a coluna com a pele deles. Emparedei alguns dentro da coluna, empalei alguns em estacas na coluna, e amarrei outros em estacas ao redor da coluna. ... Cortei os braços e pernas dos oficiais, dos oficiais reais que se rebelaram. ... Queimei muitos cativos de entre eles a fogo e levei muitos cativos. Cortei o nariz, as orelhas e os dedos de alguns; furei os olhos de muitos. Fiz uma coluna com os vivos e outra de cabeças, e amarrei suas cabeças aos troncos das árvores ao redor da cidade. Queimei no fogo seus jovens e servos. Capturei vinte homens vivos e os emparedei nas paredes de seu palácio.” (Geoffrey T. Bull, The City and the Sigh: An Interpretation of the Book of Jonah, 109 – 110)

Assurnasirpal II não foi o único rei sanguinário daquele império. Na imagem abaixo, um outro rei, Assurbanipal (668-627 a.C.), desfruta de uma agradável refeição com sua esposa, em seu jardim. Na primeira árvore à esquerda pode-se ver uma cabeça pendurada. Na inscrição que acompanha essa foto é nos dito que aquela é a cabeça de Teuman, rei de Elam (a Elão bíblica mencionada nos livros de Daniel, Ezequiel e Jeremias).

rei Assurbanipal (668-627 a.C.)

Assurbanipal (668-627 a.C.)

Como você já sabe, foi para essa nação que Deus enviou o profeta Jonas, um livro repleto de profundas reflexões teológicas. Uma delas é: Como Deus poderia estar disposto a perdoar os pecados de uma nação como Nínive, a segunda capital do império assírio? O amor de Deus é muito profundo para tentarmos explorá-lo. É muito vasto para tentar entendê-lo. Os versos finais do livro de Jonas demonstram claramente o interesse divino em salvar aqueles que estavam perdidos naquela grande cidade. E de fato, Nínive foi poupada da destruição.

Mas os ninivitas fracassaram em viver de acordo com a luz que eles haviam recebido do profeta Jonas, e experimentaram um reavivamento apenas transitório. Por causa disto, Deus enviou outro profeta, Naum , com uma mensagem de condenação, não mais de arrependimento. De acordo com o profeta o instrumento da destruição de Nínive seria o próprio Deus (1:2-3, 8, 14-15). Ele é constantemente apresentado na obra de Naum como um Guerreiro, uma figura militar que luta contra aqueles que O resistem. Para Naum, Deus puniria a violência (2:12; 3:1, 4), a idolatria (2:14), os negócios desonestos (3:16), o materialismo (2:9; 3:4) e a crueldade (3:19) daquela nação.

Vivemos numa sociedade violenta? Idólatra? Existem pessoas desonestas, cruéis e materialistas? As práticas que causaram o furor de Deus contra Nínive são as mesmas dos nossos dias. Se Ele puniu tais práticas há mais de 2500 anos, não seria um pensamento estranho imaginar que Ele fará o mesmo com aqueles que se envolvem nesse estilo de vida. E pior: muitos dos que dizem ter experimentado o amor divino estão absorvidos em alguma dessas ofensas. Ao invés de apontarmos o dedo para os ‘ninivitas’ da nossa sociedade, vamos dar uma boa olhada no espelho e avaliar se estamos vivendo de acordo com a luz das Escrituras Sagradas.

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

FÉ RACIONAL

Arqueologia bíblica e filosofia.

Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2007). Trabalhou como Capelão e Professor de Ensino Religioso no Colégio Adventista de Esteio, RS, e como Pastor Distrital em Caxias do Sul e em Porto Alegre, RS. Atualmente está fazendo seu mestrado em Arqueologia do Oriente Médio e Línguas Semíticas na Trinity International University, nos EUA. Marina Garner é Mestrando em Filosofia da Religião na Trinity International University e Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2009). Sua área de pesquisa é Filosofia da Religião.